O médico Victor Hugo Heckert, morador de Erechim, no Norte do Rio Grande do Sul, descobriu na antevéspera que esta quinta-feira (28) seria seu último dia de trabalho em uma unidade de saúde de Barão de Cotegipe. Ele foi informado, por engano, ao receber uma mensagem encaminhada pelo WhatsApp por um colega.
O post onde relata o caso viralizou e teve mais de 93 mil curtidas até esta quinta.
“Mais ou menos 14h [de terça (26)], o funcionário da empresa que me contratou me mandou aquela mensagem e encaminhou o que tinham mandado para ele, se eu sabia que meu último dia seria na quinta. E eu não sabia”, conta Victor.
Nascido em Blumenau, o profissional de 29 anos trabalha há dois meses e meio na cidade vizinha. Ele foi contratado por uma empresa terceirizada que fazia algumas escalas para unidades de saúde. Segundo Victor, foi feito um contrato na pessoa física, em que se comprometia a atender todas as segundas e quintas-feiras.
“Sempre fui, nunca faltei, e segunda-feira eu estava lá. Atendi normal, ninguém me falou nada”, diz.
Sem aviso prévio
Victor ficou surpreso, mas procurou se acalmar e tentar entender a mensagem. Ao questionar o, agora, ex-colega, soube que seria substituído. O contrato, segundo o médico, exige um aviso-prévio de 30 dias de antecedência, no mínimo.
“Não entendi, de fato, a mensagem, porque era encaminhada. Às vezes o cara errou, encaminhou errado. Mas ele falou: ‘ah, pois é, achei que tinham te avisado. É isso, colocamos outro médico no lugar, e a partir de segunda tu tá fora'”, descreve.
O ortopedista, que atuava como generalista na unidade, classifica como antiprofissional e antiético o jeito com que foi realizada a demissão. Não pelo desligamento, em si, mas pela forma como foi tratado o assunto.
“Mandou me chutando. Eu fiquei revoltado pela forma com que aconteceu, e seis dias antes de o [outro] mês começar. É uma falta de consideração com qualquer profissional, não só médicos”, critica.
O médico acredita que, como tem outros trabalhos, não deve ter o orçamento tão comprometido. O problema, conforme Victor, é de planejamento.
“Que bom que eu tenho [outros empregos], senão eu estava lascado. A minha indignação nem foi a renda, mas fiz o exercício de pensar: ‘Se eu tivesse só esse emprego, se dependesse integralmente, ser demitido seis dias antes de começar, sem programação, é muito ruim, não tem como te programar’. Não vou passar necessidade, mas é ruim”, lamenta.
Heckert deve reivindicar a multa a que alega ter direito pela quebra de contrato. Já um possível processo por danos morais ainda será estudado com um advogado.
Repercussão acima do esperado
Ele conta que, no Twitter, onde tem cerca de 67 mil seguidores, costuma falar sobre a vida pessoal, lazer e tentar conscientizar as pessoas sobre medicina e ortopedia. A postagem, segundo Victor, foi no sentido ‘rindo pra não chorar’ e não para comprometer a empresa — que ele não quis nomear.
Os comentários da rede social motivaram o autor do post a trocar o nome de usuário para “demitido por whats”. “Tu tá brincandooooo mds que absurdo”, comentou uma usuária.
“Fizeram isso com a gente (4 infectos [infectologistas]) lá em Santarém. Foi assim mesmo, no meio da pandemia. Aí até agora não pagaram”, escreveu um usuário do Twitter do Pará.
“Inicialmente, postei para o povo rir da minha desgraça e da falta de noção do empregador. Não esperava, nunca aconteceu isso. O legal disso, meio triste, foi que outras pessoas também expuseram muitos absurdos que passaram no trabalho. Vi alguns comentários, e são situações parecidas e até piores do que a minha”, afirma Victor.
Apesar de levar com bom humor, ele não espera passar pela mesma situação novamente.
“É importante ser discutido, porque é uma humilhação. Sou tranquilão, mas sou muito justo. Quando algo está errado, fico triste, me revolto. Não vou mudar o mundo, não vou mudar os empregadores, mas acho que vale a reflexão”, diz.