04 - Banner online E - 1181 x 374

Desestímulo no campo

Idealmente deveria existir um equilíbrio, com preços remuneradores para os criadores e acessíveis aos consumidores

Há menos de duas décadas projetava-se que o Brasil seria uma potência global da exportação de lácteos, assim como ocorreu com grãos e carnes. Um dos maiores beneficiados desse movimento pretensamente irrefreável seria o Rio Grande do Sul, por ser um dos Estados brasileiros protagonistas da atividade, exercida especialmente em dezenas de milhares de pequenas propriedades. A realidade hoje é bem diversa do cenário previsto, com uma crise sem precedentes, a qual tem levado cada vez mais criadores a abandonar o ofício. Investimentos industriais significativos acabaram ociosos.

Pecuaristas e entidades do setor sustentam que as dificuldades recrudesceram por força de uma enxurrada de importações, em especial do Uruguai, mas também da Argentina, que colocou os preços abaixo dos custos. A razão, alegam, seriam benefícios aos tambos dos países vizinhos concedidos pelos governos, tornando notadamente o leite em pó mais competitivo. Devido a regras do Mercosul, o Brasil não pode impor barreiras tarifárias no bloco. Como paliativo, foi anunciado na semana passada, em Brasília, apoio de natureza tributária a indústrias que adquirirem matéria-prima local. Deve-se esperar para ver se haverá impacto no mercado.

Os números apresentados em reportagem de Marcelo Gonzatto publicada na superedição de Zero Hora são eloquentes. As dificuldades atuais apenas acentuam um período de crescente desestímulo. Desde 2015, ano a ano o Estado perde propriedades dedicadas à atividade. Eram 84 mil produtores, hoje são somente 33 mil. O rebanho diminuiu em um terço, mas a produtividade por animal cresceu. Por fim, conseguem seguir no negócio apenas os produtores mais estruturados, com capacidade para investir e mecanizar as tarefas, em um cenário de escassez de mão de obra. Enquanto isso, somente neste ano, de janeiro a setembro, as importações subiram 70% em comparação a igual período de 2022.

O consumidor hoje é beneficiado pela conjuntura, encontrando um produto mais barato nos supermercados. Deve-se refletir, no entanto, se esse desencorajamento, com a desistência de mais produtores, não levará a uma situação contrária no futuro. A lei da oferta e da procura, afinal, é implacável.

Idealmente deveria existir um equilíbrio, com preços remuneradores para os criadores e acessíveis aos consumidores. Um dos caminhos seria elevar de fato as exportações nacionais de lácteos, o que estimularia a produção interna. Estudos apontam, no entanto, problemas no país como falta de competitividade concernente a custos, questões sanitárias e qualidade média do leite insuficiente em relação às exigências internacionais no que se refere a rendimento industrial.

Deve-se lembrar que o leite, ao gerar renda mensal no campo, é fator determinante para a permanência das famílias em suas pequenas propriedades no meio rural. Sem essa fonte de receita, o destino de muitos é a cidade, o que gera o risco de mais problemas sociais urbanos.

Por GZH

Você pode gostar também

  • https://cast.youngtech.radio.br/radio/8070/radio
  • https://jornalboavista.com.br/radioculturafm/
  • Rádio Cultura Fm - 105.9 Erechim - RS