Hotéis proibindo crianças? Caso de Gramado reacende discussão no setor; entenda

Estabelecimento da Serra decidiu limitar a hospedagem apenas ao público a partir de 14 anos; especialistas explicam a questão

Após um estabelecimento de Gramado, na Serra, anunciar que decidiu limitar a hospedagem apenas ao público com 14 anos ou mais, voltaram a circular nas redes sociais questionamentos a respeito da restrição de crianças em locais privados, sobretudo turísticos. Afinal, por que alguns hotéis estão deixando de aceitar crianças como hóspedes e qual o propósito?

O assunto vem dividindo opiniões. De um lado, muitos defendem a ideia, entendendo que existem opções voltadas para famílias com crianças, portanto, consideram válidas as experiências destinadas a casais ou viajantes que buscam tranquilidade.

De outro, alguns interpretam isso como uma forma de discriminação ou intolerância com as crianças, argumentando que não se pode excluir os pequenos desses ambientes e que isso limita seus horizontes. De toda forma, especialistas explicam que isso não é algo novo, embora seja uma tendência atual no setor hoteleiro.

A existência de espaços “childfree” – ou “livre de criança”, na tradução literal, não é recente e não é algo exclusivo do setor hoteleiro. Muitos restaurantes ou passeios turísticos também limitam a entrada de menores de idade. Trata-se de algo comum, principalmente em destinos considerados românticos.

 

Impactos no setor

Além de hóspedes e viajantes, o debate vem dividindo especialistas da área. Conforme o presidente do Sindicato da Hotelaria do Estado do RS (Sindihotel), Manuel Suárez, caso essas restrições se fortaleçam, o setor hoteleiro da região perde muito.

— A Região das Hortênsias perderia muito faturamento, boa parte dos apartamentos ficariam desocupados se houvesse essa proibição. Torna-se um péssimo negócio. O ideal é que seja uma sugestão, que os hotéis sugiram experiências direcionadas a casais, mas que não tenham restrição contra crianças. Que sirva de orientação para os hoteleiros — afirma.

Quanto aos pets, fica a critério de cada estabelecimento proibir ou não, mas não aceitar receber crianças não faz sentido, entende Suárez. Ele recomenda que os turistas devem buscar opções adequadas ao tipo de viagem que buscam, seja corporativa, seja para lazer, como férias com a família, ou turismo de eventos.

Conforme o presidente do Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes da Serra Gaúcha (SindTur), Cláudio Souza, a decisão de não aceitar crianças no hotel é totalmente legítima.

— Eles possuem outros dois hotéis na rede que atendem muito bem as crianças, que estão realmente focando na experiência de famílias que serão melhor atendidas dessa forma. E existem outros estabelecimentos em Gramado que são temáticos, focados no atendimento a crianças, que darão mais conforto às famílias — afirma o presidente da entidade, que responde pela região das Hortênsias.

 

Nicho de mercado

Agências de viagem consultadas pela reportagem enxergam o movimento “childfree” com bons olhos, tendo em vista que atende a uma demanda por um turismo mais nichado, que oferece experiências para diferentes perfis de público – para casais, grupos de amigos ou viajantes solitários.

— Existe uma mudança no comportamento de consumo do viajante. Os hotéis estão se adaptando a isso. Da mesma forma que há hotéis focando no público adulto, tem outros se especializando em receber famílias com crianças. São resorts com estrutura para isso, com equipes de recreação o dia todo, inclusive há vários na Serra Gaúcha — afirma a diretora de produtos em destino da Decolar, Daniela Araujo.

Prova disso é o crescimento de hotéis que aceitam pets e contam com infraestrutura para isso, destaca. No caso dos estabelecimentos que hospedam apenas adultos são espaços que buscam proporcionar sossego.

Estes locais, normalmente, contam com ambientes silenciosos, passeios e atividades relacionadas ao relaxamento que não seriam possíveis com crianças junto. Para Daniela, “é bom para todo mundo”, porque assim cada pessoa pode buscar a hospedagem

mais adequada à viagem que pretende fazer, qualquer que seja o objetivo.

De acordo com a vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens do Rio Grande do Sul (ABAV-RS), Rita Vasconcelos, é fundamental que o cliente entenda o tipo de serviço ou hospedagem que está adquirindo antes de fazer a compra.

— Não vemos como discriminação, a não ser que não houvesse outras opções voltadas a atender crianças. Vemos como uma oferta para um público seleto, específico, é um nicho de mercado — explica.

Conforme o gerente da agência Girotrip Turismo, Diego Adams, viajar com crianças ou bebês impõe necessidades que devem ser levadas em consideração no momento da escolha da hospedagem. Viajar com os filhos pode impactar no roteiro da viagem, na programação, horários e infraestrutura do local escolhido.

Por GZH