Governo do Rio Grande do Sul formata mudanças na bandeira vermelha

Sob pressão de todos os lados, Executivo tenta evitar descontrole com volta da cogestão

O governo do Estado define nesta semana quais serão os novos parâmetros do modelo de Distanciamento Controlado para o enfrentamento da pandemia do coronavírus, que atinge seu pior momento no RS. Apesar das pressões políticas e de setores econômicos no sentido contrário, o estabelecido até agora é que as medidas sejam mesmo de regras mais rigorosas nos protocolos da bandeira vermelha do modelo, uma vez que o governo se prepara internamente para curvas ascendentes de números negativos pelo menos até a metade de abril, e para alcançar a marca de 20 mil mortos ao longo das próximas semanas. O entendimento entre técnicos é de que há verdadeiros “saltos” em partes dos protocolos de determinadas atividades entre a bandeira vermelha e a preta que precisam ser corrigidos em função do alto risco de transmissão que embutem.

A avaliação por enquanto é de que não ocorram mudanças nos protocolos da bandeira vermelha para a indústria, para a construção civil ou para os serviços domésticos. Os últimos já tiveram flexibilização significativa inclusive nos protocolos de bandeira preta. Na indústria e na construção civil, as regras para as bandeiras vermelha e preta são muito próximas ou idênticas. Já os serviços de modo geral estão sob análise e parte deles tende a ter os protocolos de bandeira vermelha ajustados de forma a aumentar o rigor. Ainda não há definições específicas, e o cruzamento de informações se estenderá por toda a semana. Mas são alvo de especial atenção bares, lancherias e restaurantes; serviços de higiene pessoal, como cabeleireiros e salões de beleza; auditorias e consultorias; academias; clubes recreativos; e casas de espetáculos e similares em ambientes abertos, entre outros.

O entendimento é de que as vezes pequenos ajustes, somados, podem ter um efeito de contenção que alivie um pouco os números. Apesar disto, a pressão de diferentes setores econômicos e políticos é tão forte que entre técnicos que trabalham nos protocolos, as adequações são comparadas a “caminhar sobre cacos de vidro.” “O governo determinou esta parada e não podemos perder o que conseguimos nas duas últimas semanas. É necessário fazer algo que consiga conter de forma bem mais eficiente a transmissão. O modelo será mais rigoroso nos protocolos da bandeira vermelha e vamos precisar de muita colaboração dos prefeitos” adianta o titular da nova Secretaria de Desenvolvimento Regional, Luiz Carlos Busato (PTB).

Especialistas alertam para possibilidade de situação grave se perpetuar até meados de maio

As alterações nos protocolos da bandeira vermelha precisam estar formatadas até o final da semana, para que já valham a partir da próxima semana. Isto porque no dia 22, conforme anunciado pelo próprio governador Eduardo Leite (PSDB), o Estado retoma o sistema de cogestão. Nele, as prefeituras, agrupadas por regiões, podem decidir pela aplicação dos protocolos da bandeira imediatamente mais branda do que aquela registrada semanalmente no modelo de Distanciamento Controlado.

“Para conter a transmissão precisamos diminuir muito mais a circulação. Com um bom isolamento, é possível descer a curva em duas semanas. Mas o fato é que por enquanto não temos este isolamento ideal no Estado. Se não ocorrer uma mudança no comportamento, seguiremos em uma situação grave até meados de maio”, adianta a médica, professora e reitora da UFCSPA, Lúcia Pellanda, integrante do Comitê Científico do governo do Estado.
“Por melhor que sejam os protocolos de bandeira vermelha, com o retorno da cogestão a expectativa é de que aumente a transmissibilidade em relação ao momento atual. É bem evidente inclusive que a reabertura de setores aumenta a transmissibilidade.  E, importante: já com a taxa atual, o sistema de saúde conviverá com sobrecarga até o final de maio, porque a desocupação de leitos é muito lenta. Porém, se a transmissão aumentar, isto vai perdurar por ainda mais tempo”, alerta a professora do Departamento de Estatística e do PPG em Epidemiologia da Ufrgs, Suzi Camey, que integra o Comitê de Análise de Dados do governo.
Fonte: Correio do Povo 
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