Na manhã da quarta-feira (30), data em que Erechim completou 107 anos de Emancipação Político-Administrativa e o Jornal Boa Vista celebrou 23 anos de existência, Egídio e Fábio Lazzarotto da Rádio Cultura FM e do Jornal Boa Vista, mediaram um debate na Câmara de Vereadores. O evento, transmitido ao vivo pela Rádio Cultura e pelas plataformas digitais do jornal — pioneiro no jornalismo online do interior gaúcho —, reuniu lideranças para discutir os desafios e oportunidades do município.
Os destaques da trajetória
O presidente do Legislativo, Fifo Parenti, enalteceu a importância do debate e os aniversários comemorados: “É na Casa do Povo que se discutem os rumos de Erechim e da região. Este encontro, organizado pela Rádio Cultura e pelo Jornal Boa Vista, trará reflexões essenciais para nosso futuro”. Parenti destacou o desenvolvimento do município em setores como indústria, geração de empregos, saúde, educação, tecnologia e segurança pública, resultando em qualidade de vida para a população.
Desafios e propostas para os próximos anos
Julio Brondani, professor e empresário, apresentou dados alarmantes:
- Demografia e economia: 40% da população do Alto Uruguai tem entre 30 e 59 anos, e 10 municípios já registram mais de 30% de idosos acima de 60 anos. “Precisamos planejar a atração de mão de obra para evitar colapso futuro”, alertou.
- Infraestrutura: Criticou a lentidão em obras como a duplicação da ERS-135 e a BR-153, além do desvio da Ferrovia Norte-Sul, que beneficiou Santa Catarina. “Somos os últimos a receber investimentos em pavimentação, e a culpa é nossa”, admitiu.
- União regional: Propôs a criação da ANORGS (Alto Uruguai, Norte e Nordeste do RS), integrando 159 municípios para fortalecer a representatividade política. “Isolados, somos irrelevantes; juntos, podemos pressionar por avanços”.
Júlio Brondani destaca desafios e oportunidades para os próximos 110 anos de Erechim
Durante debate sobre os 107 anos de Erechim, o professor e empresário Júlio Brondani fez uma análise abrangente sobre o desenvolvimento regional e os desafios futuros. Ele iniciou destacando os 110 anos do Clube Atlântico e sua importância histórica para a cidade, além de enfatizar o significado do Dia do Trabalhador.
“Temos hoje 40 milhões de trabalhadores produtivos no Brasil, num total de 220 milhões de habitantes. Esses trabalhadores são fundamentais neste momento desafiador”, afirmou Brondani. “Especificamente em nossa região, vivemos uma situação diferenciada no Rio Grande do Sul, com pleno emprego, resultado dos 107 anos de desenvolvimento bem conduzido.”
Brondani apresentou um estudo em desenvolvimento, patrocinado por empresas locais, que visa preparar a região da AMAU, Nordeste e AMNG para os próximos 110 anos. A pesquisa abrange 159 municípios e busca desconstruir mitos regionais. “Levamos 100 anos para aprender a dialogar com Porto Alegre. Ainda não sabemos nos fazer ouvir em Brasília”, criticou.
O estudo já revelou dados preocupantes:
- 20% do eleitorado regional não vota
- Envelhecimento populacional acelerado (10 municípios dos 32 da Amau já têm mais de 30% de idosos)
- Necessidade urgente de obras de infraestrutura há décadas paralisadas
Brondani propôs a criação da ANORGS (Alto Uruguai, Norte e Nordeste do RS), uma aliança estratégica entre três regiões para fortalecer a representação política. “Isolados, somos irrelevantes. Juntos, podemos pressionar por avanços como a duplicação da ERS-135 e a conclusão da BR-153”, argumentou.
O empresário criticou especialmente o desvio da Ferrovia Norte-Sul, que beneficiou Santa Catarina em detrimento do Rio Grande do Sul. “Enquanto nós discutimos, nossos vizinhos agem. Santa Catarina não apenas garantiu a passagem da ferrovia como criou um ramal para Itajaí.”
Apesar dos desafios, Brondani destacou o potencial de Erechim:
- 17º lugar no RS em índice de potencial de consumo
- Capacidade comercial para atender 400 mil pessoas
- 90 mil consumidores potenciais com a integração da região Nordeste
“Precisamos unir indústria, comércio e poder público em torno de um projeto comum”, defendeu. “Nossa história foi construída por trabalhadores honestos e talentosos, mas os próximos 110 anos exigem novo método: planejamento baseado em dados e ação conjunta.”
