O Mapa do Trabalho Industrial apresenta estimativa de que o Brasil terá que qualificar 10,5 milhões de trabalhadores até o final de 2023. O dado foi revelado pelo deputado Paparico Bacchi (PL) na tarde desta quinta-feira (28), quando ocupou o período do Grande Expediente da sessão plenária da Assembleia Legislativa para falar sobre “O Ensino Técnico – Oportunidade para jovens, desenvolvimento para o Rio Grande do Sul. “A notícia é uma ótima oportunidade para os nossos jovens. Que as nossas instituições estejam preparadas”, comemorou na tribuna.
No decorrer de seu pronunciamento, no entanto, ele lamentou o preconceito existente em relação à carreira técnica no Brasil. Políticas públicas equivocadas, em seu entendimento, teriam criado pressupostos culturais no imaginário nacional que tendem a desmerecer o profissional técnico em relação ao de formação superior. O resultado seriam indicadores de formação técnica no Brasil na contramão da maioria dos países desenvolvidos. “Enquanto aqui apenas 11% dos alunos do ensino médio optam pela formação técnica, o indicador encontra patamares muito diferentes em países como Alemanha (45%), Reino Unido (63%) e Finlândia, impressionantes 72%”, enumerou o parlamentar.
Referência mundial em ensino técnico, a experiência da Alemanha foi analisada pelo orador, que ressaltou a parceria que o país europeu mantém com o setor privado para a formação conjunta dos trabalhadores pela escola e pela indústria em todos os níveis. “Mesmo as escolas que não são consideradas profissionalizantes, oportunizam, desde cedo, a visita dos estudantes às empresas conveniadas e incentivam a realização de estágios. As indústrias são organizadas de forma a garantir a inserção dos estudantes em seu dia a dia, sem riscos à integridade física e à produtividade”, relatou.
Embora os salários sejam mais altos para quem tem diploma de curso técnico, cerca de 60% das empresas, segundo o parlamentar, têm dificuldades para preencher vagas nesta área. Estudo da Fundação Getúlio Vargas, citado por Paparico Bacchi, mostra que pessoas que cursaram o ensino técnico possuem 38% de chances de conseguir um emprego de carteira assinada e uma remuneração 13% maior do que aquelas que não fizeram um curso profissionalizante.
Já pesquisa do Serviço Nacional da Indústria (SENAI), que no Rio Grande do Sul oferece mais de 30 cursos técnicos, também mencionada pelo parlamentar, indica que o indivíduo que possui esse tipo de qualificação tem menos chance de ficar desempregado do que os demais trabalhadores. Ainda segundo o SENAI, sete em cada dez alunos formados pela instituição conseguem emprego no primeiro ano após a conclusão do curso.
Revolução tecnológica
A revolução tecnológica e o advento da internet, que demandam cada vez mais profissionais com domínio de tecnologias, foram outras razões elencadas pelo parlamentar para defender a ampliação e mais investimentos no ensino profissionalizante. “A qualificação profissional por meio de cursos rápidos e vivências através de trilhas propostas para o Ensino Médio com certeza poderão contribuir para ampliar os horizontes dos estudantes, mas isso jamais substituirá a sólida formação profissional integrada de acordo com cada região, observando os diversos arranjos produtivos”, alertou.
Ele defendeu também a volta das mostras e feiras de educação profissional e a aprovação do Projeto de Lei 164/2019, de sua autoria, que dispõe sobre a gestão democrática no ensino público, por meio de livre organização em cooperativas. “A ideia é apoiar a criação de cooperativas escolares, que promovam a gestão de atividades produtivas e a geração de renda nas respectivas unidades educativas de produção. É fundamental que haja uma legislação que permita que a escola possa fazer convênios e gerir suas economias internas”, justificou.
Paparico lembrou ainda que recentemente a bancada federal gaúcha aportou, por meio de emenda, R$ 30 milhões para 25 escolas técnicas agrícolas e duas de agronegócio, beneficiando mais de cinco mil estudantes. Os recursos possibilitaram a aquisição de equipamentos como plantadeiras pantográficas de arrasto, tratores, caminhões, camionetes, espalhadores de esterco e laboratórios de informática, além de impressoras e notebooks.
Outro assunto tratado pelo parlamentar foi o Projeto de Lei 39/2020, também de sua autoria e já aprovado em três comissões permanentes da Assembleia Legislativa, que estabelece normas sobre Segurança, Prevenção e Proteção contra Incêndios nas edificações e áreas de risco de incêndio no Rio Grande do Sul. “Com a aprovação dessa proposta o parlamento devolve aos técnicos industriais uma atribuição que eles já possuíam quando tinham os seus registros no CREA”, justificou.
A deputada Luciana Genro (PSOL) e os deputados Dalciso Oliveira (PSB) e Luiz Fernando Mainardi (PT) se manifestaram por meio de apartes.
Antes do Grande Expediente, o presidente do Conselho Regional dos Técnicos Industriais do Rio Grande do Sul, Ricardo Narbes, foi homenageado por Paparico Bacchi com a Medalha da 55ª Legislatura do parlamento gaúcho.
Matéria: Olga Arnt