Jergs completam 50 anos de competições e incentivo ao esporte

Jogos Escolares já revelaram inúmeros talentos
Quando a atividade envolve esportes, não há dúvidas: vai fazer sucesso entre crianças e adolescentes. Os Jogos Escolares do Rio Grande do Sul (Jergs) são uma prova desta popularidade. Com 50 edições, o programa é o mais antigo ainda em atividade da Secretaria Estadual de Educação (Seduc).
Ao longo destes 50 anos, os Jergs já abrangeram milhões de alunos da rede pública. A média de participação em cada edição é de 140 mil estudantes das mais de 2,4 mil escolas estaduais. No ano passado, 467 dos 497 municípios gaúchos tiveram atividades da competição. Para este ano, devido à pandemia do novo coronavírus, a Seduc ainda estuda a realização dos jogos.
Para Danusa Zanella, que coordena a organização dos Jergs, a durabilidade do programa se deve ao poder do esporte de agregar e empolgar seus participantes. “No início do ano, sempre tem alguma criança que chega para o professor de Educação Física e a primeira coisa que pergunta é: ‘Vai ter Jergs neste ano?’ Não tenho dúvida de que é um dos projetos mais empolgantes para o estudante, tu vês o brilho no olho deles”, conta.
A assessora esportiva da Seduc recorda sua própria história de amor aos esportes, que começou nos Jergs e, depois, a levou a cursar Educação Física. “Ser convidada para fazer parte do time do colégio era o auge. Claro, tinha os campeonatos das cidades, mas o que queríamos jogar era contra outras escolas”, relata.
Desde sua criação, os Jergs crescem a cada ano, inclusive no número de modalidades oferecidas. Hoje, os jogos envolvem atletismo, basquetebol, bocha paralímpica, futsal, handebol, tênis de mesa, voleibol e xadrez. O campeonato é disputado em quatro etapas: por município, por Coordenadoria Regional de Educação (CRE), por região e a final, que abrange os melhores no Estado de cada região. Depois, também ocorre a etapa pré-seletiva, com os campeões dos Jergs daquele ano, para, então, ser realizada a Seletiva RS, que é o cruzamento das escolas públicas e das privadas, para os Jogos Escolares da Juventude (etapa nacional).
Além de ser bom para a saúde, o esporte promove a cidadania, segundo Danusa. “O aluno chega mais perto do professor, que lhe mostra a realidade do mundo lá fora, onde tu tens regras, respeito ao teu adversário, a ti mesmo e à hierarquia, como no esporte. A própria cidadania se constrói ali, o caráter, os valores”, observa. Este processo torna os Jergs um projeto “estritamente pedagógico”, na opinião da assessora esportiva.
Mas os Jergs não se tratam apenas de esportes: são também uma oportunidade para estudantes de todo o Rio Grande do Sul, mesmo das cidades mais isoladas, conhecerem pessoas novas e outras realidades, sejam elas de outras escolas ou outras cidades, ou mesmo Estados. “No ano passado, por exemplo, uma menina da cidade de Braga foi participar de uma competição em Blumenau (SC). Veio o prefeito trazer a menina, uma estudante que nunca tinha saído de Braga. Imagina a experiência que ela teve e vai levar por toda a vida?”, comenta Danusa.
Ainda que valorize a educação tradicional, com quadro e caderno, a coordenadora dos Jergs considera o esporte como um complemento fundamental para a formação de um estudante. “É uma expansão do mundo deles. Não interessa se são melhores ou piores na quadra, são iguais nos seus objetivos, veem que tem mais gente ali como eles e, assim, abrem suas perspectivas”, pontua a assessora esportiva.
Atual secretário de Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul, o bicampeão mundial de judô, João Derly, também participou dos Jergs, o que o levou a representar o Brasil no projeto piloto dos Jogos Mundiais da Juventude, em 1998. “Quero parabenizar a Seduc pelos 50 anos dos Jergs, essa importante competição a qual beneficia a muitas crianças do nosso Estado, que podem participar de uma competição que vai marcar a sua vida”, salienta. Para Derly, os jogos proporcionam o aprendizado do ganhar e do perder, “fundamentais na formação de cada um”.
Esporte ajuda a formar caráter e cidadania
O presidente da Federação Gaúcha de Voleibol (FGV) e conselheiro federal de Educação Física, Carlos Alberto Cimino, teve longa trajetória de atuação nos Jergs. Iniciou em 1976 como árbitro e passou por cargos como auxiliar de coordenação, coordenador e diretor de departamento ao longo das décadas de 1980 e 1990. Na época em que começou, o nome da competição era Campeonato Escolar Gaúcho e envolvia, na etapa nacional, longas viagens de ônibus com 300 estudantes.
“Normalmente os Jogos Escolares Brasileiros, que hoje se chamam Jogos da Juventude, ocorriam em Brasília. Eram 36 horas de viagem, com seis ônibus cheios de adolescentes. Era uma operação de guerra: levávamos cozinheiro, médico, massagista, além de técnicos e professores. Mas era uma experiência incrível”, recorda Cimino.
Assim como Danusa, o presidente da FGV relaciona a prática esportiva à formação de caráter e cidadania, a partir de vivencias como a vitória e a derrota. “Quando enfrentamos o dia a dia, passamos por situações negativas e positivas. Se, através do esporte, a criança ou o adolescente conseguem vencer essas barreiras, terão melhor desempenho como cidadão”, avalia.
Cimino fala da importância dos Jergs na descoberta de novos talentos gaúchos para o esporte. “Hoje, o adolescente tem internet, vídeo game e outros aparelhos. Já não brinca no meio da rua, como antigamente. Então, os Jergs são fundamentais para chamar a atenção deles para o esporte”, destaca. Para o educador físico, é nos jogos escolares que as federações esportivas enxergam a vocação de um jovem para uma modalidade.
Por: Seduc