Na última segunda-feira (16), a Câmara de Vereadores de Erechim mais uma vez optou pelo preconceito e o conservadorismo. Iria ao plenário, para votação na sessão ordinária, o Projeto de Lei de autoria da vereadora Sandra Picoli que institui a menção honrosa “Mulher do Centenário” – uma singela maneira de prestigiar as mulheres que se destacam em projetos sociais no município. O que aconteceu, no entanto, foi uma ode ao machismo e à politicagem em seu mais pútrido significado: a Comissão de Justiça e Redação da Câmara, formada por sete homens (dos quais apenas dois votaram a favor do projeto), retirou o projeto da pauta, sob a infundada e descabida justificativa de que o mesmo faz discriminação de gênero, já que premia apenas mulheres, e não homens.
Conforme o partido PCdoB em nota, vivemos em uma sociedade machista e falocêntrica, isto não é mais novidade. O clássico padrão do homem branco, de classe média ou alta, heterossexual, que jamais passou e jamais passará por qualquer tipo de discriminação racial, sexual ou de gênero, exerce um papel dominante na sociedade, frequentemente se impondo ante os demais meramente por acreditar que tudo lhe é permitido, e que as mulheres não podem exercer qualquer função que não seja relacionada à sua subserviência. Somente o ranço para com a luta das mulheres por uma sociedade mais igualitária explica uma atitude como a tomada pelos vereadores que consideraram inconstitucional o projeto apresentado pela vereadora do PCdoB.
Em sua fala na tribuna e em suas redes sociais, Sandra Picoli se disse profundamente decepcionada com a decisão da comissão, mas não surpresa. “Basta olharmos a composição da Câmara de Erechim para entendermos o que está acontecendo. Dos 17 parlamentares, apenas duas são mulheres”, diz a vereadora. Sandra também vê com indignação a justificativa dada pelos homens que compõe a comissão e votaram contra o projeto. “Existem em Erechim muitas mulheres que abdicam de seu tempo com a família para se dedicarem à comunidade e aos projetos que melhoram a nossa sociedade. Me parece natural que o Legislativo preste uma homenagem ao menos em forma de congratulação, mas aparentemente o projeto discrimina os homens. Ao meu ver, discriminação é o que acontece com a retirada deste projeto”, afirma Sandra.
Apesar de toda a dificuldade, a vereadora reafirma seu compromisso com as causas que considera justas e afirma que insistirá na reentrada do projeto “Mulher do Centenário” na pauta do Legislativo. Caso a Comissão de Justiça e Redação novamente alegue inconstitucionalidade por motivos que fogem ao bom senso e à capacidade de argumentação e diálogo, os meios legais tornar-se-ão a única alternativa de reverter a decisão dos homens, esta, sim, inconstitucional.