Infarto, câncer e outras doenças não respeitam quarentena, diz diretor técnico do HC

Médico Paulo Dall´Agnol reforça importância de que, neste momento, as pessoas não adiem exames, consultas e cirurgias sem orientação profissional. Sintomas importantes também não devem ser ignorados

Muitas pessoas têm evitado buscar atendimento médico em razão da pandemia de coronavírus. Tal comportamento começa a se revelar um dos efeitos colaterais mais preocupantes da pandemia, colocando vidas em risco, especialmente em razão de outras doenças, como infarto do miocárdio, câncer e acidente vascular cerebral (AVC).

Só no Hospital de Caridade de Erechim houve queda de 60% nos atendimentos do Pronto-Socorro entre janeiro e abril de 2020, se comparado com igual período do ano passado. Exames e cirurgias eletivas também têm registrado considerável redução.

Atento a este quadro, o diretor técnico do HC, Paulo Dall´Agnol, orienta que as pessoas sigam realizando acompanhamento ambulatorial, a exemplo daqueles que sofrem de cardiopatias (doenças do coração) e enfermidades autoimunes, oncológicas, renais, vasculares e respiratórias. Segundo Dall ´Agnol, exames, consultas e cirurgias só devem ser adiadas com orientação médica. Sintomas importantes também não podem ser desconsiderados, explica o especialista. “Entendemos o receio de muitos pacientes em procurar atendimento neste momento. O problema é que outras doenças graves não respeitam a quarentena e precisam ser tratadas no seu tempo, sob pena de que o quadro se agrave”, pontua Dall´Agnol.

O médico, que compõe o Comitê de Enfrentamento à COVID-19 do Hospital de Caridade, tranquiliza a comunidade lembrando que a instituição adotou protocolos nacionais e internacionais para tratamento da pandemia. O HC também viabilizou áreas específicas, com leitos de UTI e clínicos, para atendimentos de pacientes com o coronavírus, garantindo a segurança e a qualidade para este público e a dos demais usuários dos serviços da instituição, que seguem funcionando normalmente. “Quem precisar do HC pode contar com a gente”, completa Paulo Dall´Agnol.

Números que preocupam

Em se tratando das patologias do coração, as principais causas de morte no Brasil e no mundo, levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI), e divulgado pela BBC News, mostra diminuição de 50% na realização de angioplastia primária (procedimento feito em caráter de emergência durante o infarto) em março, e de 70%, em abril, na comparação com o mesmo período de 2019. Os dados fizeram soar o alerta de que os pacientes não estariam procurando os serviços médicos para receber tratamento. A hipótese é reforçada porque o fenômeno tem sido identificado em outros locais. Nos EUA, por exemplo, o número de atendimentos de emergência de parada cardíaca domiciliar cresceu quatro vezes e o de mortes nessa situação, oito vezes.

No caso do câncer, pelos dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), de março para cá foram realizadas, nas redes pública e privada, 70% menos operações e entre 50% e 90%, dependendo do serviço, de biópsias para diagnóstico da doença. Só do câncer de mama, a Sociedade Brasileira de Mastologia aponta diminuição de 75% nos atendimentos em hospitais públicos de pacientes em rastreamento e tratamento para a enfermidade nos meses de março e abril, em relação ao ano passado.

Emergências não podem ser negligenciadas

Diante desse cenário, diversas entidades de saúde brasileiras destacam que médicos, hospitais e clínicas precisam manter os atendimentos aos pacientes com doenças graves e casos emergenciais não relacionados à COVID-19.

A medida, conforme o superintendente geral do HC, Claudiomiro Carus, é acertada – sendo que o Hospital de Caridade está cumprindo à risca a orientação. “Estamos de portas abertas para garantirmos a assistência e atendermos quem precisar de nossos serviços, seja em situação de urgência ou em procedimentos eletivos”, pontua o administrador.

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