Memórias da Aldeia – Alto Uruguai – A Reforma agrária do século XX

Por Enori Chiaparini

Com o advento da República (1889), o Rio Grande do Sul, através dos governos Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros, elaborou um vigoroso projeto de imigração e colonização para o norte do Estado. No Império, o projeto de ocupar as montanhas de Caxias do Sul, com imigrantes europeus, foi tão bem sucedido que Júlio de Castilhos chamou a “capital da uva”, de Pérola das Colônias.  Na passagem do século XX, o Estado gaúcho enfrentava vários problemas como crise de produtos agrícolas, crise de excedentes populacionais nas chamadas “Terras Velhas”, intrusos e disputas de terras no norte do Estado, falta de estradas para o transporte, crise de abastecimento e da pecuária.  Diante de tantos problemas, o governo do Estado preparou um projeto avançado que causa admiração aos estudiosos que se debruçam sobre palpitante temática. Interessava aos governos da jovem República gaúcha, sobretudo do Partido Republicano Riograndense (inspirado nos ideais de Augusto Comte), criar pequenas propriedades agrícolas de 25 hectares, que produzissem, milho, trigo, cevada, feijão, arroz, batatas, etc. A família funcionaria como unidade econômica visando o ideal de auto abastecimento e planejamento público, com mão de obra familiar dos imigrantes da Europa e das Terras Velhas. Por outro lado, a pequena propriedade policultora seria o contraponto do latifúndio do sul do Estado, que estava em decadência e não podia produzir culturas diversificadas. A colonização e imigração (oficial e dirigida), alcançou sucesso admirável, especialmente pela presença da Ferrovia, que possibilitou a vinda dos imigrantes, as comunicações via telégrafo, e a importação e exportação de produtos agrícolas e mercadorias.  Os Bota Amarela representam um caldeirão étnico pouco comum, com ampla tolerância religiosa, uma cidade planejada com elegância e charme que causa admiração ao forasteiro que passa por essas plagas… Aos poucos o modelo de ocupação e colonização do Alto Uruguai vai sendo estudado, pesquisado e interpretado por estudiosos da nossa região e do Estado, na tentativa de compreender e esclarecer este belo cantinho gaúcho, berço que abrigou o sonho e a vida de nossos saudosos avós…