Trabalhar é preciso, descansar também

Se procurarmos por entrevistas e artigos publicados ao longo dos anos por médicos, psicólogos, cientistas, notaremos que os mesmos têm opinião praticamente unânime no que diz respeito sobre as jornadas de trabalho e a saúde física e psicológica dos trabalhadores. Segundo eles, para uma vida mais saudável à todos, seria necessário que as pessoas trabalhassem menos e relaxassem mais, passassem mais tempo com a família, com maiores oportunidades de lazer. Apesar disso, o atual ritmo de desenvolvimento, globalização e concorrência nos leva a trabalhar cada vez mais. A exigência é que alguns locais adentrem a noite em atividade para que outros trabalhadores também possam ter tempo de comprar, conhecer ou usufruir. Mas esse aumento no tempo de funcionamento nem sempre reflete em mais vagas de empregos, o que se nota como mais comum é hora extra sendo estocada para garantir futuras folgas.

Estudo realizado pela Universidade de Stanford descobriu que a produtividade por hora decai acentuadamente quando a semana de trabalho excede 50 horas. A pesquisa mostrou ainda que pessoas que trabalham cerca de 70 horas (ou mais) por semana, alcançam a mesma quantidade de tarefas feita por pessoas que trabalharam 55 horas. A universidade também analisou que, quando o trabalhador passa mais tempo com a família, relaxa, conversa, se distrai ou pratica esportes, tem mais ânimo e vigor para regressar às tarefas diárias.

Em países, como Suécia, Austrália e Estados Unidos, jornadas mais leves têm sido tema de debates e já estão sendo praticadas por algumas empresas, com resultados positivos.

Em 2017, na Austrália, o presidente da empresa de consultoria Collins SBA, precisou reduzir sua jornada de trabalho para cinco horas, após sua mulher iniciar tratamento contra câncer e ele precisar ainda dar maior atenção para o filho recém-nascido do casal. Para manter um “equilíbrio” em relação aos outros funcionários, todos passaram a trabalhar cinco horas por dia, sem redução de salário. De acordo com o jornal Financial Times, a redução de horas deu tão certo que a empresa segue trabalhando desta forma até hoje.

Experiência no Brasil

De acordo com o site UOL, no Brasil, o diretor-executivo da empresa de consultoria especializada em produtividade corporativa, TriadPS, Christian Barbosa, reduziu de oito para seis horas a jornada de trabalho dos funcionários de sua empresa de software, a Neotriad, sem que houvesse impacto nos resultados. “O que eles produziam em oito horas produzem em seis horas com a mesma qualidade e eficiência. Só que, com uma jornada menor, sobra menos tempo para a improdutividade, aumentam-se o foco e por consequência a produtividade”, contou ele em entrevista ao site.

A reportagem feita pelo UOL relata ainda que, segundo especialistas em gestão de pessoas, a tendência no mercado brasileiro é de flexibilizar o trabalho, mas sem reduzir a carga horária.

Algumas das alternativas oferecidas pelas empresas no Brasil são o home office, os horários alternativos de entrada e saída e a sexta-feira “flex”, com carga horária reduzida e compensada ao longo da semana. O principal motivador da flexibilidade no mercado brasileiro tem sido as empresas mais jovens, principalmente startups. Por oferecerem formatos de trabalho mais inovadores, essas companhias estão atraindo talentos das empresas globais e forçando a aceitação das mudanças nas mais tradicionais, mas a redução de jornada no Brasil, se acontecer, ainda deve demorar muito.

Produtividade

 O autor do livro Two Awesome Hours (Duas horas incríveis, em tradução livre), Josh Davis, explica a produtividade da seguinte forma. “Digamos que você queira fazer dez mil repetições. A maneira mais “eficiente” seria fazer todas de uma vez, sem intervalo. Mas sabemos instintivamente que isso é impossível. Em vez disso, se fizéssemos apenas algumas flexões intercaladas com outras atividades durante algumas semanas, chegar a dez mil seria mais viável. “O cérebro é como um músculo nesse caso”, escreve Davis. “Se estabelecermos as condições inadequadas com trabalho constante, vamos realizar pouco. Mas se estabelecermos as condições certas, provavelmente não há quase nada que não possamos fazer”.

Um dos nomes mais importantes dos EUA e um modelo de trabalho duro, Benjamin Franklin, devotou tempo à ociosidade. Ele tirava duas horas de almoço por dia, tinha noites livres e dormia bem. Em vez de trabalhar ininterruptamente em sua carreira como dono de tipografia – o que pagava suas contas -, usava “grande parte do tempo” em hobbies e socialização. “De fato, os mesmos interesses que o tiravam de sua profissão levaram-no a conhecer muitas coisas maravilhosas pelas quais ele é conhecido, como inventar o fogão de Franklin e o pára-raios”, escreveu Davis em seu livro.

Com uma jornada de 38,6 horas por semana, por exemplo, o empregado americano médio trabalha 4,6 horas a mais que um norueguês. Mas pelo PIB, os trabalhadores noruegueses contribuem o equivalente a US$ 78,70 (R$ 291) por hora – comparado com US$ 69,60 (R$ 257) dos americanos. A Itália tem uma média de 35,5 horas de trabalho por semana, e produz quase 40% mais por hora do que a Turquia, que tem média de 47,9 horas por semana.

Recente pesquisa mostrou que para pessoas com mais de 40 anos, uma a jornada de 25 horas por semana é o limite ideal para a cognição. A Suíça recentemente experimentou o modelo de seis horas e percebeu uma melhora na saúde dos trabalhadores e produtividade.

