Parte desta investigação buscarei relatar nas próximas linhas, baseado em informações colhidas durante entrevista coletiva concedida pela delegada Kolberg e pela titular da 11ª Delegacia de Polícia Regional do Interior (DPRI), Diana Zanatta.
O crime
Dia 22 de setembro de 2017, uma jovem procura a Delegacia de Polícia para registrar que estaria sendo ameaçada de morte pelo ex-companheiro e a justiça concede medida protetiva ordenando que ele mantenha distância da moça.
Início da noite de 24 de setembro de 2017, um carro estaciona em frente à casa da reclamante, na Rua Antônio Marchesin. Uma mulher desembarca e convence a jovem a conversar com seu ex, que está dentro do veículo. Ela concorda, o homem desembarca, o portão é aberto, ele saca uma arma e obriga a ex e a mãe dela a entrarem na residência, lá dentro, atira na cabeça da jovem e da ex-sogra. Faz isso na frente de sua filha de 06 anos, que estava acompanhada da mãe na moradia.
Ele está saindo da casa e a criança, em pé ao lado dos corpos pergunta: “pai, você vai me deixar aqui?”. O homem, que cumpria prisão domiciliar e já possuía passagem por homicídio, tráfico de drogas e danos ao patrimônio, então leva a menina e a deixa, um tempo depois, na casa de parentes, sem ferimentos, ao menos, não físicos.
A investigação
O Corpo de Bombeiros recebe informações de que duas pessoas teriam sido baleadas em uma residência na Rua Antônio Marchesin. No local os socorristas encontram uma mulher agonizando e outra já sem vida. A vítima ferida, mãe da que faleceu no local, é encaminhada ao hospital, mas não resiste ao ferimento.
A Brigada Militar isola o local, a Polícia Civil realiza os primeiros levantamentos e imediatamente inicia a investigação. As informações chegam semelhantes àquela brincadeira do ovo choco, onde um cochicha para o outro. O destino final dos fatos, nem todos coerentes, são os investigadores e policiais militares. As testemunhas têm medo de represálias posteriores. Surge que uma criança de seis anos estava na casa e teria sido levada pelo assassino. A investigação, coordenada pela delegada Kolberg é intensificada e recebe apoio da 11ª DPRI, da Delegacia Especializada de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (DEFREC) e da 1ª Delegacia de Polícia. Os trabalhos seguem noite adentro. No dia seguinte se descobre que a menina, filha do suspeito com uma das vítimas, está bem na casa de parentes, mas que o atirador fugiu da cidade. Novamente surge a brincadeira do ovo choco, as informações apontam a fuga para diferentes cidades e as equipes se dividem em diferentes braços para que nenhuma pista esfrie ou fique para trás. O motivo das mortes seria o ciúme do executor em saber que a ex estaria em um novo relacionamento e a revolta por ela ter registrado ocorrência por ameaça, o que poderia lhe tirar o direito de prisão domiciliar e levá-lo novamente para o regime fechado.
Tensão
No dia 28 os investigadores concentram esforços em uma suposta atual companheira do suspeito, existe a possibilidade de ele estar com ela. São expedidos mandados de busca e apreensão e de prisões preventivas e policiais vão até sua casa. O momento é de tensão. Segundo a delegada Raquel, contou na coletiva, “tínhamos a informação de que ele (suspeito) havia dito que não seria preso novamente, cairia atirando”. O homem não é encontrado na casa, a mulher diz que ele fugiu para Lages, insiste nisso, mas em seu carro é encontrado um recibo de compras feitas naquela manhã em um supermercado de São Leopoldo e ela é presa. A equipe descobre que o suspeito tem parentes naquele município e informa a Delegacia de Homicídios de São Leopoldo, que mesmo com efetivo reduzido, em menos de 15 minutos monta uma equipe e se desloca para a casa em questão, também sabendo que o suspeito, possivelmente, não iria se entregar e estava disposto a atirar. Inicialmente moradores negam a presença do suspeito, os policiais desconfiam, insistem. Ele surge, vê os agentes e tenta fugir pulando os muros das residências próximas, mas logo é capturado, tenta se passar por seu irmão, mas não convence.
Prazo
As equipes de investigação trabalharam praticamente de forma ininterrupta na busca por provas materiais que levassem até o suspeito dos feminicídios, já que, compreensivelmente, testemunhas evitam se envolver, temendo represálias. Mas o trabalho prossegue. Baseado nos depoimentos dos presos, a polícia ainda está realizando diligências para confrontar, descartar ou confirmar fatos surgidos com seus os depoimentos. A partir das datas das prisões, realizadas no dia 28 e executadas mediante cumprimento de mandados de prisão preventiva, a equipe da DEAM tem 10 dias para entregar o inquérito à justiça.