Os menos de 80 quilômetros que separam os municípios de Ronda Alta e Passo Fundo, no norte gaúcho, tornaram-se insignificantes frente à distância entre a conduta de agricultores familiares e de milícias no dia 23 de março, por ocasião da passagem da Caravana do ex-presidente Lula pela região. Naquela manhã, milhares de agricultores promoveram, em Ronda Alta, organizada pela Fetraf, uma afetiva recepção ao líder político na unidade de produção da família Pasquetti, beneficiada por ações que reconheceram e alavancaram a atividade de 380 mil famílias gaúchas que garantem 70% de tudo o que chega à nossa mesa. Nos governos Lula e Dilma, a renda do setor cresceu mais de 50% a partir da ampliação do crédito, seguro, assistência técnica e incentivos à comercialização.
O crédito aumentou dez vezes, de R$ 2,3 bilhões em 2002 para R$ 24 bilhões em 2014. Em seu discurso, Lula manifestou inconformidade quanto à reação em alguns pontos do roteiro, a exemplo de Bagé e Santa Maria, cenário da imagem mais triste e ofensiva destes dias de forte exposição de tendências fascistas, em que um homem ataca um manifestante pró-caravana com um relho. Lembrou e admitiu o ex-presidente que os ruralistas não têm razões objetivas para odiá-lo ou para reclamar de seus governos, já que usufruíram do aumento de programas, financiamentos, da renda da população e do consumo. Lula ainda não sabia, neste momento, que não cumpriria o próximo ponto de sua agenda. Milícias bloquearam a RS 324 para evitar a passagem da caravana em direção a Passo Fundo, queimaram pneus sobre a pista, arremessaram ovos e pedras contra veículos que nada tinham a ver com a atividade sob o olhar de paisagem das forças de segurança. Seguiram orientados pelas mesmas ferramentas empregadas desde o acesso da caravana ao Rio Grande do Sul, comprovando tratar-se de manifestação organizada e financiada, com objetivo ideológico claro e muita disposição para o confronto. Exerceram comportamentos que, no dia seguinte, a senadora Ana Amélia Lemos exultou e elogiou, possivelmente encorajando o que veio a seguir: um atentado à bala contra um dos ônibus da caravana.
O que emergiu e que vimos in loco naquela manhã no trecho entre Ronda Alta e Passo Fundo foi uma imagem de atraso, de trevas, de brutalidade, de preconceito e ódio de classe. De um tempo de ataques à democracia e de saudades da ditadura e de governos que olham para apenas uma direção da pirâmide social. Arrisco afirmar que tudo isso traveste o medo de que a renda dos brasileiros volte a ser melhor distribuída, de que a distância entre Ronda Alta e Passo Fundo volte a ser encurtada.
Por Deputado Altemir Tortelli