Neste mês de julho, um assassinato brutal chocou a Região Norte do Rio Grande do Sul e chegou a ser noticiado em imprensas de Rede Nacional: Um jovem de 16 anos deferiu golpes com uma arma branca em três crianças e uma professora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Nascimento Giacomazzi, localizada no Município de Estação. Uma das crianças acabou falecendo.
Ano passado, no município de Erechim, outra notícia abalou a região: um menino de 11 anos se desentendeu com outro menino de 13 anos e o esfaqueou dentro de uma das escolas municipais da cidade, sendo levado para a delegacia.
Os casos de violência têm um evidente crescimento nos últimos tempos e estão mais perto de nós do que imaginamos, entrando dentro de um lugar que era simbolismo de segurança, direito e educação: a escola.
Profissionais da educação, estudantes, gestores e técnicos que atuam na escolas, ao pisar dentro da sala de aula, não sabem mais se voltarão às suas famílias e esse não é mais um fato isolado, é um fato frequente e crescente, e normalmente quem é o ator de tamanhas brutalidades (na maioria dos casos) são alunos(as) ou ex-alunos(as) das escolas em questão. As perguntas norteadoras desse texto são: Por que nossos(as) jovens e crianças estão matando? Quais são as motivações e os(as) culpados(as) de tamanha brutalidade?
Um material desenvolvido pela Timelens em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta alguns aspectos da violência nas escolas nas escolas, demonstrando uma linha do tempo da violência e seus estopins, confira uma síntese:
Depois da pandemia[1], os casos de violência extrema nas escolas aumentou de 2 para 15, tendo um aumento significativo e seus agentes (em sua maioria) eram meninos. As principais causas desse fenômeno foram vinculadas às redes sociais/digitais e a internet, por conta do uso desenfreado e disseminação de ódio presentes nesses meios. Segundo uma análise de publicações nas redes sociais em 2025, houve um aumento de 360% de posts incitando ameaças à escolas em um comparativo à 2021.
O bullying e o cyberbullying, presentes principalmente no coletivo dos meninos é um forte estopim para tais violências, e uma consequência da falta de apoio e olhar para esses meninos cheios de vulnerabilidades, de uma masculinidade frágil exposta, em uma fase tão decisiva de suas vidas: infância e adolescência.
“As redes sociais não são o problema”, o problema é o que as crianças e jovens estão criando nela, e sozinhos. Dentro de um aparelho portátil/celular, existe um mundo de plataformas, comunidades, emojis e gírias que nós, adultos, não entendemos e que o “controle dos pais” não dá conta. Análises mostram que a maioria das crianças já sabe desativar a segurança dos pais, além de terem mais redes sociais que os adultos.
A maioria dos atentados em escolas foi planejado em plataformas e redes digitais como facebook, instagram, discord e telegram.
Como diria Hugo Monteiro Ferreira, em “A Geração do Quarto”, nossos filhos e filhas entram e se trancam no quarto, vivendo um mundo próprio dentro de seus aparelhos digitais, ligam os computadores e esquecem do restante da vida, sem supervisão. É assim que começa o “surto”.
Entre aspas
Converse com seu/sua filho(a), sobrinho(a), primo(a), estudante, criança e jovem da sua família ou de seu convívio, pois essa violência não começa nas redes sociais, mas sim, no grito não ouvido, na tristeza abafada, no não dito, na presença invisível do pai/mãe/professor(a).
Por: Kaylani Dal Medico
Jornalista (nº 0021729/RS/2024).
Acadêmica do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UFFS/Campus Erechim.
Integrante do Projeto de Extensão “Dizer a sua palavra”: democratização da cultura popular e da comunicação.
kaylanidalmedico@hotmail.com
[1] Todas as informações do texto foram retiradas do material desenvolvido pela empresa Timelens em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Aspectos da violência nas escolas analisados a partir do mundo digital” (2025). Disponível em: https://www.timelens.com.br/violencia-nas-escolas/