A série de desmandos e outros absurdos perpetrados pela antiga direção daquela que já foi uma das maiores cooperativas do Brasil, a Cotrel, levou a ‘grande família’, há pouco mais de uma década, ao fundo do poço. A série de desmandos e outros absurdos perpetrados pela antiga direção daquela que já foi uma das maiores cooperativas do Brasil, a Cotrel, levou a ‘grande família’, há pouco mais de uma década, ao fundo do poço. Sem crédito e enterrada em dívidas, que pulverizaram o patrimônio da instituição, a Cotrel, hoje nas mãos da Central Aurora Alimentos, quase fechou suas portas no ano de 2005, dragando com ela uma região inteira. Poucos sabem, porém, que uma das mais importantes reuniões para que a cooperativa não extinguisse as atividades naquele período ocorreu sem alaridos ou fotos para jornais. Nem tampouco houve discursos inflamados de quem mais queria aparecer na mídia do que colaborar para que alternativas fossem criadas. A referida reunião-jantar teve como sede o sítio do então presidente da ACCIE, Jaci De Lazeri, e contou com a presença dos juízes do Trabalho, Marcelo Porto e Luis Antônio Mecca, credores da Cotrel, a nova direção da cooperativa que ora assumia, Luiz Paraboni e Nelson Girelli, e produtores. Também estive lá e pude acompanhar de perto os esforços de cada um para salvaguardar o interesse maior, que era comum a todos: os empregos dos trabalhadores dos frigoríficos e a manutenção da produção no campo. Nas palavras do juiz trabalhista Marcelo Porto – uma das figuras-chave para a construção do entendimento – o encontro no sítio apontou o norte do que seria confirmado numa reunião posterior, já na Fundação Cotrel, com a presença das forças produtivas e políticas da região: a manutenção da cooperativa era vital (em que pese algumas lideranças defenderem o encerramento das atividades). Porto apresentou as consequências da eventual extinção da cooperativa – deixando claro que os associados seriam também responsáveis pelas dívidas da instituição. Para o anfitrião da reunião, empresário Jaci De Lazeri, aproximar as partes interessadas e manter firme a posição de que a Cotrel precisava sobreviver àquele momento para, então, buscar parcerias a fim de sair da delicada situação, era incumbência precípua da ACCIE. Assim, foi dada sobrevida à Cotrel – o que permitiu manter os empregos e a produção no campo. Logo em seguida a Aurora atracou em Erechim – investindo, lucrando e garantindo novo fôlego à economia local.O cardápio – que alimentou a acertada decisão daquela noite no sítio – foi salmão. E aqui cabe uma ressalva: o salmão oferecido por De Lazeri foi proveniente do Oceano Atlântico, que, diferente do salmão encontrado no Pacífico, tem, pelo menos, uma sobrevida após sua procriação.
# Para lembrar: No começo de 2017 a Central Aurora Alimentos, de Chapecó (SC), 3º grupo agroindustrial de carnes do país, assumiu definitivamente as unidades frigoríficas da Cotrel. O valor da aquisição de R$ 108 milhões será pago em cinco anos, com recursos próprios e, parte, com financiamento BNDES. As duas plantas adquiridas pela Aurora – um frigorífico de aves e um de suínos – são objeto de parcerias desde 2005. A partir de setembro de 2007, a operação passou a ser de arrendamento. A Aurora também decidiu comprar as marcas Nobre, Nobreza, Da Fazenda e Capone que eram de domínio da Cotrel. Atualmente, a unidade de abate e processamento de frangos tem capacidade para 26,7 milhões de cabeças ao ano e mantém 1.345 trabalhadores diretos. A unidade de suínos, com previsão de ampliação da produção em 2018, tem capacidade para 418 mil cabeças ao ano com 1.151 empregos diretos. As duas plantas respondem por 7,8% da receita operacional bruta do conglomerado Aurora. Juntas, sustentam cerca de 2,5 mil empregos diretos.
Por Salus Loch