ANÚNCIOS DE UM ANO NOVO

“Mas essa é a magia do ano novo, quando aquele relógio marcar meia-noite, todos nós vamos recomeçar. E eu não sei vocês, mas… Eu realmente preciso de um recomeço”

(How I Met Your Friends, 1994, NBC)

 

Bonne Année (francês), Happy New Year (inglês), Frohes neues Jahr (alemão), Feliz Año Nuevo (espanhol), Gelukkige nuwe jaarc (africanêr), são algumas das formas de desejar uma única felicitação que nos aproxima em todas as línguas: Feliz Ano Novo!

Países de todo o mundo celebram o ano que vens, e que já escutamos teus sinais[1]. Por conta do fuso horário diferente e a frente do nosso, a Oceania foi a primeira a festejar o ano novo, seguido do continente da Ásia[2]. Enquanto nós aqui na América Latina esperamos pela vinda do tão desejado ano que chega, alguns países já estão em 2025! O tempo não é curioso? Até mesmo aqui no Brasil temos diferenças no fuso horário, como no estado do Acre que é o último a celebrar o ano novo e a chegar em 2025, tendo duas horas menos que o horário de Brasília (ou seja, se é meio dia em Brasília, no estado do Acre será dez horas da manhã).

“Feliz Ano Novo” também é o nome de um dos livros do escritor Rubem Fonseca, publicado em 1975, julgado pelo regime militar em 1976, sendo recolhido e censurado pelo Departamento de Polícia Federal, sob o pretexto de conter “matéria contrária à moral e aos bons costumes”[3], por apenas expressar em sua narrativa o distante contraste entre o “Ano novo” dos miseráveis e pobres e distância do “Ano novo” dos ricos, tão realista do ponto de vista social.

Quem lê este livro escrito por Fonseca consegue viajar em suas palavras para sentir em pele que existem muitos Anos Novos, mas aqui o que ele coloca em ressalva, o Ano Novo dos marginalizados, que de tantos preconceitos acumulados, realizam um assalto e em um momento dizem “As bebidas, as comidas, as joias, o dinheiro, tudo aquilo para eles era migalha. Tinham muito mais no banco. Para eles nós não passávamos de três moscas no açucareiro”. Mais do que a violência dessa cena (que foi vista com maus olhos pela ditadura), há uma denúncia social daqueles que clamam por uma vida melhor, e que se enfurecem ao perceber a desigualdade e que num ato de tentar ser e ter mais, são vítimas de um sistema e julgados como marginais, sem os ser, apenas sendo humanos.

Enquanto alguns comem o frango, outros são as moscas que rodeiam e pousam sobre a comida. É essa relação que temos no Brasil: eles e os outros. Por que um livro com uma denúncia social tão crua como deve ser foi censurado pelo regime militar? Gostamos de oferecer perguntas sem as respostas para que possamos refletir.

Mais do que qualquer coisa, Ano Novo é tempo de relembrar, e relembrar para nunca mais esquecer as coisas boas, e nunca mais permitir que outras coisas aconteçam: Ditadura nunca mais. Nos cinemas de 2024, foi lançado recentemente o filme “Ainda estou aqui”[4], conta a história de uma família que foi perseguida pelo regime. Uma cena muito marcante é quando um fotógrafo insiste para que a família tire uma foto mais triste, menos sorridente, mas se negam a fazer isso, dizendo “Sorriam. Nós vamos sorrir”, afinal “O fotógrafo reclamava, fiquem mais sérios, mais tristes, mais infelizes. Não queríamos. A irreverência sempre nos inspirou. Observo a foto hoje e vejo nos olhos da minha mãe: quem você pensa que é para nos fazer infelizes? Nos indignamos. Não é a imprensa que nos pauta, nós a pautamos”, diz Marcelo Rubens Paiva.

Entre aspas

A equipe do projeto “Dizer a sua palavra” deseja um Feliz Ano Novo e muita esperança para 2025 para todos e todas os cidadãos e cidadãs erechinenses e da região. Iniciamos 2025 com boas indicações de literatura e cinema brasileiro: O livro “Feliz Ano Novo” de Rubem Fonseca e o filme “Ainda estou aqui”, que é inspirado no livro de mesmo título, lançado em novembro de 2024 mas que já ganhou prêmios como o Green Drop Award, Festival de Veneza: Melhor Roteiro. Que tal valorizarmos a cultura nacional?

Kaylani Dal Medico.

Discente do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UFFS Erechim.

Bolsista do Projeto de Extensão “Dizer a sua palavra”: democratização da cultura popular e da comunicação

kaylanidalmedico@hotmail.com

 

[1] Referência à música “Anunciação”, de Alceu Valença, 1983.

[2] https://www.terra.com.br/noticias/mundo/paises-de-todo-o-mundo-celebram-chegada-de-ano-novo,5b76031b4eb03813b973fc935c755b5di17betd6.html

[3] Resumo do livro: Feliz Ano Novo. http://www.passenaufrgs.com.br/dicas/literatura/feliz-ano-novo-rubem-fonseca-resumo.pdf

[4] Filme “Ainda Estou Aqui”, do Diretor Walter Salles. 7 de novembro de 2024.

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