Dificuldades

O grande empecilho para implantar a redução das jornadas seria o aumento do custo para o empregador, pois em muitos casos é necessário contratar mais pessoas. Na matéria do UOL, o diretor jurídico da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Wolnei Ferreira, diz nos últimos anos, países como França e Alemanha sofreram com maiores custos e perda de competitividade depois que reduziram as cargas horárias dos trabalhadores. “Esses países reduziram a jornada por acreditar que aumentaria a produtividade, mas não geraram empregos e ainda sofreram com custo maior de mão de obra”, afirmou.

Apesar da afirmação de Ferreira, na Alemanha, a busca segue sendo por equilíbrio entre o profissional e o pessoal do trabalhador. O país vem reduzindo a carga horária de trabalho década após década. “Em 1960, os alemães ocidentais trabalhavam, em média, 2,1 mil horas por ano. Hoje, eles trabalham 1,3 mil horas, menor número entre países desenvolvidos. Grandes empresas limitam e-mails após o expediente. A Daimler, por exemplo, chega a apagar automaticamente e-mails para funcionários em férias”, diz Simon Kuper, do jornal Financial Times, em matéria da Época Negócios Online.

Outros estudos e experiências

 Reportagem da revista Forbes afirma que a jornada de trabalho de oito horas é ultrapassada e ineficiente para a rotina de trabalho nos dias de hoje. E que a produtividade não tem tanta ligação assim com as horas trabalhadas.

Pesquisa da University College London comparou a saúde dos funcionário que trabalhavam até 55 horas semanais com os que faziam 35 a 40 horas, e o observado foi que longas jornadas de trabalho estão ligadas à problemas associados ao estresse, sendentarismo e aumento do risco de doenças cardíacas.

Para Larry Page, fundador do Google, as oito horas de trabalho por dia é uma conta totalmente ultrapassada. Em uma palestra no Brasil em 2014, Page fez uma análise mais profunda do contidiano do trabalhador de hoje. Para ele, a quantidade de trabalho não pode estar acima da quantidade de tempo disponível para o lazer, a família, amigos, para a vida.

Estudo do grupo Draugiem revelou que a quantidade de horas que você passa no trabalho não está relacionada com a produtividade. O que realmente importa, é a forma como cada um organiza suas tarefas. Uma boa maneira de melhorar a produção e organizar melhor o período de trabalho é tirar pequenos intervalos durante o dia.

Para ter um dia produtivo, que respeite a natureza humana, a primeira coisa a se fazer é focar no ritmo de cada um. O entendimento básico é que a mente humana pode se concentrar em qualquer tarefa por 90 a 120 minutos. Após isso, é necessário um intervalo de 20 a 30 minutos para nós nos renovarmos e atingirmos uma boa performance para a próxima atividade.

Em 2014, o conselho da cidade de Gotemburgo, na Suécia, aprovou uma experiência que reduziria para seis horas a jornada de trabalho diária de parte dos funcionários públicos. O teste serviria para avaliar se uma jornada de trabalho menor pode diminuir o número de faltas por problemas de saúde e até melhorar a produtividade.

Um ano após o teste, a jornada reduzida foi aprovada e algumas empresas começaram a adotar as seis horas diárias sem redução de salário para todos. Houve realmente a redução no nível de estresse, e o aumento da produtividade, apesar da jornada reduzida. A única exigência era que os funcionários deixassem mídias sociais, telefonemas e e-mails pessoais para o final da jornada. (fonte do tópico Redação Mundo Positivo)

Horas extras e descanso

 Trocar descanso por horas extras não pagas pode ser um mau negócio para funcionários e empregadores. Segundo o site bbc.com, estudo da universidade de Stanford (já citado neste artigo) mostrou que, alguém que trabalha 70 horas por semana fica incapaz de produzir algo durante as 14 horas adicionais. Estudos parecidos ligaram longas horas de trabalho com afastamentos, perda de memória a longo prazo e diminuição da capacidades de tomar decisões.

A Toyota estipulou um limite de 360 horas extras por ano (ou uma média de 30 horas por mês), enquanto a agência de publicidade Dentsu acabou de lançar um plano com oito pontos (incluindo encorajamento para férias regulares e desligamento das luzes do escritório às 22h) para melhorar seu ambiente de trabalho após o caso de suicídio de um funcionário motivado por exaustão.

Na Alemanha, grandes companhias como BMW e Volkswagen, limitaram o uso de e-mails depois de certo horário para evitar a hiperconectividade. Nos Estados Unidos, bancos de investimento como Credit Suisse e JPMorgan Chase lançaram novas diretrizes de trabalho para dissuadir analistas e associados (especialmente os ‘millennials’) de ir ao escritório nos finais de semana.

O Project: Time Off, desenvolvido nos EUA, descobriu que os “mártires” das longas horas de trabalho têm menos chance de receber um aumento do que seus colegas. A média de trabalho de um funcionário americano empregado é de 47 horas por semana e

“nós descobrimos que as pessoas que tiram mais dias de folga – 11 dias ou mais – são as mais prováveis a receber um aumento do que as que tiram 10 ou menos dias”, diz Katie Denis, uma pesquisadora do projeto.

O bilionário Jack Ma, dono de uma fortuna de US$ 27,6 bilhões, fracassou diversas vezes até conseguir construir o gigante e-commerce chinês Alibaba, e esta semana anunciou que ano que em 2019, aos 54 anos, estará se aposentando e irá se dedicar a filantropia. Ao anunciar sua aposentadoria, Jack Ma destacou: “Eu não vim a este mundo para trabalhar. Não quero morrer no escritório, quero morrer na praia”.

Por Alan Dias

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