Indústrias digitais no Brasil crescem graças às feiras feitas em ambientes virtuais

Um ano antes do fim definitivo da Segunda Guerra Mundial em 1945, alguns dos políticos e estudiosos da sociedade mais célebres da época se reuniram por três semanas para discutir os rumos do mundo quanto à questão econômica. Hoje conhecida como Conferência de Bretton Woods, a reunião que teve lugar na cidade que dá nome ao encontro no estado de New Hampshire, localizado no nordeste dos Estados Unidos, ditou os novos paradigmas que formaram boa parte das bases de política pública e de regime de negócios que conhecemos hoje em dia.

No primeiro grupo encontra-se o incentivo ao comércio internacional. O fim último era o de eliminar as barreiras protecionistas que impediam o trânsito de bens, serviços e capital entre nações, que acabava incrementando também as tensões políticas e econômicas entre países. Atrás disso estava o padrão ouro-dólar, que dava a estabilidade necessária à economia da época ao estabelecer restrições quanto à variação cambial que impedia guerras cambiais.

Tal estabilidade pode ter acabado em 1971, com os Estados Unidos dando fim ao padrão ouro-dólar. Entretanto o comércio internacional continuou a ser um dos aspectos mais importantes da economia mundial, com empresas multinacionais expandindo fronteiras e entrando em países que antes encontravam-se “fechados” para o resto do mundo por inúmeros motivos.

Isso inclui o Brasil, cujo protecionismo foi deixado para trás a partir do fim da década de 1980. A abertura dos nossos portos trouxe um influxo de empresas e de produtos que antes eram acessíveis apenas aos mais ricos da nossa sociedade, que possuíam os recursos para financiar grandes dispêndios. Essa abertura permitiu que tais produtos ficassem baratos o bastante para se tornar itens de comércio de massa – caso dos nossos equipamentos eletroeletrônicos como celulares e computadores.

Por isso é que o Brasil, com seus mais de 210 milhões de habitantes – muitos deles sendo consumidores de produtos eletroeletrônicos de ponta –, é alvo de algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo. Algumas delas chegam ao nosso país regularmente por meio de feiras de exposição como a Brazil’s Independent Games Festival, evento realizado por aqui desde 2012 e que ganhará uma versão digital por videoconferência este ano.

Gigantes da indústria de jogos reunidos num espaço digital

O BIG Festival terá a sua nona edição este ano, com eventos da feira acontecendo entre os dias 17 e 26 de junho. O evento é organizado pela Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos, mais conhecida como ABRAGAMES, em conjunto com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, também chamada por Apex-Brasil.

No ano passado o evento gerou 65 milhões de reais em negócios entre empresas, que é um dos aspectos mais fortes da conferência. Além de encontros entre empresários e outros membros do setor, o BIG Festival também promove palestras como foco principal em passar lições para desenvolvedores independentes de jogos brasileiros, que geralmente são neófitos no mercado de videogames e que não possuem ainda a expertise necessária para “navegar” os mares da indústria.

Este ano o evento contará também com um campeonato de eSports, que reunirá jogadores amadores de vários games entre os dias 17 e 20 de junho. Os eSports tem se tornado um dos principais fatores dentro do mercado brasileiro de videogames, gerando parte relevante da receita da indústria, estimada em 1,6 bilhões de dólares em 2018 segundo a Newzoo.

Outros destaques são os participantes e os patrocínios do evento. O BIG Festival terá palestrantes representando algumas das grandes marcas de games e tecnologia do mundo, incluindo Microsoft, Google, Supercell e Epic Games. Além disso a conferência conta com patrocínios de Facebook, Nintendo e Unreal Engine, além das supramencionadas Microsoft (por meio do XBOX e do Game Stack) e Google (por meio da loja de aplicativos, Google Play).

