Na última quarta-feira (4), foi realizado na Câmara Municipal de Vereadores de Erechim o I Encontro Regional de Lideranças Femininas. A atividade, desenvolvida também pela Associação de Municípios do Alto Uruguai (AMAU) e pela Pastoral da Juventude, tem como objetivo planejar ações concretas para o enfrentamento aos crescentes casos de violência contra mulheres. Participaram inúmeras lideranças da região, além de representantes de entidades e coletivos de Erechim. Mediado pela vereadora Sandra Picoli (PCdoB), o evento teve início com uma mística que sensibilizou os participantes com uma mensagem impactante ao som de um áudio produzido pela Polícia Militar de Santa Catarina, além de poesias sobre a temática em questão. Contribuíram com explanações a única prefeita da região, Adriana Kátia Tozzo, de Itatiba do Sul, a delegada especializada no atendimento à mulher, Raquel Kolberg, e a juíza da 2ª Vara Criminal da Comarca de Erechim, Lilian Paula Franzmann.
Em sua fala, Raquel apresentou dados preocupantes da delegacia a qual realiza seu trabalho: até o dia 31 de outubro de 2019, foram registrados 70 casos de estupro em andamento, mais de 50 mandados de busca e apreensão de armas, 25 prisões efetuadas e 26 autos de prisão em flagrante. Segundo a delegada, “se não for minha, não vai ser de mais ninguém” é a frase que mais consta nos registros de ocorrência, fato que evidencia o sentimento de posse de homens em relação às mulheres na maioria das situações. “Temos percebido uma crescente nos casos. E não é mais só ameaça. Chegam denúncias e notícias de estupro, tortura e feminicídio. Quem se omite, está com as mãos sujas de sangue. É fundamental tomarmos medidas eficazes no Alto Uruguai”, afirmou. Já Lilian chamou a atenção para casos envolvendo a população LGBTQI+, ainda mais pelo fato de o Brasil ser o país que mais registra homicídios de pessoas transgêneras. “A expectativa de vida das pessoas que se encaixam no padrão hegemônico é de 76 anos, enquanto a de pessoas transsexuais e travestis é de apenas 35. Infelizmente, a única ação sobre esse fato é o silêncio”, lamentou a juíza.
Uma das idealizadoras do encontro, a vereadora Sandra considerou o evento bastante produtivo, devido às diversas possibilidades apresentadas pelas participantes. “Tivemos uma pluralidade de representações que só vem a somar, porque isso une forças em relação à pauta. Estamos avançando, mesmo que lentamente, mas esse é o caminho: provocar, chamar à discussão e ouvir para poder agir. Saio deste evento mais animada e fortalecida para a luta”, avaliou. A atividade ocorreu em alusão aos 16 dias de ativismo pelo fim da violência de gênero que é promovido globalmente por meio de campanhas, a partir da ONU Mulheres. Depois das provocações das profissionais, foi realizado um trabalho em grupo para o levantamento de propostas em relação aos seguintes eixos: educação, saúde, segurança pública, cultura, política e trabalho. A grande necessidade percebida no debate foi a efetivação de uma Casa de Acolhimento Regional e um Centro de Referência que consiga dar amparar e proteger as mulheres em situação de risco. Além disso, foi criada uma comissão de articulação a fim de levar a demanda adiante, em reunião na AMAU, posteriormente à Assembleia Legislativa e ao Congresso Nacional.