Evento em Erechim debate saúde mental após situações de emergências e desastres

O Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRPRS) promove nesta semana, dias 06 e 07/12, a Gira Psi em Erechim. A atividade é gratuita e acontecerá no Blue Open Hotel (Rua Gaurama, 335 – Centro). A ideia do evento é refletir sobre a saúde mental pós-enchentes e outras situações de emergências e desastres e destacar o importante papel da Psicologia na atuação em situações de emergências e desastres, como as vivenciadas neste ano no Rio Grande do Sul. Inscrições e programação podem ser acessadas em crprs.org.br/girapsi.

“Com as enchentes cada pessoa foi afetada de uma forma singular. Algumas podem se sentir sobrecarregadas, confusas ou amedrontadas, outras, ansiosas, por exemplo. O modo como as pessoas são afetadas e como reagem a situações extremas depende de um conjunto de fatores, como a severidade e a natureza da situação de crise ou a vivência de vulnerabilizações anteriores que são potencializadas”, explica a presidenta do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul, psicóloga Míriam Cristiane Alves.

Para Míriam, populações já vulnerabilizadas antes das enchentes, por aspectos como raça, gênero ou classe, enfrentam maior dificuldade para acessar serviços intersetoriais que promovam atenção psicossocial e garantia de direitos. “Esses episódios não atingiram todas as pessoas da mesma forma. As condições de vida de cada um foram determinantes para as possibilidades de recuperação. Além disso, a complexidade da situação vivenciada requer a articulação de uma rede composta de diferentes atores, organizações e instituições, sobretudo a articulação com o poder público, pois essas ações não se reduzem a intervenções pontuais, mas sim a médio e longo prazo.”

Segundo dados do IASC (Comitê Permanente Interagências criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas), em situações dessa natureza, 75% da população atingida tende a desenvolver respostas adaptativas e se recuperar sem necessidade de atendimento especializado, elaborando o vivido a partir dos seus recursos internos e externos. Já 25% podem demandar atendimento especializado, principalmente em decorrência de questões como ansiedade, luto prolongado, depressão (em alguns casos, com ideação suicida) e estresse pós-traumático.

Eventos extremos, como os vividos, provocam reações esperadas e adaptativas. “Essas reações variam de acordo com a singularidade dos sujeitos, mas podem incluir manifestações fisiológicas (como alterações no sono e apetite) e também manifestações comportamentais e emocionais (como retraimento/isolamento, oscilações de humor, excitabilidade/agitação e hipervigilância). É importante ressaltar que essas são reações adaptativas, etapas constituintes da elaboração do trauma, e não estados patológicos. Dizer que são reações esperadas significa dizer que a ciência já demonstrou de forma robusta que diferentes pessoas, diante de diferentes contextos de trauma e crise, tendem a apresentar essas reações, ou seja, elas são ‘normais’, no linguajar popular, e ‘normativas’, de acordo com a ciência psicológica.”

O desafio, agora, é avançar da fase de resposta à fase de reconstrução, auxiliar em projetos de reconstrução individuais e coletivos, a partir do protagonismo das pessoas atingidas. “São projetos complexos, de construção concreta e simbólica, desde a reconstrução de moradias, pontes, avenidas, bairros e cidades até a reconstrução de memórias, planos futuros, pertencimento e laço social. A Psicologia teve e segue tendo papel essencial nesse processo, assim como na ampliação do entendimento do que é saúde mental, relacionando esse conceito ao bem-viver, ou seja, ao convívio em harmonia com a natureza”, afirma Míriam.

Por Assessoria de Comunicação