Empresário erechinense analisa impactos do “tarifaço” dos EUA e critica falta de estratégia do Brasil

Junior Carbonari, do ramo de importação e exportação, falou sobre as tarifas americanas em entrevista à Rádio Cultura; para ele, governo falhou ao não se antecipar e negociar com pauta clara

O empresário erechinense Junior Carbonari, atuante no ramo de importação e exportação, concedeu uma entrevista à Rádio Cultura nesta quinta-feira (31) e analisou os impactos da nova taxação imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Durante o programa Estúdio Boa Vista, Carbonari criticou a falta de preparo do governo brasileiro nas negociações e alertou para os efeitos da medida no mercado nacional.

“Tarifas não beneficiam nenhum dos lados”, diz empresário

Carbonari destacou que, embora 694 produtos brasileiros tenham sido isentos da tarifa por interesse dos EUA, outros seguirão taxados, o que pode gerar impactos mistos na economia:

“Tarifa nunca é boa para nenhum lado, nem para americanos e nem para brasileiros. Se não tivermos uma melhor negociação, uma melhora do rating do Brasil perante os EUA, vamos sentir os efeitos – em alguns casos de forma positiva, em outros, negativa.”

Segundo ele, a medida tem motivações políticas e econômicas:

“O que estamos vendo é monetização de ambos os lados. Um por palanque eleitoral e outro por questões pessoais. Quem está ganhando com isso são pessoas envolvidas no processo.”

Falta de estratégia do Brasil nas negociações

O empresário analisou a postura do governo brasileiro – sem viés partidário – e afirmou que o país perdeu a chance de negociar com antecedência:

“O governo deveria ter tomado atitudes antecipadas, não para ceder a demandas, mas para chegar aos EUA com uma pauta clara. Fomos de última hora, sem propostas. Não é assim que se negocia.”

Carbonari comparou a relação Brasil-EUA a uma disputa desigual:

“Temos que entender que há duas forças no mundo: a Oriental, liderada pela China, e a Ocidental, pelos EUA. O Brasil representa 1/3 do PIB mundial, mas agir sem estratégia é como ‘chamar o Mike Tyson para a briga todo dia’. Uma hora ele aparece e nos dá uma lição.”

Dificuldade de realocar produtos brasileiros

Sobre a possibilidade de redirecionar exportações para outros mercados, como a China, Carbonari foi cético:

“É muito difícil substituir mercados rapidamente. No caso da carne, por exemplo, os EUA compram apenas o quarto dianteiro do boi brasileiro, usado para hambúrgueres. A China não vai absorver essa produção – eles já anunciaram que estão com deflação e excesso de oferta.”

Ele reforçou que realocar produtos exige tempo:

“Como realocar 200 mil toneladas de um produto específico? Trocar mercados pode levar anos. O erro do governo foi, primeiro, não se antecipar e, segundo, achar que outros países resolveriam o problema.”

Brasil precisa de mais preparo nas relações internacionais

Carbonari encerrou destacando a necessidade de o Brasil fortalecer sua posição global, com diplomacia estratégica e negociações bem estruturadas.

“Precisamos parar de reagir e começar a agir. O mundo não espera – e quem perde é o nosso mercado.”

Onde ouvir a entrevista completa?
A conversa na íntegra está disponível no facebook da Rádio Cultura e Jornal Boa Vista.

Por: Edson Machado da Silva

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