Fortalecendo Raízes – Etnia Negra

Muito antes da emancipação de Erechim, muito antes da comissão de terras e de qualquer imigrante europeu pisar na atual capital da amizade, estas terras já eram habitadas.

Muito embora pouco difundido, talvez por não fazer parte da história oficial da colonização e de acordo com a legislação imposta na época, sabemos comprovadamente que habitantes de diversas etnias viviam na antiga Colônia de Erechim. Índios Kaingangs, bandeirantes paulistas, fugitivos das Revoluções Farroupilha e Federalista. Além disso, muitos negros aqui chegaram após a assinatura da Lei Áurea, fugindo da escravidão, já que os fazendeiros do Rio Grande do Sul foram os últimos a reconhecer a legitimidade da lei e a liberdade para todos os que eram mantidos como escravos.

Relatos colhidos em documentos no arquivo histórico municipal, tratam que já em 1893 haviam remotas comunidades de negros nas terras do atual município de Barão de Cotegipe. Com o avanço das demarcações de terras na região do Alto Uruguai, ainda pertencente ao município de Passo Fundo, mais aumentava a percepção da presença de negra na região. Exemplo disso é o fato de que entre 1910 e 1912, foi relatada a presença de uma comunidade nas imediações da antiga ponte do Rio Dourado. Ponte esta que provavelmente fora construída pela comunidade que ali vivia.

Chamados de intrusos, por não fazerem parte do plano de colonização, muitas destas pequenas comunidades foram extintas, pelo receio de seus componentes ou pela ação do estado. Outras porém, resistiram e com muito trabalho, perseveraram e colaboraram para termos o Erechim que hoje conhecemos.

Inicialmente trabalhando somente em seus roçados com culturas de subsistência, aos poucos quebrando um preconceito com os imigrantes e representantes do estado, passando a trabalharem juntos em serviços braçais necessários para a construção da área urbana e abertura de novas estradas.

Logo, os negros já passam a prestar mão de obra para as indústrias que já se instalavam. Em pouco tempo também passam a ocupar cargos no governo municipal.

Com suas comunidades cada vez maiores e mais organizadas, uma característica muito marcante deste povo, é o culto às suas origens e à religiosidade. Os afrodescendentes trouxeram de seus antepassados e conseguiram manter viva, mesmo vivendo em regime de escravidão, toda a alegria de sua cultura e suas crenças.

Seguindo o crescimento desta cultura e em mais uma demonstração de força e organização, em 1949, foi criado o clube 13 de Maio. Local frequentado apenas por pessoas negras, assim como acontecia com os clubes e associações de cada etnia colonizadora, o 13 de Maio era o ambiente ideal para festas, casamentos, bailes e atrações culturais. Nele também, tratavam-se assuntos relativos ao crescimento e desenvolvimento de sua comunidade: trabalho, estudo, esporte e convivência.

O Clube 13 de Maio foi extinto a alguns anos, mas isto não significa que a comunidade negra perdeu a organização ou deixou tão bela cultura no passado, muito pelo contrário. Hoje em Erechim existem vários grupos culturais representativos: MENE – Movimento Étnico-cultural dos Negros de Erechim, Centro de Cultura Africana, Grupos de Capoeira Angola, e Núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas nas universidades de Erechim. Estes grupos tem a responsabilidade de perpetuar a cultura, contar a história dos negros no Alto Uruguai e enfatizar a importância que tiveram ao longo do tempo para a construção, em todos os sentidos, do nosso município.

Ao pesquisar e conversar com os representantes dos grupos Afro aqui representados, percebe-se a importância e seriedade na condução dos assuntos relativos à cultura que representam. A representatividade crescente em todos os setores da sociedade, sempre com foco no trabalho estudo e perfeição em tudo o que fazem hoje, nos remete ao que fora ensinado e trabalhado no Clube 13 de Maio.

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