Ao invés de cortar impostos federais, o governo decidiu autorizar créditos tributários para reduzir os preços dos carros, optando por dar o estímulo a partir de um canal que representa uma das maiores reclamações da indústria. As montadoras reclamam há anos que estão com bilhões de créditos represados.
A estimativa atual, feita pela Anfavea, a entidade que representa o setor, é de algo em torno de R$ 15 bilhões em créditos que os fabricantes de veículos ainda não conseguiram compensar, sendo R$ 8 bilhões em tributos federais e R$ 7 bilhões em ICMS dos Estados.
Na apresentação dos resultados de maio à imprensa, o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, reconheceu que não há garantias de que as montadoras vão conseguir compensar os créditos desta vez. Ele avaliou, porém, que o programa deve, em geral, atender bem o setor, sem prejudicar o caixa das empresas.
A explicação da tranquilidade transmitida pelo executivo é que os créditos tributários federais – não recuperados na maioria das vezes em exportações – representam um volume baixo nas vendas de automóveis que custam no máximo R$ 120 mil, teto dos carros que terão descontos patrocinados pelo governo.
“Não há garantias, mas não será algo que vai penalizar as montadoras”, disse o presidente da Anfavea. “A maioria das montadoras não possui créditos acumulados nesse segmento até R$ 120 mil”, acrescentou.
A expectativa pela apresentação de medidas de apoio do governo, que inicialmente seria uma tentativa de resgate do carro popular, durou três semanas e levou a um deslocamento, da segunda quinzena de maio para junho, de aproximadamente 27 mil veículos que seriam vendidos no mês passado. Isso porque o consumidor adiou a compra, à espera dos preços mais baixos.
A indústria formou estoques, que chegaram ao total de 251,7 mil veículos, para atender a aguardada corrida às concessionárias, que, pela previsão dos fabricantes, deve consumir em cerca de um mês todos os recursos autorizados para os descontos de automóveis: R$ 500 milhões. “Agora, temos que correr para faturar, e o consumidor correr para comprar”, frisou Leite, ao alertar que os bônus podem acabar rapidamente.
Segundo a Anfavea, a formação dos estoques, junto com os quatro dias úteis a mais e a retomada de fábricas que estavam paradas, levou a um aumento de 27,4% da produção das montadoras na passagem de abril para maio. “Praticamente não tivemos paralisações em maio”, comentou Leite.
Ele considerou natural o mercado “travar” no fim de maio, mas disse que foi por um “bem maior”: a oferta de produtos a um custo mais acessível. A expectativa, continuou o executivo, é que o mercado tenha um crescimento considerável, pelo menos enquanto durar o programa.
O presidente da Anfavea reafirmou, sem citar nomes, que três montadoras decidiram suspender paralisações para atender a demanda, porém algumas fábricas podem voltar a parar para ajustar excessos de estoque.
Entre elas, a General Motors (GM) vai parar nas próximas duas semanas as fábricas de São José dos Campos (SP) e Gravataí (RS), esta responsável pela produção do Onix, o carro de passeio mais vendido do País.
Já a Volkswagen suspendeu na segunda-feira um turno da unidade de São José dos Pinhais, no Paraná, onde produz o utilitário esportivo T-Cross. A paralisação parcial pode durar de dois a cinco meses, período em que os contratos dos trabalhadores afetados estarão suspensos.