Estudo da UFFS aponta baixa representatividade de mulheres cientistas em livros didáticos

De 590 cientistas citados em obras do Programa Nacional do Livro Didático, apenas 16 são mulheres. Para as autoras do estudo, é necessário visibilizar a biografia das pesquisadoras ao longo da história, desconstruindo a ideia de que elas não estão presentes na construção da ciência

Uma pesquisa com livros didáticos da área de Ciências da Natureza (física, química e biologia) do ensino médio, aprovados no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), mostra que, de 590 cientistas citados nos livros, apenas 16 são mulheres. O estudo foi conduzido em 2022 pela professora Sinara München, da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) Campus Erechim.

Foram analisados nove livros didáticos que estavam em uso em uma escola pública da Região Norte do Rio Grande do Sul. Os livros compõem três coleções. Além de indicar a disparidade entre homens e mulheres cientistas presentes na obra, a pesquisa ainda mostra que:

– dentre as imagens de cientistas que estão nos livros analisados, apenas uma é de uma mulher: a da cientista Marie Curie. As outras 107 figuras são de cientistas homens;

– as 16 cientistas identificadas nos livros são predominantemente do hemisfério norte, (totalizando 11 delas), as quais são de origem estadunidense e europeia. As outras cinco cientistas citadas são brasileiras;

– existe um equilíbrio de representação entre a ciência atual e a ciência dos séculos XIX e XX, tendo em vista que nove mulheres cientistas contribuíram e estão contribuindo nas elaborações científicas do século XXI.

Para Sinara, a importância de ter cientistas mulheres representadas nos livros didáticos deve-se à necessidade de visibilizar a biografia das pesquisadoras ao longo da história, desconstruindo a ideia de que elas não estão presentes na construção da ciência.

– Além disso, é importante para que as meninas e as jovens tenham modelos de mulheres cientistas e considerem a ciência como uma profissão a ser escolhida; e também para qualificar o ensino, incluindo todas as pessoas que contribuíram no avanço do conhecimento científico – explica a docente da UFFS.

A baixa representatividade de mulheres cientistas nos livros didáticos se deve, conforme Sinara, a diversos fatores.

– O desconhecimento sobre estas mulheres e a falta de publicações sobre a sua história e trajetória são elementos que certamente estão presentes para os autores dos livros didáticos. A biografia de mulheres cientistas, de forma ampliada, é algo recente. Sempre tivemos mulheres cientistas, mas a ênfase dada as suas contribuições não é e nunca foi a mesma dada aos homens cientistas – explica a professora.

– Há algumas exceções, como Marie Curie, por exemplo, que é um dos nomes mais lembrados. O baixo número está relacionado também a questões culturais e sociais, com o lugar da mulher na sociedade geralmente atribuído ao ambiente doméstico, com o pouco incentivo para as mulheres seguirem carreiras científicas e tecnológicas e com os desafios e impedimentos para avançar na carreira científica.

O estudo desenvolvido por Sinara contou com a participação de quem convive e tem acesso aos livros analisados: a jovem Fabiana Stefanoski, que na época do levantamento cursava o ensino médio, e também a professora Luci Lazzarotto, que atua na Escola de Educação Básica Viadutos, no município de mesmo nome. Fabiana foi bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do Ensino Médio (PIBIC-EM), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e hoje faz faculdade de Engenharia de Produção.

E como fazer para que a mulher cientista tenha mais visibilidade e, consequentemente, estimule outras mulheres a ingressar na ciência? Para a professora da UFFS, os materiais didáticos, como os livros, são um ponto importante devido à ampla difusão em todo o Brasil.

– Mas são necessários diversos fatores que implicam ações institucionais, seja na ampliação de projetos de pesquisa e extensão direcionados ao tema, na divulgação científica, divulgação na mídia, os quais são tão importantes quanto a organização e o fortalecimento de ações institucionais que dão suporte às mulheres pesquisadoras – destaca Sinara, que começou a se interessar pelo tema a partir do momento em que foi mãe e sentiu dificuldades na carreira que antes não existiam para ela.

– A partir dessa vivência passei a estudar o tema e também a pensar em atividades de extensão, pesquisa e ensino que abordassem a temática das mulheres na ciência. O primeiro projeto de pesquisa foi iniciado em 2019 com o tema das mulheres cientistas nos livros didáticos. Me motiva estudar este tema pelo grande desconhecimento sobre as mulheres cientistas que contribuíram para a ciência, e pelos desafios enfrentados pelas mulheres, em especial as mulheres mães, para fazer pesquisa e ciência ainda hoje – completa.

Assessoria de Comunicação (Ascom)

Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim

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