O mês de setembro, desde 2014, tem motivos significativos para ser lembrado no Brasil, em função do “Setembro Amarelo em Prevenção ao Suicídio”. Em Erechim as abordagens sobre a temática foram destacadas de diferentes maneiras, todas com intuito de reforçar a urgência em desmistificar o tema. A prevenção é foco da mobilização, já que Erechim e região apresentam dados alarmantes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos suicídios poderiam ser evitados e, não falar sobre o problema não estaria ajudando a combatê-lo. Além disso, alguns mitos propiciam julgamentos morais e dificultam a busca de ajuda por parte de quem precisa.
Casos crescentes
Para reforçar a urgência em falar sobre o tema, em entrevista à Rádio Cultura, a Enfermeira do CAPS II, Andiana Castagnara e a Psicóloga e Diretora de Saúde Mental do município, Vânia Specht, explicaram a realidade da nossa região por meio de números. Afinal, o suicídio é considerado uma emergência médica, uma questão de saúde pública. “É preciso alertar que o suicídio é um problema sim. O transtorno mental e depressão, são apenas alguns dos fatores que podem levar a pessoa pensar no suicídio. Participamos do quarto seminário sobre a temática em Porto Alegre, com mais de 1200 pessoas de todo o Estado e aprendemos o que pode ser feito enquanto comunidade, pois os casos são crescentes de acordo com as notificações obrigatórios”, explicou Vânia.
12,66% suicídios por 100 mil habitantes na região
Um olhar atento diante de uma série histórica de dados levantados desde 2009, permite ver que o fenômeno não é recente e nem isolado. “A média brasileira de suicídios é de seis a sete por 100 mil habitantes. Já os dados de Erechim e região são bem acima da média brasileira, representam 12,66% suicídios por 100 mil habitantes. Percebemos que o problema está na região e ainda existe muito tabu para falar deste assunto. Precisamos dialogar, alertar, para saber qual a melhor forma de ajudar e realizar o tratamento adequado”, alertou Andiana.
Taxa de suicídio é maior em idosos
Conforme as profissionais de saúde, o suicídio está relacionado a multifatores, entre eles, doenças mentais, transtornos e esquizofrenia. A ideação suicida também é associada a violência doméstica, sexual, pressões da sociedade, questão econômica, desesperança, abuso de álcool e drogas. Dentre tantos fatores, o que mais ‘assusta’ é a faixa etária acometida. “Segundo dados a maior incidência de suicídios em Erechim e região refere-se aos idosos e adolescentes entre de 15 a 29 anos. O cenário mudou drasticamente com relação aos idosos e hoje, representam 8,9% da média, sendo que os homens concretizaram o ato mais do que as mulheres”, relatou Vânia.
Cada idade tem as suas peculiaridades
Segundo Vânia na terceira idade, especialmente quando há doença degenerativa, perda de capacidade, laços referenciais, o idoso acaba ficando isolado e vulnerável. Já o adolescente é decorrente de agressões, violência, uso de drogas, jogos e influência da internet, deixando-os suscetíveis. “É preciso que os pais, familiares, pessoas próximas e professores fiquem atentos. Cada idade tem as suas peculiaridades, mas quando muitas características começam a mudar é importante cuidar. Nas empresas é essencial que supervisores, colegas de trabalho fiquem atentos. Se houver um trabalho em conjunto com as escolas, pais, empresas, famílias, muitos casos podem ser evitados”, destacou Vânia.
Tristeza e depressão
Andiana também ressaltou que é importante compreender a diferença entre tristeza e depressão. “A tristeza é um sentimento momentâneo. As pessoas que sofrem uma perda de emprego ou ente querido, atravessam uma fase de sofrimento e angústia, que pode se prolongar por um determinado período, mas esse quadro vai diminuindo e paulatinamente a vida vai retomando o ritmo normal. Mas, é diferente de estar triste sem motivo. Quando a pessoa começa a não se cuidar, tem a autoestima prejudicada, não se preocupa com a higiene pessoal, da casa ou, tem problemas físicos, com certeza deixa de ser apenas tristeza”, assegurou.
Fatores de proteção
O Rio Grande do Sul, especialmente a região Norte, ocupa o segundo lugar de maior índice de casos de suicídio, o primeiro comtempla a região metropolitana, onde há plantações de fumo. Perante dados alarmantes, as profissionais de saúde atentam para os fatores de proteção “O diálogo em qualquer idade, sobre os mais diferentes assuntos é primordial, tão logo é importante a família, o contato pai e filhos. O casamento/companheiro também é fator de prevenção”, finalizaram.
Por Carla Emanuele