Descontentamentos na abertura da Festa da Uva

E se o chapéu servir usa!

Sabem aquele termo, “senta que lá vem textão”? Pois é, achei a colocação bem conveniente quando resolvi escrever sobre a abertura da Festa da Uva, os descontentamentos, cobranças e mal entendidos, até agora não comentados. O coordenador Cultural da Festa da Uva, Charles Oldoni, em nome dos grupos culturais, disse que o pontapé inicial foi 2001, em frente ao Castelinho e tão logo o evento cresceu, tornou-se a segunda maior festa do Estado, porque além da comercialização, levou para avenida o resgate da cultura, cantos, danças e, a maneira alegre e festiva dos italianos.

“Conquistamos o título de segundo maior desfile cultural étnico do Rio grande do Sul. Em 2013, a comissão decidiu que a grande festa seria realizada a cada dois anos, bem como a escolha da corte. Já no ano que não haveria festa, aconteceria a comercialização. Em 2015 o evento veio acompanhado de um grandioso desfile, com 11 carros alegóricos e 32 alas, levando 20 mil pessoas para a avenida e mil desfilaram. Grupos de todas as etnias e municípios do Alto Uruguai participaram. Escolhemos a corte que exerceria o mandato até 2017 e em 2016, só tivemos comercialização com atrações culturais. É claro, não tivemos o festival do vinho e jantares típicos, por motivos alheios a nossa vontade. As áreas de uva diminuíram, talvez por falta de assistência e incentivo. Por outro lado, nasceram às cantinas, filós e passeios rurais. Mas, devemos aprimorar e sempre estivemos abertos, porque juntos, com respeito e humildade podemos evoluir”, disse, ao relembrar a trajetória da festa.

Neste contexto, destaco partes do pronunciamento de todos aqueles que fizeram o uso da palavra no ato de abertura da festa:

Rainha da Festa di Bacco, Andreia Carla Cechet

“Começamos o ano homenageando aqueles que colonizaram Erechim. A cultura italiana foi uma das primeiras que trouxe para a região os costumes, gastronomia e principalmente a videira, que até hoje garante o sustento de muitas famílias que aqui se instalaram. Cada um tem um papel essencial nesta construção, por isso queremos cada vez mais mostrar o que produzimos e o quanto nossa região é rica. Só podemos planejar o futuro, se conhecermos nosso passado”.

Representando a família de Adão Centenaro e Celso Nossal, Maristela

“A família Centenaro tem origem em São José do Ouro e produziu uva a vida inteira. O meu nono veio para cá há 51 anos, já tinha parreiral e ele deu continuidade, ampliando e dando sequência nas atividades com meu pai e tio. Participamos da festa desde a primeira edição, quando era no Castelinho. É uma forma importante de comercialização e divulgação, traz a oportunidade de uma venda maior”.

Deus Bacco, Mauricio Viccini

“Por vezes nos desencontramos com a Festa di Bacco, por diferenças e divergências. Se um dia o município não apoiar este evento, eu vou sentir muito, prefeito Luiz Francisco Sch-midt. Temos origens dos nossos pais, é um estímulo à uva, é tradicional.

Também agradeço por terem arrumado um pouco as estradas, principalmente a ligação da rodovia 480 com a 420. É claro, muito ainda precisa ser feito, pois ficamos 15 anos esquecidos”.

Coordenador do Sutraf, Adilson Schadi

“Neste ano tínhamos a perspectiva de uma grande festa no centenário, mas infelizmente não é o que conseguimos e não foi o proposto. Talvez por falta de diálogo e descontentamento dos produtores. Precisamos retomar a festa com mais ânimo, com um caráter melhor, para que todos tenham entusiasmo. Talvez, falte fomento e incentivo aos agricultores. Precisamos manter um contato mais próximo com o poder público para que a festa avance, assim conseguiremos realizar um grande desfile, não somente comercialização, pois a festa não se resume aos passeios e venda”.

Gerente Regional da Emater, Gilberto Tonello

“Nosso objetivo é dar sequência as atividades rurais. Se tratando de uva, temos uma preocupação especial com Erechim, pois está diminuindo a área de cultivo. Precisamos repensar essa matriz produtiva, pois através dela as parreiras se difundiram nos municípios da AMAU. Através do diálogo e planejamento, vamos conseguir levar condições de produção”.

Secretário de Agricultura, Leandro Basso

“A cultura da uva é uma lição por si só, quem se dispõe a plantar sabe que tem que ter paciência, vai ter um momento que vai olhar para o vinhal e não terá folha nenhuma, estará adormecido, tem que passar pela poda, desbaste e ser cultivado. Com certeza estamos num momento de poda pela realidade que o país vive, pelo destino que os tributos e impostos tomaram. Neste exercício de poda a gente se renova. Quem observa um cacho de uva, quem cultiva, ele só se torna bonito quando os grãos estão unidos, pois um cacho de uva ralo é feio, o último que você compra no mercado. A formatação do cacho é uma lição de vida para a sociedade. Cada entidade, cada um de nós, é um grão de uva. Qual a minha parcela de contribuição, ela agrega, faz o cacho ser mais bonito? Enquanto poder público, vivemos um tempo que requer muita sabedoria. Que Deus nos de sabedoria para encontrar a melhor festa que podemos produzir, de forma unida, igual os grãos da uva”.

Presidente da Câmara de Vereadores, Rafael Ayub

“Sabe-se o quanto difícil tem sido manter as pessoas nas suas produções no interior, mas temos que batalhar, pois a agricultura ainda é a propulsora da economia e do desenvolvimento. Temos que encontrar maneiras de estimular a produzirem cada vez mais, com segurança, para que a gente possa ter resultados e uma comida de qualidade em nossa mesa. Tive a oportunidade quando estive a frente do Hospital Santa Terezinha, em ser o primeiro hospital público a adquirir produtos da agricultura familiar. Um incentivo a agricultura, a comercialização, mas é claro, só isso não basta”.

Prefeito de Erechim, Luiz Francisco Schmidt

“Somos uma cidade italiana, numa região italiana, todos nós casamos ou temos na família um italiano. Mesmo sem perceber, sete dos 10 secretários são de família italiana, dos outros três, um tem a mãe italiana e dois, são casados com italianas. A sociedade é tal qual um cacho de uva, como disse o Basso, os grãos de debaixo e em cima, tem a mesma importância na composição. Nós todos temos a obrigação de construir, o que não temos certeza é que vamos avançar na velocidade que gostaríamos que tivessem todos os eventos. Mas, temos a obrigação de paulatinamente construir um pouco mais, mesmo que em alguns momentos, alguns agricultores, não entenderam o momento e acabaram se afastando. É papel de todos nós aproximarmos. A sociedade só vai avançar se todos puxarem no mesmo sentido. Um exemplo é a Aurora e Cooperalfa, eles vieram para ficar, com vontade de investir e, nossa gente os trata como estrangeiros. Nós temos que acreditar na nossa história e assim como acolhemos nossos pais, avós, temos que acolher aqueles que chegam aqui com vontade de trabalhar”.

Por Carla Emanuele

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