Via de regra, as pessoas preferem soluções milagrosas, mágicas, fantasiosas e populistas. No mundo da política significa dizer o que se quer ouvir (o caso da redução radical do ICMS da gasolina), não o que necessita ouvir (que é impossível de ser efetivada na atual conjuntura). Aliás, a bravata se tornou em requisito, em uma ciência que transforma a política em uma versão e simulacro da realidade, no parecer ser sem ser, mas a maioria prefere isso. Quase ninguém se elegeria, se na maior parte das vezes não dourassem a pílula da realidade. O escritor José Saramago dizia que a política é a ciência de nunca dizer a verdade. A realidade econômica e política país, parece indicar ser essa a principal mensagem por meio de fakes. Em situações complexas, prefere-se a simplificação, mesmo que passem longe dos fatos.
O recente fiasco (e não tem sido o único) da Conferência das Partes (COP 25) da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada entre 2 e 13 de dezembro de 2019 na Espanha. Mas afinal, quais as dificuldades em perceber a natureza como organismo vivo que possui limites? Talvez o pensamento religioso interpretou que a natureza existe em função do homem, que ele está acima dela. Outro fator, é que quase tudo foi transformado em valor de troca, ou seja, em mercadoria que pode ser vendido na praça do mercado em busca da urgência em fazer dinheiro. Além disso, os estragos feitos necessitam de muito dinheiro para serem sanados, se é que podem ser sanados.
Viver passou a depender muito disso, e por meio da exploração e saque da natureza!
Em recente trabalho de mestrado realizado na Universidade Federal da Fronteira Sul, levantei dados da região sobre o passivo ambiental dos agricultores e revelou que 38,9% possuem reserva legal inferior ao exigido por lei de 20% da propriedade, 29,6% tem débitos com áreas de proteção permanente (especialmente aquelas as margens dos rios e riachos). Na cabeça deles não há uma relação direta entre o desmatamento e a falta severa de chuvas (aqui no Sul 25 dias sem chover já causa pânico), ou de chuvas excessivas. Essa novela se renova todos os anos, sem mudanças efetivas à vista.
Os incêndios na Austrália, as enchentes aqui no Brasil, são sintomas das mudanças climáticas, assunto exaustivamente tratado todos os anos nas Conferências das Partes (COP), reflexo das ações dos quase oito bilhões de habitantes do planeta. Por outro lado, é fato que os desastres ambientais atingem mais fortemente os pobres, mas é uma simplificação grosseira estabelecer relação direta entre pobreza e problemas ambientais, como foi expresso por um representante do governo brasileiro na COP. Nos debates preliminares do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) em 1995, se estipulou que o custo da vida de um cidadão em um país rico, era de 1,5 milhão de dólares, e em um país pobre, cerca de 100 mil dólares. O que custa realmente caro é a desigualdade de acesso e de oportunidades, mas a opção tem sido aumentar a altura dos muros.
A busca quase desesperada de elevação das expectativas de consumo (na maioria de badulaques inúteis), se tornou o combustível que alimenta o sistema. Essa tarefa é auxiliada e potencializada pela destruição criativa com o uso da tecnologia, que amplia a produção de resíduos, a velocidade e a capacidade da destruição dos bem se ativos naturais. O rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais podem ser tomados como exemplos do açodamento, desleixo, negligência, omissão e conluio criminoso das empresas, do Estado. De certa forma, denota a falência das organizações da sociedade, especialmente do parlamento em se manter vigilante aos desmandos e exageros, visando assegurar e proteger o bem coletivo.
No limite, o que se especula é o esgotamento e o fracasso da esfera pública traduzida sob o escopo da arena política, em se postar como guardião do interesse público. Optou-se em se transformar em um despachante de luxo dos segmentos mais poderosos da sociedade. No fundo o capital, na maioria das vezes, está comprando o direito de legislar e de governar, traduzido pelo sucateamento estrutural e endividamento sistemático do Estado, buscando assegurar a exploração predatória dos bens e ativos naturais em nome do crescimento econômico, como única possibilidade das sociedades modernas em se desenvolver e prosperar.
Nesses termos, não se admira os constantes fracassos nos debates das conferências sobre clima e proteção da natureza ao buscar outro rumo à economia que canaliza recursos naturais, humanos e materiais para uma minoria de 2.143 pessoas excessivamente ricas e perdulárias em detrimento da pobreza e miséria de bilhões de 4,6 bilhões de pessoas.
É o cúmulo da simplificação condenar a pobreza como principal responsável por isso.
Por Eliziário Toledo
Sociólogo, mestre em Desenvolvimento Rural (PGDR/UFRGS, 2009), doutor em Desenvolvimento Sustentável (CDS-UnB, 2017), mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental (UFFS, 2019).