Em missas e procissões, fiéis católicos expressam fé na Eucaristia na atual situação social

A solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo congregou muitos católicos em missas e procissões de fé, louvor e compromisso com o sacramento da Eucaristia, com ornamentação especial, principalmente os tradicionais tapetes no recinto das igrejas e pelas ruas, nesta quinta-feira, último dia de maio, mês dedicado a Maria. Em Erechim, foram 4 procissões de manhã e três de tarde. Às 9h, houve missa na igreja N. Sra. da Salette, Bairro Três Vendas, com procissão no seu entorno. No mesmo horário, missa nas igrejas São Cristóvão, N. Sra. Aparecida, Bairro Bela Vista e Catedral, das quais partiram procissões para o Santuário de Fátima, onde muitos fiéis participaram da missa e aguardaram a chegada das procissões para bênção com o Santíssimo Sacramento. Às 14h30, houve missa e procissão nas igrejas São Pedro e Santa Luzia, Bairro Atlântico. Às 15h, no Bairro Progresso. Dom José presidiu a missa na Catedral, concelebrada pelo Pároco e um padre do Centro Diocesano, com a participação de dois diáconos, religiosos e fiéis que lotaram o amplo espaço litúrgico. Depois da celebração, Dom José conduziu a Santa Hóstia na procissão até o Santuário, onde dirigiu sua mensagem a todos e deu a bênção com o Santíssimo Sacramento.

Bispo Diocesano de Erexim lembra Ano do Laicato e momento nacional nas cerimônias de Corpus Christi: Na homilia na Catedral e na mensagem no Santuário, quinta-feira, na missa e bênção da solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, Dom José exortou os fiéis a alimentar a fé com o Pão da Vida, a Eucaristia, pela qual podem aprender a doar-se aos outros como Cristo. Convidou-os a se abandonarem a Deus, Pai misericordioso que acolhe com abraço de ternura e compaixão. Lembrou o contexto da celebração, o Ano Nacional do Laicato e o momento de incertezas e apreensões na realidade nacional. Para o Bispo, como peregrinos da esperança, todos caminharam com Cristo Eucarístico, que dá seu Corpo e Sangue na comunhão do altar. Comunhão que impulsiona a praticar a caridade, a ter compaixão pelos que padecem, a trabalhar para que a justiça e a paz frutifiquem em nosso país, e o nosso povo, já tão sofrido e machucado por tantas promessas e poucas realizações, não se deixe subjugar pela corrupção e pela violência que alimentam a ganância e o desprezo pela vida de muitos em benefício de poucos.

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Íntegra da homilia de Dom José na Catedral

Saúdo os sacerdotes, os diáconos, os irmãos e irmãs que estão celebrando conosco esta Solenidade do “Corpus Christi” aqui na Catedral São José. Neste momento de apreensão e incertezas na nossa realidade nacional, queremos colocar diante do Senhor a vida do povo brasileiro, com suas dores, frustrações e esperanças.

A Solenidade que estamos celebrando nos remete ao tempo pascal quando recordamos que: “O Senhor Jesus Cristo, no admirável sacramento da Eucaristia, nos deixou o memorial da sua Páscoa”. A Igreja Católica no Brasil, neste Ano Nacional do Laicato, com olhar cheio de ternura de mãe, convida seus filhos para adorar, isto é, tomar consciência da grandeza do dom que nos é oferecido, para que a obra da redenção – fruto da Páscoa de Cristo – traga sempre mais benefícios na vida pessoal e social dos seus filhos e filhas que vivem neste grande País.

A Eucaristia é para a Igreja a garantia da ligação com o seu Senhor. Na verdade, a partir do Pentecostes, ela não cessa de celebrar a Eucaristia até o dia do seu ingresso no banquete do Reino. Existe uma profunda ligação entre a contemplação do Deus amor e o Cristo presente no sacramento. A Eucaristia é, na verdade, o meio – sacramento – através do qual a vida de Deus é derramada na nossa própria vida, a ponto de fazer da Igreja o corpo de Cristo, por meio do corpo místico de Cristo. Como diz Éfrem, o Sírio: “O fogo e o Espírito estão no nosso batismo, mas também no cálice estão o fogo e o Espírito.

Quando a Igreja nos convida a nos colocarmos numa relação particular com o mistério da Eucaristia, o faz na esperança de que cada batizado possa ter a graça de alimentar a sua vida espiritual, a sua fé, a sua proximidade com o Senhor Jesus, tomando consciência e ratificando o caminho de uma vida errônea diante deste dom que nutre e fortifica a vida de todo batizado. Mas, quantas vezes, corremos o risco de esquecer, ou, por fraqueza na fé, deixar de alimentar a nossa comunhão com o Senhor, com o Pão da Vida, como nos recordam as fortes palavras de Santo Agostinho: “O mistério que vós sois está nas vossas mãos”.

