Crise no PL gaúcho dificulta articulações para as eleições de 2026

Lideranças acusam o comando do partido de centralizar decisões e favorecer aliados; “não cumpre sua função institucional”

O caldeirão em ebulição que se tornou o PL gaúcho está prestes a explodir a um ano das eleições de 2026. Lideranças acusam a direção do partido de centralizar as decisões, excluir instâncias e favorecer os seus – resultando, com isso, na ausência de uma instituição partidária.

A crise dentro da sigla não é novidade, mas se tornou pública em 2024, na véspera das eleições municipais, com a saída de Ricardo Gomes, ex-vice-prefeito de Sebastião Melo (MDB). Os problemas tiveram início com a chegada do deputado federal Luciano Zucco na sigla e a sua indicação para presidir o partido em Porto Alegre.

Nesta altura, o PL já tinha se comprometido em manter a dobradinha vitoriosa entre Melo e Ricardo. Alas do partido, no entanto, ensaiaram voltar atrás nos arranjos e passaram a externar vontade de apresentar candidatura própria – indo contra a ala que comandava a sigla na Capital antes da chegada de Zucco. Está feito o racha.

Ante o desgaste, a ideia da candidatura própria foi vencida e, em julho, o partido indicou o nome de Betina Worm para compor a chapa com o emedebista. Mas as rusgas se mantiveram – e vêm aumentando.

A forma como Zucco tem atuado dentro da sigla incomoda alguns deputados e prefeitos. Líder da oposição na Câmara dos Deputados e uma das personalidades da direita mais próxima do ex-presidente Jair Bolsonaro, o deputado utiliza da sua influência em Brasília para ‘impor’ decisões, segundo interlocutores. Um dos exemplos seria um direcionamento maior de recursos para candidaturas aliadas a ele nas eleições de 2024.

O deputado, por sua vez, contesta as críticas, alegando que se resumem a um único desafeto, e atribui a sua vinda para a sigla aos bons números conquistados nas eleições de 2024, principalmente na Capital. “Sou uma pessoa que aceita todas as críticas. Temos o apoio da grande maioria do partido, com algumas exceções, mas maioria dos deputados federais e estaduais estão unidos em um projeto de fortalecer o partido”, afirmou.

Nega, também, que tenha influenciado no direcionamento de recursos durante as eleições municipais, uma vez que não faz parte da executiva estadual. Mas aponta que, como deputado federal, enviou recursos de via emenda parlamentares para todos os deputados da bancada estadual, a fim de ajudá-los com as bases.

Na outra ponta, a avaliação é de que o presidente estadual, o deputado federal Giovani Cherini, faz o mesmo – favorecendo os seus, tomando decisões sem diálogo com lideranças e buscando não entrar em conflito com Zucco – a fim de não se indispor em Brasília.

A animosidade atingiu níveis tão elevados que, no último final de semana, Zucco – que, até o momento, não vestiu a camisa da candidatura ao Piratini, mas têm feito todos os movimentos nesse sentido – promoveu um evento do PL no Litoral sem a presença de lideranças gaúchas de peso, incluindo os outros nove deputados da sigla.

Eleições

É com esse pano de fundo que o partido precisa começar a articular as candidaturas para o pleito do próximo ano. Apesar dos arranjos para majoritária preocuparem, visto que não há diálogo com os demais sobre as articulações, é nas proporcionais que repousa o problema.

Isso porque o modo como as duas lideranças vêm conduzindo o processo ameaça candidaturas já postas, por meio de convites a pré-candidatos em bases já consolidadas que reduziria as chances de reeleição de deputados; além dos boatos, vindos de Brasília, de que os recursos do fundo partidário serão direcionados majoritariamente para os deputados federais candidatos à reeleição.

Assim, as dificuldades podem se refletir não só sobre parlamentares em mandato, mas também para consolidação de nominatas fortes.

Apesar disso, a direção do partido minimiza os problemas e reforça que a sigla terá chapa majoritária com nomes para o governo e Senado. Com a certeza de Zucco para o Piratini, Cherini diz que, agora, estuda os nomes para o Congresso. O deputado federal Osmar Terra, que está de saída do MDB para o PL, é o novo cotado para o cargo. O presidente não descarta alianças com outras siglas, mas acredita que virão depois. A prioridade, agora, é formar as nominatas para Câmara e Assembleia – a começar pelas mulheres.

Quanto às críticas sobre sua condução, é resoluto: “nem Jesus Cristo agradou todo mundo. Eu passo o dia inteiro só cuidando disso (das eleições). Agora, são pessoas (que criticam) que não estão contempladas com os seus interesses, mas roupa suja se lava em casa. Não é na imprensa, nem no jornal. Quem faz isso está querendo sair do partido ou acabar com o partido”. E finaliza: “Tenho o couro grosso já. No Rio Grande do Sul, o presidente do partido é bombeiro”.

A deputada estadual Adriana Lara, vice-presidente da sigla no Estado, também prefere deixar os problemas do partido debaixo dos panos, embora manifeste sua insatisfação em relação a um possível afastamento das bases. “Quando se prepara (um partido) para o pleito, tem que ter a humildade de saber que precisa de todos e não apenas de alguns. Esse é o meu sentimento. Tem que estar disposto a ouvir as críticas, refletir e melhorar, colocando as dificuldades em cima da mesa, fazer a autocrítica”. Mas reforça que a discussão é feita ‘dentro de casa’.

Entre os outros deputados o posicionamento é semelhante: afirmam a solidez do partido para enfrentar as eleições, mas apontam uma ou outra insatisfação. Seja de falta de diálogo ou de sintonia. Reafirmam o trabalho com as bases e acreditam, inclusive, que é por esse meio que a sigla deve ganhar o seu espaço no pleito do próximo ano.

É o que defende o deputado federal Marcelo Moraes, único a explicitar o seu descontentamento de forma direta: “o PL não cumpre sua função institucional e, quando um partido não cumpre sua função institucional, atua como mera extensão do mandato do presidente”.

Por: Flávia Simões –  Correio do Povo

 

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