Vai postar no seu Facebook hoje, dia 15 de outubro, algo em homenagem a sua professora? Vai participar de alguma celebração em sua escola? Quem sabe na universidade tu vais dizer: “feliz dia do professor!”. Se isso acontecer, que bom, tu estarás reconhecendo a profissão mais linda do mundo. É isso mesmo, a mais fundamental desde que o ser humano se entende por sapiens. Educar é humanizar, é socializar, é formar e deformar. Ser professor(a) é algo muito além do que mera vocação, pois é ocupar uma forma especial de ser e estar no mundo e com o mundo. Por isso, o professor e a professora são sujeitos políticos, não necessariamente partidários.
A docência nos coloca entre as pessoas, pois trabalhamos com gente e nos reconhecemos como tal. Nossas professoras, desde a educação infantil, nos marcam decisivamente, nos afetam. Amamos e odiamos o professor. A obrigatoriedade da educação formal ratificou a presença das professoras e dos professores em nossas vidas. E o interessante é que só é possível exercemos a docência depois de muita discência. Em outras palavras: só serei professor(a) porque fui aluno(a).
A despeito de toda essa importância do papel social das(os) professoras(es), poucos(as) jovens querem ter essa profissão na atualidade. Isso é preocupante e um sintoma da contradição entre a importância da docência e sua valorização efetiva. A valorização que me refiro passa muito por salários dignos, mas vai além, considerando as condições de trabalho e o reconhecimento e respeito por parte das famílias, poder público e sociedade em geral.
Todos os dias, milhares de mulheres e homens exercem o ofício de professor(a). Há experiências lindas e construtivas, assim como há violência (objetiva e simbólica). Há escolas públicas e privadas, mas, sobretudo, há escolas que conseguem apostar na liberdade com responsabilidade, em menor burocratização dos currículos e na diversificação de estratégias de aprendizagem.
Por isso, o professor que há em mim saúda o(a) professor(a) que há em ti! Exatamente por amar ser professor é que tem dias em que me afeto por essa condição. Já vivi muitas contradições na minha experiência de uma década e meia de docência, ensinando (e aprendendo!) desde o 5º ano do ensino fundamental à pós-graduação. Convivi com indisciplinas de toda a ordem, algumas legítimas como resistência a um modelo tradicional que está se esgotando, outras resultado das tensões presentes nas sociabilidades cotidianas. Em muitas escolas, somos nós, os(as) professores(as), os(as) primeiros(as) adultos a dizer “não” a uma criança na condição de estudante.
Que esse dia dedicado a algum reconhecimento de nossa profissão não se esgote nele mesmo. Não dê qualquer parabéns a um(a) professor(a). Não parabenize um(a) colega docente se você o(a) chama de “vagabundo(a)” quando, na luta legítima por seus direitos de trabalhar mais e melhor, faz uma greve. Repense seu “parabéns” se tu apóias a chamada “Escola sem Partido”, movimento lamentável de perseguição e censura ao livre exercício da docência. Se tu acreditas que um curso superior de Licenciatura é mais “fácil” do que cursos como Medicina e Engenharias, bem, talvez tua postagem no Facebook seja leviana como são algumas fake news (“notícias falsas) atuais.
Exatamente pela sua importância social e grande investimento em formação científica, não penso que nós, professores(as), não podemos ser criticados(as). A crítica respeitosa e construtiva é excelente e nos ajuda em nosso processo contínuo de formação. Ao tratar do quadro adverso da categoria docente, não vitimizo os(as) professores(as). Há profissionais nessa área qualificados(as) e sérios(as), assim como há aqueles e aquelas que não são. Em todas as profissões isso acontece, não é mesmo?
O Cazuza escreveu e cantou, em determinado contexto, que “mentiras sinceras me interessam”. Não penso ser o caso das possíveis homenagens aos(às) professores(as) no dia de hoje. Em especial, vivemos um dia dos(as) professores(as) em meio ao segundo turno da eleição presidencial. Uma grande forma de homenagear seus professores e suas professoras é votar com responsabilidade em projetos que valorizam, de fato, eles e elas. Fora isso, é como se apegar ao porco que vai ser abatido por ti. Além do quadro em sala de aula, não podemos deixar que apaguem os(as) professores(as). Nem no seu dia e em nenhum outro. A sociedade, mesmo que uma parte dela não entenda, agradece.
Por Thiago Ingrassia Pereira