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Chocolate Trento da empresa erechinense Peccin é destaque nos jornais Folha de São Paulo e UOL

Chocolate Trento vira hit nas redes e consumidores temem aumento de preço por causa da popularidade

Grazielle J. tem 17 anos e anda preocupada. “Hoje em dia todo mundo já sabe o que é Trento”, diz a carioca, que cursa o ensino médio e trabalha como atendente de pet shop em Queimados, na Baixada Fluminense. “As pessoas vão comprando mais e mais, e logo, logo, o preço vai aumentar demais”, reclama.

Se você estava fora do Brasil ou preso numa caverna nos últimos meses, talvez desconheça o chocolate Trento, fenômeno das redes sociais fabricado pela gaúcha Peccin. Quem gosta costuma atribuir a paixão à qualidade superior que o doce teria em comparação aos seus concorrentes.

“Sinto que o sabor do chocolate dele não é enjoativo, e nem fica aquele gosto ruim na garganta depois que come. Ele é simplesmente meu favorito atual”, afirma Grazielle, que costuma comer “uns cinco” Trento por semana. “Quase todos os dias eu compro”, diz.

Esse “vício” que o chocolate causaria é até motivo de piada em postagens nas redes sociais. Uma das mais populares mostra um homem “preso espiritualmente” a uma barrinha de Trento.

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Montagem de rede social mostra homem ‘viciado’ no chocolate Trento – Montagem/Twitter

O professor e escritor Gabriel Biasetto, 26 anos, de Bragança Paulista (SP) diz que já chegou a comer dez Trento num dia só. Ele conheceu o chocolate em 2018 por meio do irmão, que costumava comprar alguns na loja de conveniência do posto em que abasteciam o carro.

Alguns usuários do X, ex-Twitter, vêm confessando o medo que de que, por ter se tornado popular, o Trento tenha seu sabor modificado. “De jeito nenhum. A gente não abre mão da qualidade do nosso produto”, afirma Carlos Scarpa, diretor comercial da Peccin.

Ele explica que o Trento já surgiu com 38% de cacau na sua formulação, um número acima dos 25% exigidos pela legislação brasileira para considerar o produto como chocolate, e não “chocolate fantasia”.

“Hoje existe um novo ‘compound’ que é um chocolate hidrogenado, uma ‘gordura sabor chocolate’. Muitas marcas grandes partiram para isso”, diz Scarpa, que acredita que a concorrência esteja de olho em copiar o carro-chefe da Peccin.

A nutricionista Érika Paula alerta para o consumo excessivo de chocolates em geral. “O chocolate em si não é o problema, o problema é o ultraprocessamento dele”, diz.

“Encontramos na fórmula vários outros ingredientes além do açúcar e do cacau que vão influenciar na saúde se consumidos todos os dias. Eles podem por exemplo alterar e influenciar negativamente na microbiota intestinal e servir de gatilho de problemas de imunidade. Também pode ter corantes que já são banidos na Europa, porque podem aumentar o fator de risco para câncer em crianças.”

Érika sugere também que se faça uma avaliação dos motivos que levam a este consumo. “Quando você fixa um alimento como obrigatório na sua dieta, acaba perdendo a relação que pode ter com a comida. De todo modo, Se você tem um consumo alimentar natural com 90% de comida pouco processada, o impacto do chocolate vai ser mínimo. Mas, se tem consumo alto de ultraprocessados, o chocolate pode ser um problema”, afirma.

“Descobri o Trento quando estava passando por uma banca em Icaraí [Niterói, RJ]. Meu namorado comprou pra mim. Eu fiz um ranking de sabores favoritos pra mim: branco com cookies, brownie, duo, morango com chocolate, mousse de maracujá e torta de maçã”, lembra a carioca Grazielle.

“Eu compro normalmente no mercado que tem na esquina do meu trabalho. Na primeira vez que comprei, em fevereiro, era R$ 2. Mas na farmácia que tem aqui na rua está R$ 3, e eu acho caro”, reclama. “Sem dúvida alguma vai aumentar de preço, já estou vendo isso acontecer e a coisa me parece progressiva”, concorda o escritor Gabriel.

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Gabriel Biasetto, 26 anos, professor e escritor, fã de Trento – Arquivo Pessoal

O diretor comercial da Peccin diz que a empresa “vai continuar brigando para ter um preço justo”. “O cacau e o açúcar são lastreados pela bolsa de valores de Nova York, e os dois fazem parte da receita e vêm subindo no mercado. O aumento de preço não é pelo conhecimento da marca ou pela participação dela no mercado, mas pela questão inflacionária”, afirma Scarpa.

Segundo ele, a Peccin tinha um aumento de preço programado para este mês, mas mudou os planos. “Achamos que vale o esforço de não deixar o produto ficar caro e perder esse consumidor, então estamos segurando. Mas não depende só da nossa boa vontade.”

Na contramão da trend, Stefany Monari, de 22 anos, conta que “odeia” o Trento. “Lá no estouro dele, por volta de 2021, eu amava, achava ótimo e barato, estava entre meus favoritos. Aí rolou de uma época eu estar bem mal por questões psicológicas, e minha avó achou uma forma de me consolar, que era me dando vários pra comer, quase que diariamente”, lembra.

“Acho que, com o misto de comer muito e estar em um momento ruim, eu acabei criando aversão ao doce, a ponto de que se eu sentir o cheiro de certos sabores o estômago embrulha.”

Stefany diz que até já tentou “dar outra chance” ao chocolate, mas sem sucesso. “Meu corpo criou aversão”, brinca. “Já rolou de eu ganhar de presente de amigo um Trento e contar que não curtia e ele ficar triste, porque virou quase pecado dizer que não gosta de Trento.”

Há 63 anos no mercado de “candies”, a Peccin bolou o Trento em 2011. A empresa levou mais de um ano para chegar aos primeiros sabores: chocolate ao leite, avelã e creme. A ideia era lançar um produto daqueles que ficam na boca do caixa, ou seja, de consumo imediato.

Atualmente, o Trento tem 13 sabores, incluindo a linha Sobremesas, e em janeiro de 2024 vai lançar novos produtos.

“Vamos inovar em embalagem e em sabor exclusivo”, promete Scarpa, que diz que a marca está atenta às sugestões de novos sabores enviadas pelos consumidores em seus perfis nas redes sociais. “Pode mandar que a gente lê”, afirma.

O Trento não é a primeira nem será a última trend das redes envolvendo comidas. Usuários já surtaram com guloseimas como o Plutonita, chiclete com recheio ácido, e receitas como o dalgoná candie, biscoito coreano da série “Round 6”, da Netflix, ou o bentô cake, que traz recadinhos em sua cobertura, quase sempre com indiretas.

Também já houve a febre do miojo doce, com sabores de chocolate e beijinho. O influencer gaúcho Braian Rizzo, 33 anos, que se define um “sommelier de comidas duvidosas”, viralizou seus perfis do Instagram e Tik Tok comendo as iguarias, e alavancou a carreira a partir dos vídeos.

Fonte: Folha de São Paulo
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