Venda de carros no RS tem alta de 12,6% em 2018

Negócios aumentaram pelo segundo ano seguido, mas ainda estão longe do patamar anterior à crise econômica

A professora aposentada Nara Manique, 61 anos, resolveu trocar de carro às vésperas do Natal. No último dia 23, a moradora de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, comprou um modelo 2019, zero-quilômetro, e deixou na concessionária seu veículo antigo, de 2010. Depois de fechar o negócio, com pagamento à vista, pôde usar o novo automóvel para ir ao Litoral Norte, onde passou o Réveillon.

— Um ano atrás, pensei em comprar um carro, mas os preços não agradaram. Desta vez, recebi oferta com valor mais baixo e voltei à concessionária. Deu para abraçar o novo preço. O carrinho é maravilhoso — comemora a professora aposentada.

Nara integra a parcela de gaúchos que fez as vendas de veículos acelerarem em 2018, ainda que o desempenho do setor esteja abaixo do registrado antes da crise econômica. De janeiro a dezembro, 144,8 mil automóveis de passeio e comerciais leves foram negociados no RS, alta de 12,60% em relação a 2017. Em termos percentuais, no acumulado do ano passado, o avanço ficou pouco abaixo do crescimento de 13,74% registrado no país. Os dados são do Sincodiv/Fenabrave-RS, que representa as concessionárias e as distribuidoras de veículos do Estado.

Vice-presidente da entidade, Tarso Zanatta avalia que o resultado anima, mas ressalta que o desempenho ainda não alcançou aquele de anos anteriores à crise. O número de unidades vendidas em 2018 é o mais elevado desde 2015, quando 151,1 mil automóveis de passeio e comerciais haviam sido emplacados no RS. Em 2013, o número chegou a quase 248 mil.

— O desempenho foi bem positivo, até superior às expectativas. No Rio Grande do Sul, houve impacto do agronegócio, que basicamente vem sustentando a economia local. Outra questão positiva foi a das vendas diretas para empresas, que vêm crescendo — afirma Zanatta.

Segundo Raphael Galante, da consultoria automotiva Oikonomia, melhores condições de financiamento, especialmente em instituições financeiras ligadas a montadoras, beneficiaram os consumidores em todo o país ao longo de 2018. Para o analista, a retomada da economia, mesmo que em nível aquém do esperado, também serviu de combustível para o avanço nas vendas.

Além dos automóveis de passeio e comerciais leves, o levantamento do Sincodiv/Fenabrave-RS engloba as negociações de caminhões, implementos rodoviários, motos e ônibus. Na soma de todas as categorias, 190,1 mil unidades saíram das concessionárias gaúchas em 2018, alta de 14,41% frente ao ano anterior. O crescimento no Estado foi superior ao registrado no país, que chegou a 13,58%

Devido à projeção de analistas que aponta para retomada mais consistente da economia em 2019, Zanatta estima que os negócios tendem a seguir no azul nos próximos meses. Para ele, o país precisa de reformas para melhorar as contas públicas e elevar a confiança de investidores, o que respingaria de maneira positiva no setor.

— Precisamos de vendas maiores para a rentabilidade também aumentar. Com as reformas prometidas pelo novo governo (de Jair Bolsonaro), indicadores como o de emprego também podem apresentar melhora. O segmento automotivo é muito sensível a isso. Se houver crescimento, o setor tende a avançar — pontua Zanatta.

Galante acrescenta que o calendário de 2019 é outro fator que pode beneficiar os negócios. Na comparação com 2018, haverá menos feriados prolongados. Ou seja, mais dias disponíveis para vendas. Neste ano, das 13 datas comemorativas nacionais (incluindo pontos facultativos), há cinco feriadões. Em 2018, houve 10 feriados que puderam ser prolongados.

— Mesmo se a economia não decolar e andar de lado, só o fato de haver mais dias úteis já deve ajudar — observa o consultor.

Atenção a “gastos fantasmas” e à desvalorização

Antes de comprar um carro, é necessário acender o sinal amarelo e fazer cálculos. O educador financeiro Adriano Severo frisa que interessados na aquisição de um automóvel precisam levar em conta o que ele chama de “gastos fantasmas”. Essas despesas são aquelas que não estão inclusas no valor usado para comprar e licenciar o veículo. Englobam, por exemplo, combustível, estacionamento, seguro e manutenção.

Conforme Severo, em média, a desvalorização anual de um carro é de cerca de 10%. No primeiro ano de uso, pontua o especialista, o índice é ainda maior — em torno de 20% — pelo fato de o veículo deixar de ser zero-quilômetro.

— Ao tirar o carro da concessionária e dar uma volta na quadra, há perda de valor — afirma.

O educador financeiro acrescenta que é interessante eventuais compradores consultarem quem já adquiriu o veículo desejado para tirar dúvidas. Além disso, Severo menciona que comparar modelos de anos diferentes também pode trazer benefícios.

— Os carros mudam de modelo para modelo. Se houver grandes mudanças de um para outro, a tendência é de que o anterior tenha maior desvalorização. Agora, se o modelo novo tiver poucas atualizações, a perda de valor do antigo deve ser menor — explica.

Fonte: Gaúcha ZH

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