Entrando numa (inesquecível e agradável) fria no Marrocos

Não posso dizer que fui pego de surpresa com o frio que encontrei logo na chegada ao Marrocos, no Norte da África, no último dia 25 de janeiro. Como ‘macaco velho’ em viagens, tive o cuidado de verificar o que as previsões do tempo apontavam para o período de 3 semanas nas quais desenvolveria uma série de atividades pelas terras desbravadas inicialmente pelos bérberes (que, aliás, continuam por aqui).
Enfim, estamos no inverno marroquino e, considerando que o país está a 14 km da Espanha – numa imagnária linha reta cortando o Estreito de Gibraltar – algum frio era esperado, e normal.
Disse, porém, ‘algum frio’; diferente do que o atual ‘muito frio’ encontrado na primeira semana. As temperaturas, que conforme as previsões deveriam estar entre 5 C e 15 C, despencaram para -2 C, em Ouarzazate, meu terceiro destino de viagem (os dois primeiros foram Casablanca e Marraquexe). O lado bom de ter entrado nesta fria é que acabei vivendo um momento especial – com direito a registro de nevasca (que não acontecia há 20 anos por aqui).
A seguir, um resumo desta 1a semana, com informações, curiosidades, dicas e fotos

 

Casablanca, o centro econômico
Embora não seja a capital do país (Rabat ostenta tal título), Casablanca é o centro econômico, onde estão localizados o poder financeiro e o principal porto marroquino.
Do mesmo modo, a cidade que em 1906 tinha um total de 20 mil moradores e que conta hoje com 4 milhões de habitantes é aquela que o turista pode chamar de a ‘mais ocidentalizada’ no Norte da África – retratada já em 1942 no filme ‘Casablanca’, com Ingrid Bergman e Humphrey Bogart (a película, todavia, foi rodada nos estúdios de Hollywood, e não no Marrocos).
Interposto importante, Casablanca foi palco de espionagem durante a II Guerra Mundial, tendo servido, inclusive, para encontros (hoje nem tão secretos) entre figuras do calibre de Winston Churchill e líderes norte-americanos.
Chamada de ‘Cidade Branca’ – os marroquinhos gostam de dar ‘cores’ às suas localidades (Marraquexe é a ‘Cidade Vermelha’ e Chefchaouen, a ‘Cidade Azul’), o que mais chama a atenção em Casablanca, porém, é a imponência ostensiva da bela Mesquita Hassan II. Construída às barbas do Oceano Atlântico, entre 1985 e 1993 (data da inauguração), com um custo total de mais de 500 milhões de Euros (mais de R$ 200 bmilhões), a edificação tem sistema de aquecimento no chão, portas elétricas e resistência sísmica. De quebra, é o templo mais alto do mundo, com 210 metros de altura – sendo, ainda, uma das poucas mesquitas do mundo que permite a visita (guiada) de não muçulmanos.

Como chegar
Há voos diários partindo de São Paulo para o Marrocos – por cerca de R$ 2,8 mil (ida e volta). Casablanca, nesta rota, geralmente, é utilizada como ponto de partida para quem quer desbravar o país africano, bem como para algumas pessoas que conseguem aproveitar as promoções de voo à Europa, oferecidas pela principal companhia do país, a Royal Air Moroc. Detalhe: caso você esteja voando para a Europa e sua escala em Casablanca te obrigue a passar uma noite na cidade, a Royal Air Maroc banca hotel e translatado.
Do aeroporto Mohammed V (que recebe 6 milhões de passageiros por ano), até a cidade de Casablanca a dica é pegar o trem que fica no subsolo do próprio aeroporto. De lá, há três opções de desembarque, sendo duas delas próximas ao Centro (Casa Voyageurs e Casa Port).
Com a temperatura agradável – na casa dos 15 C – desci na última, pois fiquei num hostel aos pés da Mesquisa Hassan II e próximo à Medina (cidade antiga). O custo da passagem foi de 43 Dirhams (algo em tornode R$ 18) e o deslocamento levou cerca de 50 minutos.
Apesar de populosa e em expansão, Casablanca, ou, ao menos seus pontos de interesse, podem ser visitados em um dia – sobrando mais tempo para o restante deste contraditório e fascinante país.