Fábio Adamczuk (Sindicato Metalúrgico) e Alcemir Bagnara (SUTRAF) trouxeram contrastes:
Salários: O Diretor do Sindicato Metalúrgico, Fábio Adamczuk, entende que é necessário subir a régua salarial dos trabalhadores. Uma comparação com a base salarial de cidades vizinhas do estado de Santa Catarina, estamos com valor de R$ 1.856,00 enquanto que nas cidades catarinenses a base salarial dos metalúrgicos é de R$ 2.100 em Concórdia e R$ 2.300,00 em Chapecó.
Êxodo rural: Por sua vez o Presidente do SUTRAF Alcemir Bagnara apresentou números do meio rural. Uma diminuição de 80 famílias que fecharam atividades e foram para outras localidades. Os arrendadores de terra estão fazendo a devolução das mesmas para seus proprietários e isso preocupa.
Sindicato Rural de Erechim
Alan Tormen (Presidente do Sindicato Rural) lamentou perdas históricas, como a falência da COTREL (com mais de 15 mil associados) e do moinho moderno da região, mas celebrou a chegada da AuroraCoop e o avanço do setor leiteiro.
Educação e mercado de trabalho
Mario Cavaletti defendeu mudanças na legislação para inserção precoce de jovens no mercado, aproveitando a capacitação do IFRS: “Precisamos de operadores de máquinas, não de braços fortes. E mais divulgação da nossa cidade, do que é feito aqui para atrair investimentos”.
Destacou a importância do IFRS que tem laboratórios modernos, mas precisa alunos para se qualificar e entrar no mercado de trabalho. Disse que estamos muito distantes do Brasil, precisamos fazer mais marketing e divulgação de Erechim, que é uma cidade maravilhosa. Todos que nos visitam ficam impressionados com o que temos aqui. Parabenizou a comunidade e também o Prefeito Paulo Polis que trabalha sempre com muita energia fazendo o melhor pela cidade.
Comércio e tecnologia
Débora Lunardi (CDL) destacou o retorno dos clientes às lojas físicas após experiências negativas online e enfatizou a urgência de pavimentar a ERS-477 para captar esses 90 mil consumidores potenciais, que foram destacados nas palavras do Professor Júlio Brondani. Disse que “O futuro foi ontem: Inteligência Artificial e economia prateada (pessoas 50+) já são realidade”.
Desafios do mercado de trabalho e inovação
Atualmente, enfrentamos uma escassez de mão de obra qualificada. Vivemos um momento ao mesmo tempo privilegiado e desafiador. A Inteligência Artificial surge como ferramenta essencial, mas exige adaptação – é como aprender um novo idioma para aplicá-lo aos negócios. O futuro já chegou, e precisamos agir com urgência.
É hora de superar divisões ideológicas e unir forças para conquistar novos avanços. As entidades representativas, a iniciativa privada e o poder público devem liderar esse processo com compromisso e transparência. Não há mais espaço para neutralidade: o lado a ser defendido é o daqueles que produzem, geram renda, empregos e constroem a cidade.
Em sua participação na NRF, principal feira de varejo, tecnologia e inovação em Nova York, destacou-se também o tema da economia prateada (pessoas acima de 50 anos). Esse grupo responde por mais de 20% do consumo nacional e é vital para o desenvolvimento, não apenas pelo poder de compra, mas pelo conhecimento acumulado – essencial para impulsionar essa transformação.
Viviane Brum (Unindústria) reforçou a importância da união: “Com 200 associados, promovemos feiras internacionais e parcerias com o poder público para alavancar o crescimento”. A Unindústria está completando neste ano 20 anos. Disse que existem muitas ações do poder público em realizar debates sobre o desenvolvimento da cidade. Diversas Secretarias Municipais foram recebidas pela Unindustria colocando as ações que estão sendo desenvolvidas para o crescimento da cidade.
Participaram do debate: –
– Presidente da Câmara de Vereadores – Fifo Parenti
– CDL – Presidente Débora Lunardi
– Sindilojas – Presidente José Gelso Miola
– Sindicato Metalúrgico – Diretor Fábio Adamczuk
– Coder – Presidente Leandro Pogorzelski
– Sindicato Rural – Presidente Allan Tormen
– Unindústria – Presidente Viviani de Camargo Moscato dos Santos
– Sutraf – Presidente Alcemir Bagnara
– Liderança Empresarial – Mário Cavaletti
– Pesquisador da Região Amau e Amunor – Júlio Brondani.
Conclusão
O debate, com o tema “Como Erechim se prepara para os 110 anos e o que avançamos desde o centenário”, contou com a participação de representantes do poder público e entidades como ACCIE, Coder e Sindilojas. As reflexões convergiram para a necessidade de planejamento baseado em dados, superação de divisões ideológicas e colaboração entre setores público e privado.
Como disse Brondani: “Erechim foi construída por trabalhadores bravos, mas os próximos 110 anos exigem método novo: união, serenidade e foco em resultados”.
Por: Edson Machado da Silva