A Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Erechim registrou no último sábado, dia 23, mais um marco em sua história, com a formatura dos primeiros imigrantes haitianos. Stéphanie Toussaint formou-se pelo curso de Engenharia Ambiental e Sanitária e Widler Michaud pelo curso de Geografia. Ambos ingressaram na UFFS por meio do Programa de Acesso à Educação Superior da UFFS para Estudantes Haitianos, o Pró-Haiti, que a partir de 2022 tornou-se Programa de Acesso e Permanência a Estudantes Imigrantes (Pró-Imigrante).
Stéphanie conta que concluiu o Ensino Médio no Haiti enfrentando muitas dificuldades financeiras. Mas pela convicção de que a educação seria o caminho capaz de transformar a sua vida, fez um curso técnico em Vigilância Sanitária, buscando uma formação que lhe permitisse ingressar rapidamente no mercado de trabalho e ajudar sua mãe. “Apesar dos meus esforços, passei meses sem conseguir emprego. Foi então que surgiu a oportunidade de vir para o Brasil. Meu namorado havia migrado antes de mim e, após dois anos trabalhando aqui, conseguiu juntar dinheiro suficiente para me trazer”, recorda.
Em 2016 Stéphanie chegou ao Brasil e, após cinco meses, conseguiu emprego. Depois de um ano e dois meses trabalhando, decidiu que era hora de voltar a estudar. Em 2018, iniciou os estudos na UFFS-Campus Erechim no curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, por meio do Pró-Haiti, que na época era voltado exclusivamente para haitianos. “Fui uma das três primeiras estudantes haitianas a ingressar pelo programa no Campus de Erechim, hoje conhecido como Pró-Imigrante. Sinto-me feliz e honrada por ter sido pioneira nesse programa, que atualmente acolhe tantos outros estudantes imigrantes”, comenta.
Como havia feito o curso técnico de Vigilância Sanitária no Haiti, Stéphanie diz que quando viu que a UFFS oferecia Engenharia Ambiental e Sanitária, percebeu que era exatamente o que sonhava. “Durante a graduação, trabalhei para sustentar minha filha (Ashley Sincia Leila Ysmael) e ajudar minha família. Não foi nada fácil equilibrar todas essas responsabilidades. Enfrentei momentos de muito cansaço e dificuldades, mas nunca pensei em desistir. A educação sempre foi meu ponto de apoio e segurança. Agora, como concluinte, sinto-me realizada. Este é um sonho concretizado com muito esforço e fé em Deus”, comemora.
“Tive dificuldades com o idioma, enfrentei reprovações em algumas disciplinas e, infelizmente, também passei por episódios de discriminação racial e exclusão entre colegas. Mas, em vez de desistir, esses desafios fortaleceram ainda mais a minha determinação”, ressalta Stéphanie. Ela afirma que durante a graduação aproveitou todas as oportunidades que a UFFS ofereceu. “Após a minha formatura, pretendo permanecer no Brasil, exercendo minha profissão com dignidade e oferecendo uma vida melhor para minha filha, garantindo segurança econômica para minha família. Também quero dar continuidade à minha formação acadêmica com uma pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho, ampliando minhas possibilidades de atuação e aprofundando meus conhecimentos na área. Além disso, quero ser uma referência para o povo haitiano, mostrando que a educação pode, sim, transformar vidas”, destaca.
Widler lembra que chegou ao Brasil em abril de 2016, mais especificamente na cidade de Porto Alegre, com um visto humanitário. Ele conta que veio para Erechim porque uma prima estava morando na cidade. “A pessoa que recebeu ela me recebeu também, sob a orientação dela”, explica. Três anos depois, em 2019, a esposa de Widler também veio para o Brasil e em 2020 nasceu o filho do casal.
De acordo com Widler, quando surgiu a oportunidade de ingressar na UFFS pelo Pró-Haiti, sua primeira ideia era cursar Arquitetura e Urbanismo, mas por causa do horário das aulas e de todas as responsabilidades envolvidas, acabou precisando seguir para a sua segunda opção, que era o curso de Geografia e não arrependeu-se da escolha. Sobre o período da graduação, ele afirma que “foi uma boa experiência, com muitas lembranças, trabalhos de campo, estágios, etc.”. A respeito do futuro, pensa em retornar ao Haiti, “pois tenho que contribuir no desenvolvimento do meu país”, diz.
De acordo com o diretor da UFFS – Campus Erechim, Luís Fernando Santos Corrêa da Silva, “a formatura dos dois primeiros estudantes haitianos é um marco importante para o Campus Erechim, visto que expressa nosso compromisso com os objetivos do Programa Pró-Imigrante. Também é importante destacar que a presença de estudantes de outros países no campus contribui para aumentar a diversidade cultural no ambiente acadêmico, bem como para promover uma cultura de respeito às diferenças. Ao mesmo tempo em que os estudantes imigrante constroem suas trajetórias de vida na universidade, também contribuem para a construção de uma UFFS mais diversa e socialmente referenciada”.
Por Assessoria de Comunicação