Aula Pública do curso de Filosofia da UFFS debate lutas por reconhecimento

Evento lança luz a questões que podem ser aplicadas em diversos grupos, como negros, mulheres, homossexuais e indígenas

Oportunizar à comunidade acadêmica e regional momentos de reflexão sobre a filosofia e suas implicações na sociedade: esse é um dos objetivos das Aulas Públicas de Filosofia, realizadas pelo curso da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim. Na última segunda-feira (11), mais uma ação foi promovida. Dessa vez, o professor Odair Camati, da própria UFFS, falou sobre teorias do reconhecimento e multiculturalismo. O tema é bastante atual, e pode ser aplicado, na atualidade, em diversos grupos que lutam pelo seu reconhecimento, como negros, mulheres, homossexuais, indígenas, entre outros.

Segundo Camati, dentro de uma organização social, nós nos constituímos primeiro enquanto iguais, nos reconhecendo enquanto “portadores de dignidade”. “Isso vai se constituindo a partir das relações que vamos estabelecendo, seja no núcleo familiar, depois na escola, no trabalho, e assim por diante”, explica o docente. “Temos um elemento que é universal e, ao mesmo tempo, um elemento que é particular. Cada um de nós se constitui de uma forma única e exclusiva. E o reconhecimento é a junção desses dois pontos, como reconhecer aquilo que é universal e, ao mesmo tempo, reconhecer aquilo que é particular.”

Sempre que há um desrespeito, tanto em relação ao reconhecimento individual quanto ao coletivo, acontece aquilo que chamamos de “luta por reconhecimento”: quando não nos compreendemos como reconhecidos. E isso gera conflito. Para o professor, aliás, a sociedade se desenvolve a partir dos conflitos por reconhecimento. “A sociedade é, por natureza, conflitiva”, aponta.

“A luta por reconhecimento implica tanto em indivíduos quanto em grupos: temos a luta por reconhecimento dos grupos indígenas, dos homossexuais, das mulheres, dos negros, etc. São, todos, diferentes grupos que, às vezes, não são minorias, como no caso das mulheres, mas que ainda não alcançaram um nível de reconhecimento adequado na sociedade”, fala Camati.

Será que algum dia vamos alcançar tal nível? A resposta, segundo o professor da UFFS, está a caminho. “Não é possível afirmar que um dia haverá uma sociedade em que todos estarão reconhecidos plenamente. É uma dialética. Você constrói para depois desconstruir, para depois estabelecer uma síntese, e assim por diante. Por isso o tema do multiculturalismo: são grupos culturais que estão em busca de reconhecimento porque enxergam que aquilo que eles têm de particular não é valorizado pela sociedade global. Isso gera uma luta por adequado reconhecimento”, explica.

Importante dizer que tais lutas implicam, também, em discussões sobre a possibilidade de redistribuir riqueza e renda. “Ao mesmo tempo em que preciso ter a minha identidade reconhecida, para que esse momento seja efetivado eu preciso dos recursos para alcançá-lo. Não faz sentido nenhum em dizer que eu reconheço o grupo indígena, mas que eles é que devem encontrar uma maneira de se manter economicamente, politicamente, socialmente”. Ou seja: é um movimento duplo. “Ao mesmo tempo em que falamos de teorias da justiça, de como equilibrar o processo equitativo na sua base, e em condições de possibilidade para que todos se desenvolvam economicamente, falamos também em termos psicológicos, sociais e de identidade – seja individual ou coletiva”, finaliza o professor da UFFS.

As Aulas Públicas são realizadas pelo curso de licenciatura em Filosofia. Fique atento à agenda de eventos do Campus para se manter atualizado sobre as próximas ações.

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