Homens gays podem ser padres desde que não transem, informa o Vaticano

O Vaticano aprovou novas diretrizes dos bispos italianos que permitem que homens gays entrem nos seminários desde que se abstenham de sexo, em um ajuste inesperado à forma como a Igreja Católica global considera possíveis futuros padres.

Embora o Vaticano não tenha proibido explicitamente a entrada de homens gays no sacerdócio no passado, uma instrução anterior de 2016 dizia que os seminários não podem admitir homens que tenham “tendências homossexuais profundamente arraigadas”.

As novas diretrizes, publicadas sem aviso no site da Conferência dos Bispos Italianos na quinta-feira (9), informam que os diretores dos seminários devem considerar as preferências sexuais de um candidato a sacerdote, mas apenas como um aspecto de sua personalidade.

“No que diz respeito às pessoas com tendências homossexuais que se dirigem ao seminário ou descobrem tal situação durante sua formação […], a Igreja, respeitando profundamente as pessoas em questão, não pode admitir no seminário ou no sacerdócio aqueles que praticam a homossexualidade, apresentam tendências homossexuais profundamente enraizadas ou apoiam a chamada cultura gay”, afirma o documento de 68 páginas.

Os bispos italianos disseram que aprovaram o documento em novembro. O texto é acompanhado por uma nota do gabinete do clero do Vaticano, confirmando que as diretivas são válidas por um período experimental de três anos. O Papa Francisco, líder da Igreja Católica desde 2013, foi creditado por ter uma abordagem mais acolhedora em relação à comunidade LGBT e permitiu que os padres abençoassem casais do mesmo sexo caso a caso.

Embora as leis que descriminalizam a homossexualidade e legalizam as uniões homoafetivas tenham se tornado comuns no Ocidente, a Igreja Católica ainda não acompanhou essas mudanças dos tempos.

Mas a admissão de homens gays no sacerdócio continua a ser um assunto tabu. Os padres que são gays muitas vezes expressam medo de discutir a sua sexualidade. Francisco aprovou a instrução do Vaticano de 2016, que foi em grande parte uma atualização de um documento anterior emitido pelo Papa Bento XVI em 2005.

O papa apelou a uma avaliação cuidadosa dos candidatos a seminaristas e, no passado, alertou veementemente os padres que mantêm relações sexuais a abandonarem o sacerdócio. Francisco usou duas vezes, em 2024, um termo vulgar e insultante em relação aos gays, aconselhando os homossexuais que desejam ser sacerdotes a procurar um “psicólogo”.

Em junho, durante um encontro privado com 200 sacerdotes na Universidade Pontifícia Salesiana de Roma, o papa argentino usou o termo “frociaggine”.

Essa palavra, que pertence ao dialeto de Roma, é difícil de traduzir. É derivada de “frocio”, um insulto que significa “bicha” em romano e que se refere de forma pejorativa a um ambiente dominado por “bichas” ou “afeminados”.

“Os gays são bons rapazes, e buscam o Senhor. Mas é melhor orientá-los para um bom pai espiritual, para um psicólogo”, em vez de aceitá-los no seminário, acrescentou, de acordo com o jornal italiano Corriere della Sera.

Francisco pediu desculpas por ter usado esse termo pela primeira vez durante um encontro a portas fechadas com bispos italianos, e o Vaticano garantiu que ele nunca teve a intenção de ofender ou de se expressar com comentários homofóbicos.

Esses comentários foram repercutidos por meios de comunicação em todo o mundo, provocando decepção e indignação entre associações defensoras dos direitos da comunidade LGBTQUIA+.

 

 

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