Fibromialgia: a doença que fez Lady Gaga cancelar show no Brasil

Desconhecido ou pouco debatido, o tema Fibromialgia veio à tona durante a semana na redação do Jornal Boa Vista. Até mesmo no calendário Internacional da Saúde existe o Dia Mundial da Fibromialgia, instituído com a finalidade de conscientizar a população sobre a existência da doença, 12 de maio. Pensando nisso e com intuito de promover a troca de experiências e informações, entrevistei o Médico Reumatologista, Dr. Renato Smith Davoli, que há pouco tempo chegou a Erechim e já está montando seu consultório no Centro Hospitalar Santa Mônica.

O que de fato é a Fibromialgia?

A Fibromialgia até pouco tempo não tinha nome, era considerada aquele paciente poliqueixoso, que não tinha diagnóstico, ia ao consultório, se queixava de muitas dores, fazia um check-up completo com resultado normal, sem alterações laboratoriais. O médico por vezes não sabia o que o paciente tinha e encaminhava a outro especialista. Passava por vários profissionais até finalmente chegar ao Reumatologista para fechar o diagnóstico, tratar o paciente e compensá-lo. É claro, o paciente Fibromiálgico é aquele um pouco desacreditado no tratamento médico, pois nada melhora, acha que tem uma doença grave e acaba por vezes, se tornando depressivo ou, procurando medicina alternativa.

A Fibromialgia se confunde com reumatismo?

O reumatismo é um conjunto de doenças na qual a Fibromialgia faz parte. Um termo popular, comum, que as pessoas falam é ‘reumatismo no sangue’, porém pode envolver vários tipos de reumatismo, desde uma osteoartrite (artrose, desgaste, bico de papagaio, como muitos dizem), até um reumatismo mais grave como lúpus eritematoso sistêmico.

Como é um dia típico de quem tem Fibromialgia?

A doença causa inflamação nos tendões do corpo, com sensação de dor na musculatura. Cada caso é um caso, mas já vi Fibromialgia numa pessoa que tinha dor inexplicável numa das pernas, realizou exames investigativos sem resultado. Então, foi tratado com antidepressivo, pensando na Fibromialgia e funcionou. Há também casos avançados onde não é possível realizar os afazeres do dia-a-dia, fica travado na cama, dói tudo, a dor é estranha, pula de um lado para o outro, um dia está na perna, no outro nas costas, no braço e às vezes, no corpo todo. No início, dizíamos que para o diagnóstico da doença deveria haver 11 pontos dolorosos, num total de 18. Atualmente, há pessoas com diagnóstico de Fibromialgia, mas não necessariamente com os pontos dolorosos. Com isso, nos baseamos na história que o paciente conta, pois não existe um critério específico ou abordagem diagnóstica. Fibromialgia é um diagnóstico de exclusão, você exclui todas as outras doenças e o paciente ainda está com dor, provavelmente é Fibromialgia.

Qualquer pessoa, em qualquer faixa etária, pode desenvolver a doença?

Em crianças é muito difícil, particularmente nunca vi, mas em jovens e idosos sim, inclusive acima dos 60 anos. É a doença do homem moderno, mais frequente entre as mulheres e relaciona-se ao emocional. Aquela pessoa que era acostumada a fazer uma coisa, passa a fazer outra e se decepciona, ou que sofre um choque emocional muito grande, alguma perda, separação ou, só trabalha e não se diverte, tende a desenvolver a Fibromialgia.

A dor é real ou é ‘coisa’ da cabeça da pessoa?

É uma pergunta tão boa que é briga no afastamento do INSS. Não existe nenhum exame que se faça que comprove a dor. Existem algumas termografias que avaliam áreas inflamadas pelo corpo, através de infravermelho, mas isso não faz diagnóstico de dor. Pois, se eu realizar exercício físico meia hora antes do exame, automaticamente as áreas musculares estarão positivas ao exame, inflamadas. Não é aceito como exame padrão ouro para diagnóstico. É preciso acreditar no paciente e tratá-lo da melhor maneira possível. A dor é imensurável e subjetiva, o meu tipo de dor é diferente do seu. Existe uma escala analógica de dor com um rosto feliz e outro triste. Assim, o paciente vai classificando sua dor, de forma subjetiva e, ao longo do tempo, é possível classificar se a dor está diminuindo e o tratamento sendo eficaz.

Recentemente, a cantora Lady Gaga cancelou um show que faria no Brasil por causa da doença. A atitude foi considerada por muitos fãs um exagero, você concorda?

Não sei há quanto tempo ela tem Fibromialgia e qual tratamento está sendo realizado, mas, se já é avançada, chega ao ponto sim de cancelar shows, como acontece com inúmeras pessoas que precisam deixar algumas atividades de lado.

A depressão está relacionada à Fibromialgia?

A depressão está diretamente relacionada, se a pessoa não trata corretamente a Fibromialgia, ela acaba se transformando em depressão, tanto que um dos tratamentos é os antidepressivos. É claro, cada caso é um caso e vamos avaliando o que é mais viável para o paciente se sentir confortável e com melhora da dor. Fibromialgia tem cura, mas demora, envolve não só medicações orais, mas exercícios físicos.   Muitos começam o exercício físico, piora a dor e desistem. Inicialmente, usamos um pouco de relaxante muscular, antidepressivos, até a pessoa perceber que está melhorando. Com o tempo o exercício tira a dor e consequentemente, não é necessário o uso de medicamentos. Dizem que não tem cura, mas não acredito.  O emocional tem grande influência, se você é negativo no seu pensamento, você nunca será curado e ainda pode atrair outras coisas negativas, como câncer, por exemplo. Mas se o pensamento for positivo há grandes chances de curar. Nossa mentalidade tem que ser positiva.

É bastante comum o companheiro(a) não acreditar que a dor do parceiro(a) possa limitá-lo

A doença é mais comum em mulheres e acredito que a melhor alternativa é o parceiro(a) acompanhar o Fibromiálgico na consulta, para esclarecer dúvidas. No início do tratamento a pessoa está muito mal, então há um afastamento entre o casal. Relações sexuais são dificultosas, porque só o toque, abraço dói, incomoda muito. É um período que exige cautela, entendimento que a doença é real e que a pessoa está sofrendo. Muitos pacientes não conseguem explicar ao parceiro ou, não querem contar por medo de separação ou desgosto. Por isso, é essencial o acompanhamento médico para que seja realizado um planejamento.

Qual o cenário atual da Fibromialgia?

Tem aumentado muito, pois na correria do dia-a-dia as pessoas estão deixando de fazer coisas que uma vez faziam. Sair à noite para ir ao cinema, jantar fora, tirar férias mais de uma semana, freqüentar piscina, barzinho ou, local que relaxe, sem ser o trabalho. As pessoas estão mais estressadas e com mais dor. Por isso a prática do exercício físico e ter alegria no seu viver são tão importantes. Se pensar só na dor, vai afundar na depressão. Se você sai do ambiente que te traz dor, pode reparar, a dor passa.  Se o ambiente que eu estou descontente é o meu trabalho e eu saio para caminhar na praça, a dor passa, mas quando voltar, a dor volta. Têm muito a ver com o descontentamento, situações que precisam ser resolvidas.

Por Carla Emanuele