O número de pedidos de demissão teve aumento expressivo no primeiro bimestre de 2025 no Rio Grande do Sul. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), compilados pela Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (Fgtas), as saídas voluntárias totalizaram 125.159, o que equivale a 45% dos desligamentos do Estado durante os dois primeiros meses do ano – que somaram 275.102.
Esse dado representa uma alta de 20% em relação ao mesmo período de 2024, quando o número de desligamentos a pedido do trabalhador foi de 104.316 (42% do total) – uma diferença de 20.843 a menos do que neste ano. Esse aumento reflete uma tendência crescente de profissionais que optam por deixar seus empregos em busca de melhores condições e novas perspectivas de carreira.
O segundo tipo mais frequente foi a demissão sem justa causa, com 99.160 (36%), seguido de demissão por término do contrato de trabalho por um prazo determinado, com 42.170 (15%). Depois disso, aparece a demissão com justa causa, que representou apenas 2% dos desligamentos do período (4.349).
Para o diretor-presidente da Fgtas, José Scorsatto, a crescente desses números reflete uma mudança no perfil dos novos trabalhadores, que não aceitam trabalhar em um ambiente tóxico ou que tem horários inflexíveis e expedientes prolongados. A tendência é que eles tenham cada vez mais facilidade de deixar o emprego atual por conta de outra proposta mais atrativa.
“A maioria desses trabalhadores provavelmente está pedindo para sair por ter achado outra oportunidade. Hoje, com a internet e as redes sociais, também ficou mais fácil de empreender e começar o seu próprio negócio”, complementa José Scorsatto.
Outra questão que Scorsatto considera determinante é o fato de que ser um trabalhador CLT hoje não é mais uma garantia de estabilidade. Apesar de assegurar direitos trabalhistas como férias remuneradas, licença maternidade e seguro-desemprego, quem ingressa no mercado de trabalho atualmente não tem certeza de quando vai conseguir se aposentar, por exemplo.
Perfil de quem pede para sair
Quanto ao perfil destes trabalhadores, a Fgtas aponta que os desligamentos a pedido são relativamente mais frequentes entre os mais escolarizados. Entre as saídas voluntárias do primeiro bimestre do ano, 53% foram de pessoas com ensino médio completo. Além disso, para trabalhadores que têm ensino superior completo, os pedidos de demissão têm uma diferença de 8% em relação ao total de desligamentos.
Esses casos também se concentram entre os mais jovens. A faixa etária que lidera as estatísticas é a dos 19 aos 29 anos, com 48% dos pedidos, seguida da faixa dos 30 aos 39 anos, com 25%. De acordo com o diretor-presidente da Fgtas, isso também reflete uma questão geracional: trabalhadores mais jovens estão menos dispostos a se submeter a ambientes de trabalho e situações abusivas.
Dados de 2024
Em 2024, o Rio Grande do Sul contabilizou 1.539.296 admissões e 1.475.850 desligamentos, totalizando saldo de 63.446 postos de trabalho. Do total de desligamentos, 40,9% foram realizados a pedido do trabalhador. O ano passado foi o primeiro em que as saídas voluntárias registraram o maior índice desde a implementação do Novo Caged em 2020. Naquele ano, 52% das demissões foram sem justa causa; 27% foram realizadas a pedido do trabalhador e 16% foram motivadas pelo término do contrato por prazo determinado.
O RS fechou o ano de 2024 como o 5º estado com o maior número de desligamentos a pedido do trabalhador no país e o 6º com a maior proporção de demissões a pedido em relação ao total de desligamentos. Além disso, de acordo com a análise realizada pela Seção de Informação e Pesquisa da Fgtas a partir dos dados do ano passado, os desligamentos a pedido são relativamente mais frequentes entre os mais escolarizados, se concentram entre os mais jovens e são mais frequentes entre trabalhadores brancos (em 2024 a porcentagem foi de 71,4% dos casos).
Percepções sobre o mercado
Uma pesquisa especial realizada pelo Serasa avaliou a percepção do trabalhador brasileiro a respeito do mercado de trabalho e futuro profissional às vésperas do Dia do Trabalhador. O levantamento mostra que, apesar de descontentes com salários e baixa oportunidade de crescimento, mais da metade dos entrevistados se dizem satisfeitos com a posição que ocupam (63%) e otimistas sobre o futuro da carreira (59%).
Por outro lado, 21% dos trabalhadores que participaram da pesquisa sentem falta de oportunidades para crescer no trabalho. Entre os motivadores para quem busca uma nova oportunidade no mercado, os que mais aparecem são salário melhor (32%) e qualidade de vida (27%).
Outra questão abordada foi a preocupação a respeito do futuro das profissões, considerando o espaço que a Inteligência Artificial tem ganhado. Em meio às incertezas, os trabalhadores se mostram mais apreensivos com os rumos da economia (38,7%) do que a possibilidade de serem substituídos por máquinas ou tecnologia (34,5%).
Por: Cecília Martini – Correio do Povo
supervisão da jornalista Karina Reif