Feiras de tecnologia são elemento importante da indústria no Brasil

O BIG Festival é apenas um dos vários eventos que conectam membros da indústria de entretenimento entre si para realizar novos negócios, e criar mais conexões dentro do espaço de trabalho. Reunindo empresas e pessoas que trabalham em âmbito físico e também as que escolheram o formato puramente digital, tais eventos acabam ajudando também a encorajar mais brasileiros a se envolverem nesse mundo de negócios, passando de consumidores para investidores, e até mesmo criadores de produtos de mídia.

Tais eventos acabam por reunir também novos “players” da indústria de entretenimento no Brasil, atraídos pelo crescimento do mercado digital no país. Empresas como a Amazon, que expandiu seus negócios no país em 2019 tanto em comércio quanto no oferecimento de seus serviços, e a Betway Cassino, que oferece jogos de caça-níqueis online de grandes franquias como Game of Thrones e Jurassic Park – e que continua a investir no mercado brasileiro – são muito bem servidas por algumas de nossas feiras de negócio. Um dos melhores exemplos é a Digitalks Expo 2020, que reúne outras grandes empresas do mercado para discutir sobre negócios no mundo digital.

No âmbito mais técnico dos negócios digitais, tratando-se de infraestrutura de redes e outros elementos que sustentam o acesso ao mercado de entretenimento, está a Futurecom, que será realizada entre 27 e 29 de outubro. O evento reúne as maiores empresas de telecomunicações do país, incluindo gigantes do setor de telefonia móvel como a TIM Brasil, além de palestrantes de outros setores cujos negócios estão intrinsecamente ligados à conectividade digital no Brasil.

Outro evento bem famoso dentro da indústria é a Campus Party, que acontecerá entre 9 e 11 de julho. O já tradicional encontro de empresários e consumidores fanáticos por produtos de alta tecnologia reúne também várias gigantes do mercado, além de celebridades do entretenimento digital que dão palestras e entrevistas ao público sobre assuntos do cotidiano e suas próprias vidas.

Perto de feiras nacionais e internacionais, eventos locais como a Frinape, que reúne empresas de múltiplos setores em Erechim, pode parecer pequena. Entretanto, seu valor não pode ser diminuído uma vez que é a partir de pequenos e médios empreendedores que boa parte das inovações e boas práticas que tomam o mercado acabam surgindo.

Facilidade de acesso aumenta graças às feiras digitais

Um dos problemas que as feiras industriais, sejam elas em mercados mais tradicionais ou mais modernos, enfrentavam no passado eram as barreiras de entrada. Dos custos de um ingresso ao fato do Brasil ser um país enorme com mercados relevantes por toda a sua extensão territorial, os empecilhos para os que desejavam participar destes eventos e não dispunham de tantos recursos em mãos eram bem grandes frente à realização de uma visita a uma feira de negócios.

As feiras digitais são uma ótima solução para boa parte desses problemas. Ainda que algumas delas ainda exijam contribuições por meio do pagamento de ingressos para o oferecimento de credenciais, além de deixa-las muitas vezes fechadas apenas para pessoas que são membras ativas da indústria, os entraves advindos de despesas com viagens e estadia são eliminados por elas graças ao advento da internet – tecnologia essa que está longe da perfeição, mas que ajudou (e muito) a eliminar distâncias entre pessoas e negócios.

Eventos físicos ainda são importantes, principalmente em indústrias de bens duráveis como automóveis, e também de bens de capital. Entretanto boa parte das indústrias que movem nossa economia, incluindo até mesmo as mais tradicionais como a de agropecuária, podem fazer a transferência para os palcos digitais sem muitas perdas.

De certa forma, pode-se fazer um paralelo entre feiras digitais e o incentivo à abertura do Brasil para os mercados internacionais na década de 1990. Quanto mais abertas estiverem as nossas portas, melhor é para o nosso ambiente de negócios. E quanto mais pessoas puderem participar das nossas feiras industriais, mais conexões e empreendedores poderão ser criados no processo.

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