O “COFRE DO LIVRO” DE ERECHIM

Só você
Que invadiu o centro do espelho
Nós dois na biblioteca e no saguão
Ninguém mais

É você[1]

A letra de música fala de amantes vivendo a paixão em vários lugares, inclusive na biblioteca. E no saguão. E ninguém mais. Poderia completar: com os livros e nada mais! Livros são passaportes a viagens da imaginação sem sair do lugar. Percorremos lugares, pessoas, situações, tristezas e alegrias de todos os dias que passam a serem letras, palavras, parágrafos e cheiros. Livros têm perfumes. Qual é a sua fragrância preferida?

Talvez a doçura de um conto romântico. Talvez a acidez de uma crônica. Ou um perfume de flores de um romance sobre sonhos de infância. Ler é prazer, mas não só. Pense numa pessoa analfabeta. Não ler é sintoma de sua exclusão social[2]. Pense numa estudante ou num estudante do Ensino Fundamental ou Médio para quem ler é “chato”. Quando não são bem trabalhadas, coisas maravilhosas podem ser chatas, enfadonhas, sem sentido. Por isso, algumas pessoas podem achar que o lugar onde se guardam livros pode ser chato.

Estamos falando da biblioteca. Esse lugar que o é “cofre do livro”, termo que aparece na Grécia antiga, também indicando a conservação da memória coletiva e da pesquisa de informação[3]. Geralmente, um cofre é associado a um lugar em que se guarda coisas de valor financeiro. A “chave do cofre” ou o “segredo do cofre” são os meios de acessar as riquezas que protege. Então, qual a chave ou o segredo para acessarmos a riqueza do nosso “cofre de livros” de Erechim?

Vamos mostrar o “mapa da mina”. E o nosso maior tesouro é coletivo, público e gratuito: a Biblioteca Municipal Gladstone Osório Mársico[4], que fica ali na Avenida Pedro Pinto de Souza, 100, bem no centro, perto da Praça da Bandeira. A biblioteca pública conta com cerca de 35.000 exemplares, com foco na literatura geral. Segundo as bibliotecárias, cerca de 1.000 usuários por mês frequentam o local. Todas as pessoas interessadas podem se associar à biblioteca e retirarem livros de forma gratuita. Não há exigências maiores, inclusive pessoas que não moram em Erechim podem se associar, contribuindo para a diversidade do perfil de associados(as). O acervo[5] é atualizado a cada semestre e são levadas em conta as sugestões dos(as) frequentadores(as). Doações de livros são bem-vindas e serão analisadas pela bibliotecária, afinal, não é qualquer coisa que merece ficar no cofre, não é mesmo?

Todos os anos, a equipe da biblioteca se envolve com a Feira do Livro de Erechim, evento anual que tem se consolidado na Praça Jayme Lago, que passa a ser, mediante Decreto Municipal, a “Praça do Livro” durante os dias de feira. Ali, na praça, não tem cofres, mas árvores, bancas, espetáculos e, sobretudo, gente de todos os tipos, assim como os livros são: diversos, vivos, provocantes. Na feira o livro é vendido, na biblioteca é emprestado. Emprestar algo a alguém é um gesto solidário. Emprestar um livro, que é o tesouro do cofre, é mais do que isso: é compartilhar riqueza.

Então, se é pela palavra que vamos construindo nossa cidadania, é pelo livro que vamos percebendo que o mundo também está em cada página. Ler e escrever são os dois lados da mesma moeda, sendo uma ação cultural profundamente humana. Livros são instrumentos de libertação. Mas, cuidado: uma vez entrando nesse mundo da leitura, corremos o sério risco de ficarmos presos(as) nele. Mas, não se preocupe, todo cofre tem sua chave ou seu segredo. Descubra o seu. No saguão ou na biblioteca. Mas só você.

Quem ainda não conhece, fica o convite de aparecer em nossa biblioteca pública. Leve um(a) amigo(a), pois lá é lugar de levar quem gostamos.

 

Entre aspas

As bibliotecas são espaços tão potentes de educação que o professor António Nóvoa, ex-reitor da Universidade de Lisboa (Portugal), defende que a escola ideal seria a que “se entra pela biblioteca”[6]. Imagine só!

Na atualidade, podemos entrar em bibliotecas virtuais com vários livros em formato digital. Muitas delas, com acesso gratuito ao e-book. A Editora da UFFS tem em seu catálogo vários livros gratuitos para acesso. Dá uma conferida no endereço https://www.uffs.edu.br/institucional/reitoria/editora-uffs/catalogo.

Thiago Ingrassia Pereira

Professor da UFFS Erechim

Coordenador do Projeto de Extensão “Dizer a sua palavra”: democratização da cultura popular e da comunicação

thiago.ingrassia@uffs.edu.br

[1] Composição de Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes. Ouça aqui: https://www.youtube.com/watch?v=ej2eGPitJK8

[2] O Brasil tem mais de 11 milhões de pessoas com mais de 15 anos de idade analfabetas. Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-05/taxa-de-alfabetizacao-chega-93-da-populacao-brasileira-revela-ibge

[3] Vide: https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/artigo4691.pdf

[4] Sobre o escritor que dá nome à biblioteca municipal, ver a pesquisa de mestrado, desenvolvida no PPGICH/UFFS, de autoria de João Batista Picolli, intitulada “Erechim se torna Boa Vista: história, cultura e política em Cogumelos de Outono de Gladstone Osório Mársico” (2022). Disponível em: https://rd.uffs.edu.br/handle/prefix/6112

[5] Pode ser consultado em: https://biblioteca.erechim.rs.gov.br/

[6] Vide: https://biblioo.info/antonio-novoa/

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