O Rio Grande do Sul enfrentou frio abaixo de zero no fim de semana com geada. Ontem, o estado teve máxima de 32,4ºC. Hoje, um dia frio em algumas áreas do território gaúcho e quente em outras. No fim de semana, o ar quente voltará a tomar conta do estado com muito calor, em especial no domingo. No começo da semana que vem, uma frente fria trará chuva e queda de temperatura.
São muitas oscilações de temperatura em curto período. Um dia frio, outro quente, em uma verdadeira gangorra térmica que testa a saúde das pessoas e contribui para um alto número de casos de doenças respiratórias durante o inverno.
Diante de tantas oscilações no tempo e na temperatura no estado, muitas pessoas afirmam que o tempo “enlouqueceu”, embora a atmosfera não seja sensitiva para estar sã ou louca. Afinal, o tempo ficou “louco” no Rio Grande do Sul com tantas mudanças de temperatura em tão curto período. A resposta é um rotundo não. O Rio Grande do Sul está numa região de transição climática, nas latitudes médias da América do Sul.
Com isso, sofre a influência de massas de ar frio e quente o ano inteiro. Em um inverno normal, predominam as massas de ar frio, embora ocorram dias de calor, especialmente em agosto e setembro. No verão, o predomínio do tempo quente com episódios esporádicos de tempo mais ameno, tanto que há muitos precedentes de geada em pleno janeiro ou fevereiro nas áreas de maior altitude.
Estas mudanças bruscas de temperatura ocorrem principalmente em meses de outono, inverno e começo da primavera, mas são mais marcantes em agosto e setembro, período de transição e agosto para a primavera. Por isso, nesta época do ano são comuns estas variações sucessivas e repentinas de temperatura.
Há um “duelo” entre a massa de ar seco e quente que cobre o Brasil Central habitualmente no auge da estação seca e as massas de ar frio que seguem avançando das regiões polares para as latitudes médias da América do Sul. Já houve episódios de o Rio Grande do Sul estar em agosto com intenso calor em um dia, com máximas acima de 30ºC, e apenas 30 horas depois estar nevando nas partes mais altas do estado, na Serra.
A grande onda de frio de julho de 2000, uma das mais intensas das últimas décadas, foi precedida por calor. Joaquim Francisco de Assis Brasil (1857-1938), ex-governador do Rio Grande do Sul, costumava classificar o clima do estado de “anárquico”, dadas as grandes variações do tempo que presenciou ao longo de sua vida um século atrás. Estas mudanças bruscas do tempo acabaram por render no imaginário popular o ditado “temos as quatro estações em um mesmo dia”. O tema foi, inclusive, questão do vestibular da UFRGS, em 2004.
Há um século, os jornais da época comentavam destas “maluquices do tempo” no Rio Grande do Sul. Em julho de 1923, quando o noticiário dos jornais era muito diferente dos tempos atuais, no Correio do Povo era publicada uma nota sobre tônico para o cabelo que era ideal para a “época de mudanças bruscas e repentinas de temperatura”.
Assim, o que hoje se enfrenta no presente já era a regra no passado. O que há de diferente nos tempos atuais é que os extremos tendem a ser mais acentuados pelas mudanças climáticas. Ou seja, não há nenhum fenômeno novo, mas os que sempre existiram tendem a ser tornar mais extremos.
Fonte: MetSul.Com