ECONOMIA CRIATIVA EM ERECHIM

Talvez muitas pessoas que vivem em Erechim não tenham presente a reestruturação administrativa realizada pela Prefeitura Municipal no começo deste ano. Uma das ações da Lei Complementar 123, de 21 de janeiro de 2025, foi a alteração do nome da Secretaria de Cultura para “Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Economia Criativa”. Ratifica-se a saída da pasta de Turismo desta Secretaria, alocada na Secretaria que abarca Desenvolvimento e Inovação. Por outro lado, chama a atenção que a Secretaria de Cultura, além de manter a pasta de Esportes, incorpora a Economia Criativa. O que, afinal, é Economia Criativa?

Segundo o Portal da PUCRS, “a Economia Criativa é um processo que utiliza da criação para que as pessoas possam explorar determinado valor econômico. Este conceito foi desenvolvido pelo professor John Howkins no livro “Economia Criativa: Como Ganhar Dinheiro com Ideias Criativas”. A obra foi originalmente publicada em 2001 e traduzida para diversas línguas, inclusive o português”[1]. Ainda, para o Portal do SEBRAE, “diferentemente da economia tradicional, de manufatura, agricultura e comércio, a Economia Criativa, essencialmente, foca no potencial individual ou coletivo para produzir bens e serviços criativos. De acordo com as Nações Unidas, as atividades do setor estão baseadas no conhecimento e produzem bens tangíveis e intangíveis, intelectuais e artísticos, com conteúdo criativo e valor econômico”[2].

Dessa forma, há uma certa valorização da criatividade como parte de uma estratégia de construção de ativos, ou seja, se busca a valorização monetária de iniciativas culturais e inovadoras. Portanto, se valorizam serviços e bens que se originam do esforço inventivo humano no mercado capitalista. Lembrei de uma poesia/canção de Vinicius de Moraes e Toquinho chamada “Para viver um grande amor”, na qual se expressa que é preciso “saber ganhar dinheiro com poesia”[3].

Erechim passa a integrar uma agenda internacional sobre o tema da Economia Criativa, fato que levou o Ministério da Cultura do Brasil a trabalhar a partir de uma Política Nacional de Economia Criativa – o Brasil Criativo[4]. Assim, parece ser um ganho à cidade e um potencial incentivo ao setor cultural, sobretudo pela valorização de expressões artísticas, projetando um maior reconhecimento profissional de quem trabalha com ideias, criatividade e inovação.

Contudo, é importante que não se mercantilize a cultura em nome de um empreendedorismo atomizado sem sólido apoio de políticas públicas. Vivemos em uma sociedade que anda estigmatiza artistas, principalmente os(as) populares. Escritores(as), músicos(as), artesãos e artesãs, entre outros e outras,  têm muitas dificuldades em ter sua arte reconhecida como trabalho e, consequentemente, meio de sustento material.

Segundo o SABRAE, profissionais das áreas de áreas de arquitetura, moda, design, televisão, publicidade, artes cênicas e afins, integram o setor da Economia Criativa. Considerando essa perspectiva, o Ranking de Competitividade dos Municípios/RAIS, divulgado pelo Centro de Liderança Pública (CPL)[5], apresenta Erechim na 59ª posição, com 2,31% de empregos neste setor. Em 1º lugar está Barueri (SP) com 10,64%. A cidade gaúcha mais bem colocada no ranking é São Leopoldo, com 7% de empregos no setor criativo.

Há um espaço importante para crescimento do setor criativo em nosso país e aqui na cidade. O incentivo a eventos culturais e o fortalecimento permanente da Escola Municipal de Belas Artes são iniciativas de curto prazo que podem render bons frutos. Da mesma forma, o incremento da edição anual da Feira do Livro e de agendas culturais em datas como a Páscoa e o Natal podem direcionar de forma firme a diversificação econômica de Erechim em direção ao setor criativo.

Entretenimento, lazer e cultura são partes de um mesmo processo que dialoga com uma vida mais saudável e feliz. Afinal, “a gente não quer só comida, a
gente quer comida, diversão e arte”[6].

Entre aspas

Quando será que a cidade terá novamente o Castelinho? Quem lembra da última vez que esteve por lá? Símbolo da cidade, tem seu futuro incerto. Já passou da hora da cidade ter esse espaço de volta.

Por: Thiago Ingrassia Pereira

Professor da UFFS Erechim

Coordenador do Projeto de Extensão “Dizer a sua palavra”: democratização da cultura popular e da comunicação

 

 

thiago.ingrassia@uffs.edu.br

[1] https://online.pucrs.br/blog/economia-criativa

[2] https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/o-que-e-economia-criativa,3fbb5edae79e6410VgnVCM2000003c74010aRCRD

[3] https://www.viniciusdemoraes.com.br/br/poesia/texto/275/para-viver-um-grande-amor

[4] https://www.gov.br/cultura/pt-br/assuntos/noticias/minc-lanca-diretrizes-da-politica-nacional-de-economia-criativa-nova-secretaria-tambem-e-anunciada

[5]https://www.instagram.com/p/DFoEK95v9ru/?utm_source=ig_web_button_share_sheet&igsh=MzRlODBiNWFlZA%3D%3D

[6] “Comida” (1987), Titãs. Ouça aqui: https://www.youtube.com/watch?v=hOyt4cwjVns

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