A COVID-19 fez com que governos ao redor do mundo optassem por medidas drásticas de restrição de deslocamento, determinando o fechamento de escolas e diversos segmentos da economia. Em muitos casos, a própria circulação das pessoas foi completamente impedida com o intuito de evitar a propagação do vírus.
Tais ações, que deram visibilidade a um inimigo invisível – o Coronavírus -, mexe com a parte mental de muitos. Para o médico e psiquiatra, Rodrigo Barbieri, a pandemia tem feito as pessoas mobilizarem Mecanismos de Defesa Mentais primitivos, expondo suas fragilidades. Nesta entrevista, Barbieri aborda essa e outras questões, além de destacar a necessária valorização dos profissionais da saúde e observar que os hospitais de Caridade e Santa Terezinha estão preparados com protocolos para enfrentar a COVID-19. Confira:
O que são os Mecanismos de Defesa e por que eles estão presentes hoje?
Rodrigo Barbieri – São reações humanas muito primitivas que carregamos conosco desde a infância, como a negação, a dissociação, a projeção, a onipotência, entre outros. Eles são os mais evidentes neste contexto da pandemia. Por exemplo, aquele debate que se travou entre isolamento horizontal ou vertical era uma clara tentativa de dividir/dissociar o problema como forma de buscar lidar com as partes do problema separadamente e não com o problema como um todo. É o dividir para suportar, ou seja, é mais palpável lidar com a economia/dinheiro que é uma ameaça mais palpável, do que com a morte que “não é uma ameaça real” – o que representa, no caso, a negação. Além destes aspectos subjetivos das reações humanas (os mecanismos de defesa), temos as reações mais concretas como o medo da infecção, a falta de suprimentos, as perdas financeiras, o estigma daqueles que se infectaram e a falta de precisão nas informações, que são, neste caso, efeitos da dissociação.
Quais outros efeitos o isolamento pode provocar?
Rodrigo Barbieri – Em um plano mais privado, as pessoas enfrentam o tédio com a quarentena, a frustração e a propensão que têm a reagirem mal: irritação, angústia, insônia, hiperfagia (aumento de apetite) e abuso de substâncias, que são efeitos da raiva.
Como combater a irritação, a angústia, o medo?
Rodrigo Barbieri – Fazendo o bem, sendo solidário, se colocando no lugar do outro.
E no que diz respeito aos profissionais de saúde, o que o senhor teria a dizer?
Rodrigo Barbieri – Que eles deveriam ser sempre valorizados, como estão sendo agora. Tomara que isso fique como lição e passemos a valorizar mais não só a saúde, mas também a educação e os profissionais que escolheram cuidar e ensinar as outras pessoas. A saúde e a educação são nossos bens mais caros e deveríamos valorizar sempre, não só quando a morte bate à porta.
Conseguiremos aprender, enquanto sociedade, algo com a pandemia?
Rodrigo Barbieri – Acredito que tiraremos lições importantes, uma delas é a valorização dos quadros técnicos em detrimento dos políticos de ocasião. Espero que aprendamos a fazer melhores escolhas e formemos governos cada vez mais técnicos e empenhados em fazer o melhor. Espero que a nossa falta de educação não limite todo aprendizado que a sociedade poderá extrair desta pandemia. Penso que o debate sobre as lições a serem aprendidas deve ser ampliado e estimulado depois que o cenário amenizar.
Muitos erechinenses parecem se sentir mais seguros agora que o comércio voltou. É para tanto?
Rodrigo Barbieri – É o dinheiro, as pessoas querem trabalhar e voltar a ter a vida de antes, mas não podemos deixar de recomendar que todas as pessoas mantenham os cuidados de proteção contra a contaminação. Não é porque o comércio foi liberado que o problema passou. A recomendação é para que as pessoas usem máscaras, evitem aglomerações e mantenham os cuidados com a higiene. Não esqueçamos das pessoas do grupo de risco, que devem permanecer em casa, pois ainda temos que vencer o inverno.
Que recado o senhor daria à comunidade de um modo geral?
Rodrigo Barbieri – Procurem voltar às rotinas tomando os devidos cuidados, sabendo que talvez tenhamos que parar novamente antes do inverno mais rigoroso, que mantenham os seus ‘velhinhos’ em casa. Também acho importante tranquilizar a comunidade e dizer que os protocolos de atendimento para casos suspeitos estão implantados nos nossos hospitais, tanto o Caridade quanto o Santa Terezinha, e que nossos médicos e pessoal de enfermagem têm se preparado muito bem para atender a população, apesar da limitação com os testes de diagnóstico. Por fim, cuidem-se, pois só assim poderemos passar por esta pandemia mais seguros. Usem o medo para se cuidar, não para se apavorar. Não neguem a realidade e façam cada um a sua parte para limitar a disseminação do vírus.