Boate Kiss: Julgamento reabre feridas em busca da justiça

O júri dos réus no processo da boate Kiss já faz parte da história do Rio Grande do Sul como o mais longo da história do judiciário gaúcho superando o julgamento dos envolvidos no caso Bernardo.

No dicionário a definição de justiça é: qualidade do que está em conformidade com o que é direito; maneira de perceber, avaliar o que é direito, justo”, porém no Foro Central em Porto Alegre, o conceito de justiça é relativo. Pais e mães, familiares e sobreviventes clamam por ela e para cada um, justiça tem um significado diferente.

Ao longo de 10 dias do júri os personagens dessa trágica história protagonizaram cenas de tensão e emoção. Os ânimos se exaltaram várias vezes fazendo com que os trabalhos fossem paralisados em muitos momentos.

O papel de cada um

A Rádio Cultura e o Jornal Boa Vista acompanham o júri através do repórter Leandro Vesoloski que chegou a Porto Alegre em 30 de novembro e é o único jornalista do norte do Estado credenciado para a cobertura de dentro do Foro Central. Ao todo 43 jornalistas de todo o Brasil realizam a cobertura do julgamento.

O juiz Orlando Faccini Neto que atuou em Passo Fundo entre 2011 e 2016 e que mandou prender o advogado Maurício Dal Agnol em 2014 conduziu os trabalhos com mão de ferro. Em meio a ânimos acirrados foi o ponto de equilíbrio e com sua sobriedade virou unanimidade. Tornou-se também uma personalidade reconhecida nas redes sociais. Rapidamente viu seus seguidores no Instagram aumentar de 5 mil para 30 mil durante o júri.

Os réus

Elissandro Spohr foi o primeiro réu interrogado. Chorou e afirmou que está cansado.

Querem me prender me prendam. Eu estou cansado, perdi amigos lá”, afirmou o sócio da Boate Kiss. 

Iniciou na noite como integrante de uma banda que chegou a tocar em Passo Fundo. Se fosse perguntado não permitiria o uso de fogos de artificio na boate, contou o empresário. “Acredito que eles pensavam que esse tareco não pegava fogo”, disse Kiko.

Luciano Bonilha Leão voltou a repetir no depoimento o que já havia dito ao vivo no microfone da Rádio Uirapuru. “Tenho a consciência tranquila que não foi meu ato que causou a morte desses jovens. Mesmo sabendo que sou inocente, se tirar a dor dos pais me condenem”, diz Bonilha.

Mauro Hoffmam, empreendedor bem sucedido afirmou que sua entrada definitiva como sócio da boate Kiss se deu em dezembro de 2011. Interrogado diz que pensou em sair da sociedade por causa do problema de isolamento acústico. Mauro disse que tem áudio do MP destacando que não teria provas contra ele.

Não despendi nem um real em favor das vítimas. Não porque eu não quis. Meus bens foram todos bloqueados. Meus negócios foram todos fechados”, contou o empresário.

Marcelo de Jesus dos Santos fechou a fase dos interrogatórios afirmando que que achou que boate estava bastante cheia quando chegou para tocar na noite do incêndio. Marcelo contou que ele e, pelo menos, mais duas pessoas tentaram usar o extintor, mas o aparelho não funcionou com ninguém. Ele chorou ao dizer que não conseguiu combater o fogo.

Testemunhas

Um dos mais esperados depoimentos do julgamento dos réus no processo da Boate Kiss era do ex-prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer. Ele teceu críticas ao trabalho da imprensa e culpou delegados pela forma como conduziram as investigações.

O inquérito foi feito pela imprensa e não por uma investigação sóbria, discreta e respeitosa com as famílias. Parecia que era um desejo de envolver a prefeitura de qualquer forma. De muitos pontos de vista esse inquérito, foi medíocre e espetaculoso”.

Vítimas

Carregados de emoção as vítimas contaram os momentos vividos durante e depois da tragédia. “A última vez que corri foi da morte” disse Kelen Giovana Ferreira, 28 anos. Ela teve um pé amputado em decorrência dos ferimentos.

Delvani Rosso perdeu três amigos na tragédia. “Meus joelhos começaram a enfraquecer. Quando eu fui caindo eu fui me despedindo da minha família e meus amigos e pedindo perdão por alguma coisa que eu tivesse feito. Caí no cão e sentia queimar. Coloquei as mãos no rosto e desmaiei”, diz Rosso.

Vinte e oito pessoas passaram pelo plenário do Tribunal do Júri do caso Kiss, desde 1° de dezembro. Foram 12 vítimas, 13 testemunhas e 3 informantes ouvidos em oito dias, além dos quatro réus que foram ouvidos em fase posterior.

Sete Jurados decidirão o futuro dos quatro réus.

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