O importante papel da agricultura familiar na produção agropecuária do Alto Uruguai foi pesquisado após 11 anos, levantando informações sobre a área cultivada, produção, as características dos agricultores, uso de agrotóxicos, entre outros temas. Os resultados do Censo Agro 2017 começaram a ser divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos últimos dias e, a Rádio Cultura e Jornal Boa Vista, entrevistam o coordenador da Sub-Área do IBGE, com sede em Erechim, Admar Dornfeld. O último censo agropecuário foi realizado em 2006, mas deveria acontecer a cada cinco anos. Como é uma pesquisa complexa e demanda recursos volumosos, não foi possível ser realizado por falta de destinação de orçamento. Em Erechim e região Alto Uruguai, 100 pessoas trabalharam na coleta das informações durante 12 meses.
Novas tecnologias e genéticas
Dentre tantos dados, alguns chamam atenção e expressam a realidade do Alto Uruguai, Rio Grande do Sul e Brasil. Conforme Dornfeld, nos últimos 11 anos houve um avanço tecnológico fantástico no agronegócio. “Éramos bastante atrasados, mas o cenário mudou. Hoje o Brasil se coloca como um dos primeiros no ranking mundial no avanço das tecnologias, com grandes investimentos da iniciativa privada, das empresas que vendem insumos, desenvolvendo novas tecnologias e descobrindo recentes genéticas com relação às sementes utilizadas. Também cresce por meio do Governo Federal – Embrapa, sempre com inovadoras pesquisas e genéticas. Todos esses esforços e investimentos trouxeram muitos resultados”.
Redução significativa no número de estabelecimentos agropecuários
Em meio a uma topografia bastante acidentada a exemplo de Aratiba, Itatiba do Sul, Mariano Moro, Barra do Rio Azul e outros municípios adjacentes, o perfil do agronegócio na região Alto Uruguai tem se desenhado com uma redução significativa no número de estabelecimentos agropecuários, cerca de 19%. Consequentemente uma redução no quantitativo do número de hectares cultivados com relação a 2006. Diferente da região, no Estado, com uma topografia bastante diversa, municípios como Cruz Alta e Passo Fundo, conseguiram aumentar o número de área agricultada.
248 mil pessoas a menos no meio rural
Já com relação ao número de pessoas ocupadas na agricultura, de 2006 para 2017 ocorreu uma redução de 248 mil pessoas a menos trabalhando no meio rural, consequentemente o êxodo rural, enquanto o número de tratores cresceu 48,32%.
Em 2017, havia 983.751 pessoas ocupadas nos estabelecimentos agropecuários. Em 11 anos, isso representa uma queda de 248.074 pessoas, incluindo produtores, seus parentes, trabalhadores temporários e permanentes. Em sentido oposto, o número de tratores cresceu 48,32% no período e chegou a 242.365 em 160.773 estabelecimentos.
Desaceleração no processo migratório e baixa taxa de natalidade
“Trabalhamos frequentemente com pesquisas domiciliares, tanto no perímetro urbano, como rural e, observamos que na agricultura os jovens são uma raridade. O processo migratório vem tendo uma desaceleração muito grande. Aquelas pessoas que estão prestes a se aposentar ou, se aposentaram no meio rural, na sua grande maioria após a aposentadoria, migram para o município sede onde moram”, relatou Dornfeld. Dentre as raridades é incomum ver mulheres grávidas no interior. Enquanto antigamente as famílias eram compostas por seis filhos ou mais, hoje isso não ocorre. Erechim tem sido o compensador dentre os 31 municípios da AMAU da taxa de natalidade. “Essa tendência é irreversível, por mais políticas que sejam adotadas no desenvolvimento da região, na geração de empregos, sabe-se que os dados de natalidade não mentem. Hoje no RS o número de filhos por mulheres na idade fértil gira em torno de 1.6, quando seria necessário para repormos a população cerca de 2.2 filhos por mulher”, explicou.
“Tendência do ser humano é se urbanizar”
Apesar do processo migratório, o agronegócio é muito dinâmico e a produção agrícola aumentou ano a ano. Hoje conforme os dados do IBGE o setor grãos é quem impulsiona está ‘engrenagem’, representa 90% da produção da região, é o que mais investe em máquinas. Enquanto o setor de aves, suínos e bovinos exige bastante mão de obra. Em meio aos avanços das máquinas e escassez de mão de obra, Dornfeld acredita que vai ocorrer na região o que já é feito em outros países, como Alemanha e Suíça. “Claro, lá o clima é muito diferente, mas as pessoas vivem em agrovilas, as famílias não ficam mais isoladas. Esse é o desafio dos governantes para o futuro, não adianta ficar pensando em políticas de fixação do homem no campo. Não existe política no mundo que vai fixar, a tendência do ser humano é se urbanizar. Se o agricultor não quiser ficar lá, ele não vai ficar. O pequeno produtor está praticamente com os dias contados”, finalizou.
Por Carla Emanuele