CONSCIÊNCIA, RECONHECIMENTO E LUTA: Ser e estar professor(a) em tempos estranhos

Que o ano de 2020 não está sendo fácil é algo que este mês de outubro já permite afirmar facilmente. A pandemia do novo coronavírus alterou nossas relações, planos e perspectivas, pois nosso inimigo sequer pode ser visto a olho nu. Esse é um contexto geral, embora as áreas da saúde e educação tenham sido as mais afetadas.

Aliás, saúde e educação são áreas estratégicas que nossa sociedade nem sempre dá a devida importância. Talvez, somente na sua falta. Ou será que todas as pessoas têm presente que o próximo prefeito de Erechim será o administrados das escolas municipais por quatro anos? Portanto, a educação de nossas crianças, ponto central para o que pretendemos ser como sociedade, está em jogo nas eleições, algo muito maior do que o asfalto da rua ou a pintura do meio fio.

Educação não é uma simples mercadoria, assim como nosso voto também não deveria ser. Não somos clientes, mas cidadãos e cidadãs que vivem o município, que trabalham, pagam seus impostos e tem seus sonhos de vida. Praticamente todos os nossos projetos passam, em algum momento e de diferentes formas, pela escola.

Quando trato de escola eu estou pensando desde a creche à pós-graduação. A pandemia serviu para mostrar a importância das escolas e universidades, exatamente pela sua falta. Da mesma forma, esse contexto desafiador de 2020 serviu para dar visibilidade a concepções estranhas sobre o lugar da escola em nossa sociedade. Muitas pessoas deixaram evidentes em seus posicionamentos que enxergam as escolas como “depósitos de crianças”.

Entendo as exigências e insensibilidades do mercado de trabalho que, desgraçadamente, coloca o lucro acima das vidas. Convivemos com a terrível e falsa oposição entre emprego e saúde. Ora, basta um pouco de bom senso para entendermos que um novo contexto nos exige novas atitudes. Do alto de sua posição de classe social, com seus recursos e cuidados garantidos, fica mais fácil fazer carreata pela “liberdade” de comércio e dizer, de forma leviana, que “os(as) professores(as) estão ganhando sem trabalhar”.

Neste dia 15 de outubro, data comemorativa aos(às) trabalhadores(as) que têm na docência a sua profissão, é preciso que possamos refletir sobre o reconhecimento desses(as) profissionais, para além de mensagens em redes sociais e algum presentinho. Achar que professores(as)  não trabalharam durante a pandemia é associar de forma rasteira nosso trabalho à sala de aula, como se o momento da aula significasse a totalidade do nosso ofício. Percebam: quem acha que professores(as) apenas trabalham na sala de aula, também deve imaginar que um atleta apenas trabalha quando corre em determinada prova. Não, nosso trabalho é muito maior do que a aula.

Cumprimente um(a) professor(a) hoje, mas não esqueça de que nossa profissão precisa do reconhecimento da sociedade todos os dias do ano. Não somos melhores do que ninguém, mas também não somos piores. Nada justifica que em nosso país, segundo últimas pesquisas, um(a) professor(a) da educação infantil receber cerca de 20 vezes menos do que um(a) juiz(a). Até onde sei, todo mundo para ser juiz(a) precisou de um(a) professor(a).

Hoje é mais um dia para reafirmar nosso lugar no e com o mundo. O exercício do magistério não é uma mera vocação, mas é uma profissão que exige rigorosa formação, inclusive atualizações permanentes. Quem é servidor(a) público(a) faz concurso de provas e títulos e tem avaliações permanentes. Quem trabalha em instituições privadas, faz processo seletivo e precisa estar atento(a) às normas e cumprir com zelo o seu trabalho.

Portanto, nesses tempos estranhos de pandemia, negacionsimo científico, fake news e sucateamento da educação, temos que resistir e existir enquanto educadores(as). Não precisamos competir com o Google em termos de informações, mas seguimos como profissionais originais do conhecimento. Ao termos consciência do nosso lugar político, entendemos que, tão importante quanto nosso conteúdo acadêmico, é nossa disposição ao diálogo público e à luta pelo reconhecimento da extraordinária tarefa de ensinar e aprender.

Quem sabe, nunca precisamos tanto de bons educadores e boas educadoras, formados(as) com competência pedagógica e espírito público. Como cantou Leci Brandão,

Na sala de aula
É que se forma um cidadão
Na sala de aula
É que se muda uma nação
Na sala de aula
Não há idade, nem cor
Por isso aceite e respeite
O meu professor       

Seguimos com um país a construir. Salve a todos e todas educadores e educadoras!

Por Thiago Ingrassia Pereira

Professor da UFFS Campus Erechim

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