Marraquexe, a Cidade Vermelha: exótica e surpreendente
O choque cultural é inevitável. Estarrecedor.
Ao chegar a Marraquexe, no centro sudoeste do Marrocos e no sopé da cadeia de montanhas do Alto Atlas, nós – ocidentais – somos tomados de uma surpresa que assusta e encanta.
A Cidade Vermelha, assim chamada pela cor característica de suas construções, é uma das quatro cidades imperiais do país (as outras são Fez, Meknes e a atual capital, Rabat) e aquela que atrai o maior número de turistas.
Cosmopolita, Marraquexe surpreende por sua energia criativa -e seus constrastes; enquanto a ‘cidade nova’ passaria bem pelo que chamamos de ‘moderna’, a medina traz uma perdição de sensações que remetem ao passado. As muralhas, os jardins e os palácios finos da idade de ouro são o pano de fundo do fervor cultural, esportivo, artístico e econômico.
Estar em Marraquexe significa a agonia de ter que escolher entre dezenas de atividades oferecidas aos visitantes. Involuntariamente, você se envolverá em um ponto febril de compras, sendo transportado, metros depois, a um ritual de bem-estar em um dos vários spas da cidade.
O turista tem a opção de se misturar na multidão animada em Jemaa el Fna (a praça central da Medina) e terminar a noite em um clube noturno elegante ouvindo os melhores DJs.
Para quem gosta, há a opção de contemplar a natureza junto às montanhas nevadas do Alto Altas, ou, ainda, descer a incrível cadeia rochosa esquiando. Sim, com neve!

Turismo impulsiona economia
Marraquexe é um componente vital da economia e cultura de Marrocos. Os melhoramentos das ligações rodoviárias entre a cidade, Casablanca e o aeroporto local levaram a um crescimento notável do turismo, que no início da década de 2010 atraía 2 milhões de visitantes por ano. Todavia, o habilidoso rei Maomé VI (que tem seu rosto estampado em cada canto do país), atento às portas abertas pelo turismo, traçou como objetivo atrair 20 milhões turistas por ano a Marrocos em 2020, o dobro do número registado em 2012 – sendo, pois, Marraquexe o ‘carro-chefe’ dos olhares e euros/dólares/reais externos.
A cidade é especialmente popular entre os franceses – sendo que muitas celebridades compraram casa aqui, como é o caso dos magnatas da moda Yves Saint Laurent e Jean Paul Gaultier.
Na década de 1990 viviam poucos estrangeiros na cidade, mas os empreendimentos imobiliários cresceram acentuadamente no início do século XXI; em 2005 mais de 3 000 estrangeiros compraram casas na cidade, atraídos pela vida cultural e pelos preços relativamente baixos da habitação. A cidade tem sido chamada de “nova Costa do Sol” devido a ter-se tornado um destino de moda. Não obstante, a maior parte da população é pobre e em 2010 havia 20 000 habitações sem água nem eletricidade.
Apesar da crise económica global que teve início em 2007, o investimento imobiliário progrediu substancialmente em 2011, tanto na área de alojamentos turísticos como na de habitação social. Os principais empreendimentos foram equipamentos turísticos, como hotéis e centros de lazer.
O comércio e o artesanato são de extrema importância para a economia local, baseada sobretudo no turismo. Há 18 socos em Marraquexe, onde além de se vender também se produz artesanato, que empregam mais de 40 000 pessoas, em atividades como latoaria, couro e outras. Nos socos encontra-se à venda uma variedade impressionante de produtos, que vão desde sandálias de plástico até lenços de estilo palestiniano importados da Índia e da China. É usual as boutiques locais venderem roupa de estilo ocidental usando materiais marroquinos.

Praça Jemaa el Fna
A maior atração da cidade é sem dúvida essa praça, considerada o coração da Medina. Todavia, seu traço mais marcante não é, digamos, a praça em si – mas as coisas que acontecem nela. O tal ritmo frenético da cidade é vivenciado nesse local que ao longo do dia apresenta duas faces: Jemaa el Fna de dia e Jemaa el Fna à noite.
Ao redor da praça, voltada para centro, estão as lojas de lenços e souvenires, diversos restaurantes e cafés como o famoso Café de France. De dia há um grande movimento de pessoas passando por ali e também alguns encantadores de cobras, pessoas fazendo tatuagens de henna, barracas vendendo os famosos sucos de laranja. À noite, muitas dessas presenças continuam, mas o ponto alto são as barracas de comidas que se instalam para o deleite de turistas e seus moradores. O som dos instrumentos tocados pelos marroquinos, suas músicas regionais, embalam e tornam o ambiente e cultura tão diferente, razão pela qual o complexo está inscrito como Patrimônio Mundial pela Unesco.
Alguns dizem que a tradução do nome da praça pode significar duas coisas: assembléia dos mortos, por ser lá onde os criminosos eram executados, ou lugar da mesquita desaparecida, pois aparentemente existia ali uma mesquita que por fim foi destruída.

