Atacado Brasília
A capital federal, cartão postal edificada pela genialidade do arquiteto Oscar Niemeyer e Cia, se transformou, face ao cenário contemporâneo e aos episódios nefastos, no Atacado Brasília.
Recentemente a mandatária do país foi afastada por um processo de impeachment que apreciou, entre outras denúncias, as ditas pedaladas fiscais. Os parlamentares, um a um, de forma nominal, expressaram seu voto, o que transformou a sessão num episódio histórico, tamanha foi à façanha de alguns verbetes.
Seguindo o rito assumiu o Vice-Presidente em consonância com os ditames constitucionais. A princípio, e pela própria alternância, o início de uma nova era. Decorridos uma fração de tempo o titular do maior cargo foi flagrado em um encontro, às escuras e em horário não habitual, com um empresário envolvido em escândalos de corrupção – essa já corriqueira nos arredores do Atacado Brasília.
Versões entraram cena. O fato, amplamente veiculado na imprensa, ganhou robustez e o magnata e seus aliados, como tantos outros de outrora, usaram o expediente jurídico da delação premiada. Soltou o verbo. Certo ou errado o encontro à sombra da luz aconteceu e estremeceu os alicerces do conglomerado – até mala surgiu recheada de farta benesse.
Com o episódio sombrio, ganhou envergadura o afastamento do titular. Denúncia formal foi protocolada para que novo processo fosse instaurado e, para barrar o seu curso, à elite executiva entrou em cena. Mais uma vez o Atacado Brasília aparece como protagonista.
Nesse novo tempo apareceram reformas estruturais importantes para a Pátria amada Brasil, entre elas, a Reforma da Previdência. Todavia, para tal pleito prosperar no emaranhado universo de 594 consultores (81 senadores e 513 deputados), de diversas tinturas, há a necessidade de votos mínimos, e outra vez entra em cena as promoções, agora, no estilo “Black Friday”.
A falta de credibilidade oriunda de fatos às avessas enfraqueceu a demanda que não encontrou guarida suficiente nas casas plurais. Os próprios integrantes da alta cúpula do atacado esmorecem e as promoções não foram suficientes para garantir os indicadores necessários.
Fragilizado, envolvido em denúncias e preocupado com o futuro próximo, o executivo da corporação desiste da proposta. Pasmem, não bastasse o já veiculado, surgem novos ocorridos. Eis que fato ligado ao favorecimento de empresa começa a ganhar notoriedade o que novamente preocupa as lideranças do complexo.
Em tese, e seguindo as práticas habituais, novas promoções serão necessárias para coibir o avanço. O atacado se prepara para abrir suas portas com arrasadoras ofertas. Os consultores entrarão em cena para apresentar seus produtos. O Atacado Brasília pode conquistar, fruto das suas habilidades e, é claro, das suas dádivas, novos dividendos.
Vivenciamos, infelizmente, tempos de promoções. As demandas tão necessárias a Nação não conseguem avançar no cenário de fartos negócios e, talvez, quem sabe, de credibilidade arrasada – fator preponderante para mudanças na estrutura do ente.
Contudo o ano de 2018 será atípico. Copa do Mundo e eleições estão no calendário. Acredito, no quesito ano eleitoral, que o retrato clama por melhores escolhas. Impõem reflexões e análise criteriosa dos currículos que serão apresentados para gerenciar nossos destinos, sob pena, caso não venha a ser observado com rigor que a pauta requer, do colossal Atacado Brasília continuar triunfando no ramo das negociações, ofertas e promoções.
Diz o ditado popular. “Antes tarde do que nunca”.
Por Jackson Luis Arpini
Cirurgião dentista