Manobras perigosas com veículos estariam valendo pontos em desafios?

 

No último domingo (09) ocorreu perseguição policial a uma moto que fugiu em alta velocidade de uma tentativa de abordagem e cruzou as principais avenidas e ruas de Erechim. Imagens ganharam as redes sociais e o fato virou até notícia em nível nacional. Mas, teria sido mera coincidência tantas filmagens e fotos, já que esta está longe de ser a primeira perseguição que acontece na cidade? Foi só pelo fato de estarmos na era digital e a ocorrência ter passado por uma área com grande concentração de pessoas?

Segundo relatos que ouvi esta semana, supostamente, haveria grupos de jovens em Erechim realizando uma espécie de desafio. Somam mais pontos aqueles que conseguem a manobra mais difícil ou arriscada e o motociclista envolvido na ocorrência de domingo teria alcançado pontuação beirando a máxima. Se o fato é verdadeiro não sei, mas lembro que anos atrás, quando ainda trabalhava no Voz da Serra, o jornal realizou matéria investigativa e acabou descobrindo que no Orkut existia um grupo que combinava rachas em algumas ruas da cidade, como a Sidney Guerra e a Bento Gonçalves. O fato terminou com pelo menos oito jovens identificados pelo Ministério Público, assinando termos de compromisso e de ajustamento de conduta para não serem processados. E devido a matéria, o nome do jornal, acompanhado de diversos impropérios, ganhou grande destaque na antiga e extinta rede social.

 

BM fez um bom trabalho

 

A perseguição de domingo se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais e rodas de amigos, em Erechim. Entre os milhares de comentários surgidos, os de uma pequena parcela criticam o fato de os policiais terem perseguido o motociclista, que segundo os relatos nas redes “não era bandido”. E como saber se não era bandido?

Em Erechim, e no resto do Brasil, é comum roubos e homicídios praticados por um ou dois indivíduos usando moto, e mais, quando policiais sinalizam a um motociclista para que ele pare e o mesmo foge em alta velocidade, não há bola de cristal e nem vidente para adivinhar quem está sobre o banco do veículo em fuga, não há como saber o que o levou a fugir. Então a Brigada Militar (BM) fez um bom trabalho, cumpriu com sua função em um procedimento normal entre as polícias do mundo inteiro. Manteve acompanhamento ao suspeito, armou cerco, trabalhou para impedir a fuga e capturou o fugitivo.

 

Crimes evitados e solucionados

Vale destacar que já tivemos perseguições onde o motociclista que fugiu de abordagem, e até aquele momento poderia ser colocado nos ditos relatos “não era bandido”, abriu fogo contra os policiais, tivemos situações em que policiais perseguiam assaltantes que se negaram a parar, antes que a Sala de Operações fosse informada de que havia ocorrido um roubo, e em muitos casos era o furto do próprio veículo perseguido. Também há casos em que ladrões estavam indo assaltar e o crime foi impedido pois foram perseguidos após furar barreira policial montada para abordagens de rotina. Na região, tivemos uma situação  onde houve perseguição a quem não obedeceu ordem de parada, e os motociclistas acompanhados estavam carregando uma mochila com diversas bananas de dinamite. Como saber quem está ao volante da moto ou carro em fuga, antes de identificá-lo?

 

Rachas e manobras perigosas

Recentemente matéria produzida pelo Jornal Boa Vista ouviu moradores dos bairros que circundam a Rua Sidney Guerra e foram diversos os relatos sobre os rachas que voltaram a ocorrer naquela via. O som dos barulhentos motores cortando a silenciosa madrugada e atrapalhando o sossego de quem quer descansar após uma semana de trabalho, mas o mais perigoso, pessoas de moto ou carro, em alta velocidade, colocando em risco a si mesmo e a terceiros.

Mas é dos bairros próximos da área do Distrito Industrial que surgem as maiores queixas, e já a um bom tempo. Baderna, prostituição, rachas, manobras perigosas, brigas, bebedeiras, som alto e muita sujeira. A fiscalização policial faz o possível, mas enfrenta duas principais dificuldades: o grave déficit de efetivo e a punição branda aos infratores, que frequentemente ainda abrem processo contra os policiais alegando abuso de autoridade. E neste caso, quanto melhor o carro ou moto, maior a chance de ocorrer reclamação sobre o suposto abuso.

 

Gasto aos cofres públicos

Alegar que são jovens, não tem noção do perigo que correm ou provocam e só querem se divertir é passar a mão sobre um problema grave. Lembrando que o trânsito mata mais que a AIDS, a gripe e a dengue juntas. São cerca de 120 brasileiros por dia.

Sem contar os custos aos cofres públicos. Em recente seminário sobre o trânsito, o chefe da Polícia Rodoviária Federal em Erechim, inspetor Regivaldo Tonon, relatou que cada acidente gera em média, um gasto de R$ 50 mil aos cofres públicos. Ele explica que, um acidente de trânsito de pequena monta, com apenas uma pessoa ferida levemente, envolve pelo menos 18 pessoas de nove órgãos institucionais diferentes, entre eles, socorristas, policiais rodoviários ou militares, policiais civis, médico, enfermeiros, advogados e juiz. O gasto anual chega a R$ 56 bilhões.

Tonon também falou das situações em que as vítimas acabam perdendo um braço ou uma perna. “Terá que se reconstruir, primeiro psicologicamente. Irá parar de trabalhar, se, por exemplo, possuía em seu emprego uma renda de R$ 2.500,00, precisará aprender a viver com um salário mínimo da previdência, para o resto da vida, e ainda terá as despesas dos medicamentos, necessitará de outras pessoas”.

 

Drama dos familiares

Quem já se deparou com um acidente de trânsito onde um dos envolvidos acabou morto e testemunhou a chegada de familiares ao local sabe o drama que estes vivem, talvez, um dos maiores que irão enfrentar na vida. Lembro de um acidente onde motociclista acabou falecendo e o corpo permanecia no local, coberto por um lençol. O irmão da vítima chegou de carona, desembarcou correndo do carro, furou o cordão de isolamento, agarrou a mão do familiar falecido e aos prantos dizia: “levanta meu irmão, levanta, não faz isso comigo, não me deixa aqui”.

Também já vi pais e mães ajoelhados no meio da via diante da perda de um filho ou filha. “O que vou fazer agora?”, questionam em meio a um choro inconsolável.

“Vocês não tem ideia do pavor de uma família ao receber uma ligação da Polícia Rodoviária no meio da noite. São vários casos de mães que desmaiam no momento em que nos identificamos, ‘aqui é da Polícia Rodoviária Federal’, só precisamos dizer isso para imediatamente ficarem apreensivos. Se na ocorrência é possível dizer ‘seu filho está aqui no posto’ é um alívio para todos, mas já houve ocasiões de eu e colegas juntarmos pessoas com uma pá”, contou Tonon, durante o seminário

 

 Por Alan Dias