Mesquita Cutubia
A Cutubia ou Koutoubia (em francês), é a maior mesquita da cidade -e pode ser vista de longe, muito longe – o que ajuda na própria localização (e ajuda mesmo!). Situa-se na parte sudoeste da almedina, não muito longe da Jemaa el-Fna, à qual está ligada por uma área ajardinada. Sua construção foi concluída no reinado do califa almóada Iacube Almançor (1184–1199). A curiosidade é que o minarete da Cutubia serviu de inspiração a outras edificações islâmicas importantes, como a Giralda de Sevilha e a Torre Haçane de Rabat.
A mesquita foi construída em pedra vermelha, e o minarete desenhado de forma que do topo não se conseguisse ver o que se passava nos haréns do sultão. É de estilo omíada e tem 77 metros de altura. Originalmente estava caiado de cor-de-rosa, mas na década de 1990 decidiu-se remover o reboco para expor a pedra trabalhada da construção original.

 

Mercado de Marraquexe ou Souks
Dentro da Medina, por onde você passar, encontrará diveras lojinhas de lenços, bolsas, sapatos, alimentos, temperos, souvenires – e, claro, vendedores insistentes. Entretanto, nas ruas que partem da praça Jemaa el Fna, o número de lojas parece se multiplicar – e os vendedores insistentes também. Esses mercados e lojinhas exóticos, atraentes e que transbordam um clima de caos, são chamados também de souks, um tipo de mercado árabe.
E aqui vai uma dica de ‘valor’, literalmente. No Marrocos você precisa ter paciência para negociar. Para quem gosta de barganhar, é uma diversão – produtos que começam ‘custando’ o equivalente a R$ 100,00 podem sair por R$ 20,00, ou menos.
Aliás, faz parte de uma viagem a Marraquexe esta ‘distração’, bem como se perder no labirinto de ruelas e da vida comercial na Medina.

 

Curiosidades:
# Marraquexe é dividida em 5 grandes distritos, chamados também de arrondissements: Medina, Annakhil, Gueliz, Menara e Sidi Yousesef ben Ali. Dentro deles existem subdivisões de regiões, como bairros menores.

# Posso dizer que fim de janeiro/início de fevereiro não seria o melhor período período para visitar a cidade, pois cheguei a pegar 1 C pela manhã. Diria, portanto, que entre abril e maio seriam as datas mais convenientes. Detalhe: estive aqui em outubro de 2010 e quase derreti com Marraquexe a 40º C.

 

Em Ouarzazate, deu neve!
Fazia 20 anos que uma nevasca deste porte não atingia a cidade de Ouarzazate – também chamada de a ‘A Porta do Deserto do Saara’. Um pouco mais longe daqui, em Zagora, a neve caiu depois de meio século. Tudo isso aconteceu na segunda-feira, 29 de janeiiro – data que ficará registrada no coração e na memória da população local, que fez bonecos de neve e posou sorridente para dezenas de milhares de fotos.
O clima, porém, acabou prejudicando quem precisava se deslocar de Ouarzazate para diversas outras cidades, uma vez que o aeroporto local passou a manhã fechado. Rodovias, como a que ligam com Marraquexe também estavam obstruídas e só foram liberadas no meio da tarde.
Fora a neve que caiu surpreendendo a todos, Ouarzazate pode ser considerada uma agradável cidadezinha do ‘interior’ – mas que sonha e investe alto para ganhar ainda mais espaço e dinheiro com o turismo. Além de contar com alguns estúdios de cinema de padrão internacional como o Atlas, o visitante pode visitar a cerca de 30 quilomêtros da cidade um dos palcos preferidos dos diretores norte-americanos: a cidade fortificada de Ait Benhaddou, palco de filmes como O Gladiador, Lawrence da Arábia, A Múmia e Príncipe da Pérsia. O local, aliás, foi declarado Patrimônio Mundial da Unesco, em 1987.
Por Salus Loch / Especial de Marrocos

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