As chamadas férias de julho ou de inverno são momentos em que praças e outros locais públicos da cidade ficam lotados de crianças e jovens em busca de algum lazer. Junto com eles e elas, pais, mães e cuidadores(as) em geral embalam balanços, ajudam nos escorregadores ou conversam, algumas vezes, descontraídos(as). Todo esse movimento, que transforma uma tarde de terça-feira em um final de semana, é pelo simples fato do recesso escolar.
É exatamente pela falta que, às vezes, se revela a importância de certas coisas. O dia de trabalho de adultos(as) sem a escola não é um simples dia. É um momento de ajustes, de saída da rotina e de promoção de novas sociabilidades, ainda que em espaços conhecidos – na casa de vizinhos(as) ou com parentes (para quem tem rede de apoio). Com quem ficam as crianças para os pais trabalharem? Essa parece ser uma das principais questões que “perturbam” a organização da vida por esses dias de férias nas escolas, mas de continuidade da produção material da vida. O Capital não gosta de recessos…
Sabemos que o tempo em que a escola funciona é um tempo indispensável para que os(as) responsáveis trabalhem e façam outras coisas importantes da vida. Logo, ao deixarem todos os dias seus filhos e suas filhas na escola, temos adultos(as) com certo “alívio” em suas responsabilidades familiares. Essa cotutela, essa repartição de tarefas, essa corresponsabilização, torna a escola um espaço não só de aprendizagem de algum conteúdo, mas de comprometimento social. Escola não é depósito de gente e não é um local que substitui outras relações sociais, sendo espaço de construções permanentes.
Por essa importância, seria de se esperar que as escolas fossem espaços “sagrados”, entendidos como uma extensão ou apêndice da própria casa. Isso não torna professoras “tias” – como nos ensina Paulo Freire no livro “Professora sim, tia não” –, mas, sobretudo, potencializa a função estratégica daquele espaço, conjugando cuidado e formação, afeto e ciência. Infelizmente, não é o que acontece em muitos casos, com descaso orçamentário e ausência de reconhecimento aos(às) profissionais da educação.
Durante a pandemia de Covid-19, também ficamos sem escolas funcionando regularmente. Foi um momento de apreensãogeral e que, mais uma vez, tivemos uma chance histórica de “aprender com a dor”, ou seja, perceber com nitidez a importância pela falta. O ensino remoto emergencial e todas as experiências via internet apenas consolidaram, de diferentes formas em seus limites, a importância da escola dita presencial. Seres humanos(as) são produzidos(as) pelo coletivo, nós nos tornamos humanos(as) na convivência com outros humanos e humanas.
Deveríamos ter aprendido, como sociedade, que a valorização da escola é a valorização da vida, é a construção possível de um mundo menos injusto, com mais humanidade e cooperação em detrimento da competição que destrói as pessoas e a natureza. Por isso, não podemos ter qualquer escola, não podemos ter qualquer profissional na educação e não podemos ter qualquer opinião infundada que desmereça essa instituição.
Então, ao passar por uma praça lotada de crianças na nossa cidade por esses dias de julho, saiba que ali está uma “ausência presente”: a escola. Por isso, cabe um sério investimento em equipamentos e espaços públicos que permitam amplo acesso à lazer, esportes e convivência com a natureza, principalmente em áreas com mais carências socioeconômicas. Essa vivência fora do tempo escolar não deve apenas ser interessante a quem tem família que possa pagar por esses espaços em ambientes privados, mas deve ser um direito assegurado a todos e todas.
Assim, como poderíamos responder ao título desse texto?
Entre aspas
Crie, mesmo que seja difícil, espaços para conviver com as crianças em férias escolares, pois elas nos ensinam muitas coisas. Para isso, nem precisa de muito dinheiro ou luxo: basta prestar atenção em um parque cheio de crianças em seu recesso escolar, pois ali tem alegria. Por isso, insisto: temos que realizar investimentos em espaços de lazer e convivência em nossa cidade, democratizando, cada vez mais, um abraço na descida do escorregador.
Thiago Ingrassia Pereira
Professor da UFFS Erechim
Coordenador do Projeto de Extensão “Dizer a sua palavra”: democratização da cultura popular e da comunicação