A inflação de mais de 12% acumulada no último ano tem obrigado consumidores a deixar de comprar até produtos mais básicos, segundo mostra um levantamento da empresa de inteligência de mercado Horus. Itens como carne de boi, leite longa vida e óleo estão menos presentes nos carrinhos de supermercado em comparação com abril do ano passado. No mesmo período, também houve aumento no preço médio desses produtos.
A partir da análise de 35 milhões de notas fiscais em todo o Brasil, a Horus verificou que, no mês passado, o leite estava presente em 14,2% dos carrinhos. Em abril de 2021, essa incidência era 1,7 ponto percentual maior, de 15,9%. No mesmo período, o preço médio do litro passou de R$ 4,29 para R$ 7,25 – um aumento de quase 69% em um ano, ainda de acordo com a pesquisa.
O cenário é semelhante para o óleo e para a carne bovina: a presença do primeiro nos carrinhos de supermercado passou de 7,1% para 6% em um ano; da segunda, de 5,9% para 5,3%. Ao mesmo tempo, o valor médio do litro de óleo foi de R$ 9,60 para R$ 16,81 (+75,1%), enquanto o quilo da carne saltou de R$ 29,66 para R$ 31,47 (+6,1%).
“A inflação está muito difusa, muito espalhada nos produtos. Vai ficando uma situação difícil para o consumidor, porque vai atingindo aqueles produtos mais básicos. Está tudo muito caro”, disse Luiza Zacharias, diretora de Novos Negócios da Horus.
Incidência nos carrinhos (abr/21 – abr/22)
- Leite longa vida: 15,9% – 14,2%
- Óleo de cozinha: 7,1% – 6%
- Carne bovina: 5,9% – 5,3%
Preço médio por litro ou quilo (abr/21 – abr/22)
- Leite longa vida: R$ 4,29 – R$ 7,25
- Óleo de cozinha: R$ 9,60 – R$ 16,81
- Carne bovina: R$ 29,66 – R$ 31,47
Menos produtos x estoque
Luiza Zacharias explica ainda que a alta generalizada dos preços criou uma situação “quase paradoxal”: enquanto as famílias mais pobres estão comprando menos produtos, aquelas com mais recursos têm preferido fazer estoque, adquirindo determinados itens em grande quantidade e de uma só vez, para se proteger da inflação.
É o caso do feijão e do azeite: a incidência média desses itens é menor agora do que em abril de 2021, mas o número de mercadorias compradas aumentou.
Esse cenário “sugere menos carrinhos com os produtos, porém em maiores quantidades, para abastecimento”, segundo a pesquisa da Horus.
“Quem está com dinheiro muito curto vai reduzindo a quantidade e a frequência de consumo de alguns itens, porque a renda não comporta o mesmo que comportava há um ano. Ao mesmo tempo, as famílias que têm uma condição um pouco melhor voltaram a fazer aquela compra do mês que se fazia antigamente, para fugir um pouco da inflação”, analisa a especialista.
Incidência nos carrinhos (abr/21 – abr/22)
- Feijão: 4,7% – 4,6%
- Azeite: 1,9% – 1,4%
Quantidade média de itens comprados (abr/21 – abr/22)
- Feijão: 2,1 – 2,2
- Azeite: 1,2 – 1,3
“As famílias com mais recursos começam a buscar embalagens mais econômicas, com maiores quantidades, para se proteger da alta dos preços, porque não sabem se dali a mês vão conseguir comprar a mesma quantidade de coisas”, diz Luiza.
Cesta básica mais cara
Um levantamento feito na semana passada já havia mostrado como a inflação está atingindo fortemente produtos considerados primários, como aqueles que integram a cesta básica.
A batata inglesa foi o item que mais subiu entre março e abril, saltando 18,28% no período, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O tomate, que já foi vilão da inflação, também teve forte alta: 10,18%. O preço do leite longa vida subiu 10,31% entre março e abril – a segunda maior alta entre os produtos que compõem a cesta básica. O leite em pó também ficou mais caro, mas com variação bem menor, de 1,6%.
A banana ficou mais barata no mês passado, ainda de acordo com o IBGE. As quedas variam de 2,37%, no caso da banana d’água, a 8,46% para a banana-maçã. Apenas a banana-da-terra registrou alta (3,96%).
Fonte: O Sul