Em prosa e verso: Gildinho, de Os Monarcas

Enxuga o rosto querida não mostra o pranto que solta

Reza por mim no ranchinho, no caminho deus me escolta;

Diz um ditado da vida

Que a maior dor da partida é a incerteza da volta

(Os Monarcas, 1995)

 

Nésio Alves Corrêa, mais conhecido por seu nome artístico Gildinho (nome que teve sua inspiração no ícone Gildo de Freitas, outro cantor brasileiro), compunha como parte dos integrantes do grupo “Os Monarcas”. Nascia na década de 40, ali pertinho no município de Soledade, 2 horas e 30 minutos de seu maior sonho: vir para Erechim e se tornar um cantor profissional.

Cantor, acordeonista e fundador do grupo “Os Monarcas”, gaiteiro de coração, dizia de boca aberta que nunca se aposentaria desse grande galpão, “Nem penso em aposentadoria (risos). Só vou parar de tocar no dia em que pai lá de cima decidir que é hora. Enquanto isso estarei na estrada e animando os bailes com a minha gaita” em uma entrevista com o Prosa Galponeira[1].

E nesses ranchos aqui do nosso Sul, bailou lindamente sem parar, e o pai lá de cima decidiu que era hora, aos 82 anos, após a luta contra o câncer[2] (um tumor, de início, na tireoide), faleceu e foi velado na tarde de 12 de janeiro de 2025, em um domingo. As últimas despedidas ocorreram no CTG Sentinela da Querência no município de Erechim.

Gildinho, sua história continua e vai muito além desse 12 de janeiro. Um baita gaúcho, de grande coração, com sua gaita na mão encanta quem o ouve, trouxe a essa querência do campo pequeno muito orgulho da tradição, fruto de anos de trabalho, sempre fiel a esse chão.

Erechim te recebeu de braços abertos, entre rádios e jornais você foi recebendo seu merecido reconhecimento, jovem e cheio de sonhos deu um pontapé em sua carreira na nossa cidade, essa nossa Erechim, e foi pro grande mundão, mostrando os pampas riograndenses para a mais nova geração.

Agora, Erechim tem a honra de te pegar nos braços novamente, niná-lo como um pequeno piá desse ranchão, cantar-lhe uma boa trova e aconchegar-te nos braços da boa mãe que tanto acreditas. Depois de tanto pelejo, abra essas grandes porteiras do céu, sopram os ventos de saudades, mas descanse em paz, que aqui tu já fizeste tua parte, vai-se embora sorrindo como quem sabe as bênçãos da herança desse chão, meu bom senhor.

Entre aspas

Obra do Criador

Nos pampas do Rio Grande, na terra onde eu nasci

Sopra o vento minuano arteiro igual guri…

Faz reboliço onde passa e de fato nem disfarça

Que gosta mesmo é daqui…

Há quem olhe e se encante com o bailado das folhas

Que meio a contento são cabresteadas pelo vento…

Oh! Minuano aguerrido quando me pego distraído

Viajo na tua garupa a onde a vista alcançar…

Sei que é aqui na minha querência amada

Que um dia vou repousar…

(Inoema Jahnke)

Kaylani Dal Medico.

Discente do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UFFS Erechim.

Bolsista do Projeto de Extensão “Dizer a sua palavra”: democratização da cultura popular e da comunicação

kaylanidalmedico@hotmail.com

[1] https://www.prosagalponeira.com.br/2013/09/entrevista-com-gildinhoos-monarcas.html

[2] https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2025/01/12/a-musica-foi-a-grande-paixao-da-vida-dele-colegas-e-familiares-se-despedem-de-gildinho-fundador-do-grupo-os-monarcas-no-rs.ghtml

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