Abaixa o braço
Deixa de cena
Lugar de palhaçada é no cinema
Seu Adolfito, pra que tanta valentia
Se nós queremos a democracia?
(Abaixa o Braço, Ataulfo Alves, 1944)
As eleições municipais ocorreram neste último domingo, 06 (seis) de outubro, em todo território nacional, milhares de brasileiros e brasileiras foram às urnas exercer sua democracia e escolher seus e suas prefeitos, prefeitas (administração da cidade), vereadores e vereadoras (elabora as leis municipais e fiscaliza a atuação do Executivo, ou seja, o/a prefeito/a), estes e estas.
Segundo a apuração de votos, no município de Erechim tivemos 59.352 votos válidos e 20.686 entre brancos, nulos e abstenções. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Portal da Câmara dos Deputados, foi estabelecido a partir da Lei nº 9.504/1997[1] (Art. 36, §4º), que os partidos brasileiros são obrigados a reservar 30% das candidaturas para mulheres. A duas décadas que esta cota não é cumprida, e em 2024, é desrespeitada em 700 municípios[2].
Se nós queremos a democracia (um tipo de governo em que os cidadãos participam igualmente das decisões, direitos e deveres), e a população brasileira é composta por cerca de 104,5 milhões de mulheres e 98,5 milhões de homens (IBGE, 2022)[3], sendo a maior parte dos nossos representantes homens, é realmente difícil falar de uma equidade de gênero (visando combater discriminação e a desigualdade de gênero, reconhecendo suas particularidades mas mantendo seus direitos iguais).
A mulher que já chefia a família brasileira[4], precisa apropriar-se de espaços para falar de e com outras mulheres, não apenas de cargos políticos mas ser participante de lutas e movimentos nesse sentido, e não apenas no sentido de ah, então precisamos ter uma mulher qualquer fazendo políticas, mas sim alguém disposta, valente e que tenha consciência política crítica, com no mínimo conhecimento sobre, é disso que estamos falando, que fale por si, e não se deixe manipular pelo partido dos homens.
Nesse sentido, falo com um leve otimismo, vendo o cenário dos vereadores e vereadoras eleitos/as, a primeira na lista da apuração de votos (a pessoa que mais ganhou votos entre os demais vereadores), foi uma mulher.
Para um município da vigência de 2020/2024 que tinha apenas uma mulher na Câmara dos Vereadores, agora temos 4 eleitas vereadoras, que ocuparão 4 das 17 cadeiras, virando um marco histórico para a cidade.
Agora, mais do que nunca, é um período de resistência para as mulheres erechinenses, a equação fracionária da política não tem apenas um numerador masculino, sempre haverá denominadoras, substantivas e de identidade feminina.
Entre aspas
Muitas vezes, por conta do machismo estrutural, a maior justificativa para as mulheres não estarem na política é porque este é um “espaço para os homens”, e que as mulheres não têm vocação para isso. Este é um grande equívoco e sexismo, por muito tempo as mulheres foram privadas de participar da política por decisões dos homens, mas hoje, 30% das cotas é uma reparação histórica da violência cometida e negação dos direitos das mulheres. Por mais mulheres no poder! As mulheres têm de garantir que os homens não ocuparão as vagas destinadas a elas. Assim é que possibilitamos inspiração para as meninas erechinenses ocuparem cargos de liderança, “eu quero ser igual a ela”.
Kaylani Dal Medico.
Discente do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UFFS Erechim.
Bolsista do Projeto de Extensão “Dizer a sua palavra”: democratização da cultura popular e da comunicação
kaylanidalmedico@hotmail.com
[1] https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9504.htm
[2] https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/secretarias/secretaria-da-mulher/noticias/cota-de-genero-e-descumprida-em-mais-de-700-municipios-brasileiros-nas-eleicoes-2024
[3] https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18320-quantidade-de-homens-e-mulheres.html#:~:text=Os%20resultados%20do%20Censo%20Demogr%C3%A1fico,da%20popula%C3%A7%C3%A3o%20residente%20no%20pa%C3%ADs.
[4] GROSSI, Miriam Pillar; MIGUEL, Sônia Malheiros. Transformando a diferença: as mulheres na política. Revista Estudos Feministas, v. 9, n. 01, p. 167-206, 2001, p. 174. Disponível em: http://educa.fcc.org.br/pdf/ref/v09n01/v09n01a10.pdf Acesso em: 06 ago. 2024.