A Eucaristia é o sacramento pelo qual aprendemos a viver como Cristo, doando a vida e amando até o fim (cf. Mc 14,13;15 – Jo 13,1). Através da Eucaristia, o mesmo Deus – em Cristo Jesus – se coloca em nossas mãos, entra no nosso corpo para que possa assemelhar-se ao seu e fazer-se uma só coisa com todos os irmãos e irmãs. Na verdade, comungar o Cristo ressuscitado significa fazer entrar em nós uma semente de vida incorruptível, que deseja encontrar na nossa vida o terreno bom e fértil no qual produzir frutos em abundância.

A semente da ressurreição colocada dentro do nosso corpo quer ser em nós semente de “imortalidade”, como escreveu Santo Inácio de Antioquia e isto “em virtude do próprio sangue” (Eb 9,12). Este fermento fará a sua obra somente quando a nossa vida for uma vida de ressuscitados, ou seja, marcada pela mesma lógica do Cristo: a autodoação, o dom total de si, o deixar-se tomar na forma de um alimento e de uma bebida. Comer e olhar para ser absorvido e absorver uma presença do Mistério que nos transforma, em comunhão com todos os irmãos e irmãs, no mesmo corpo de Cristo, no caminho rumo à unidade. Um Deus que aceita ser colocado nas nossas mãos não deixa de esperar de nós a mesma coisa: que tenhamos a confiança de nos colocarmos e nos abandonarmos nas mãos de um Pai misericordioso, que acolhe, num abraço de ternura e compaixão, os seus filhos e filhas, nas alegrias e prantos, nas derrotas e vitórias da vida.

A presença de sangue acompanhou a vida cultural e cultual de Israel, e de certa forma traz uma ligação com a Páscoa. A aliança pascal foi renovada no Sinai quando Moisés “pegou o sangue e aspergiu o povo” (Ex 24,8), lembrando a aliança que o Senhor tinha feito com o povo, na terra da escravidão, mas que deveria ser mantida durante o caminho do êxodo e também ao chegar na terra prometida. Manter a aliança com o Senhor, significa ouvir a sua Palavra, e deixar que ela oriente a nossa vida, de povo de Deus, de peregrinos famintos e saciados com o Pão da Palavra e o Pão da Eucaristia – Cristo Jesus.

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.

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Íntegra da mensagem no Santuário

Saúdo os queridos irmãos e irmãs aqui presentes, que vieram em procissão de várias Paróquias da cidade de Erexim e de outras para participarem conosco deste momento de fé. Minha saudação também aos que nos acompanham através das Rádios Virtual FM e Difusão, de modo especial os enfermos, seus familiares, os que trabalham na área da saúde, na segurança pública, os trabalhadores/as da cidade e do campo, os empresários, os estudantes, os encarcerados, os desempregados, os saciados de pão e os famintos de paz e justiça.

Nesta manhã, como peregrinos da esperança, caminhamos acompanhando o Cristo Eucarístico, Senhor da vida, do tempo e da história, que anda conosco e acolhe em seu coração misericordioso as dores e as alegrias da nossa jornada. Do silêncio do Sacrário e do Pão da Eucaristia, sentimos tua presença Senhor Jesus, que renova as nossas forças e refaz a nossa esperança de continuarmos o nosso caminho de discípulos e discípulas, testemunhando^, por palavras e obras, o Evangelho que anunciaste ao mundo.

Queridos irmãos e irmãs, comungar o Corpo e o Sangue de Cristo significa dar lugar no nosso coração à semente incorruptível, que deseja encontrar em nosso corpo e em nosso sangue a terra boa para produzir abundantes frutos de amor, capaz de fazer a caridade, de ter compaixão pelos que padecem, de trabalhar para que a justiça e a paz frutifiquem em nosso país, e o nosso povo, já tão sofrido e machucado por tantas promessas e poucas realizações, não se deixe subjugar pela corrupção e pela violência que alimentam a ganância e o desprezo pela vida de muitos em benefício de poucos.

As palavras de Jesus, na vigília da sua paixão, da qual fazemos memória em cada celebração da eucaristia, recordam que no seu mistério pascal o dom que desde sempre Deus fez ao seu povo torna-se um dom para todos no sinal do “Corpo” e do “Sangue”.

Jesus partilhou a sua vida por amor e nos permite fazer o mesmo, unindo-nos intimamente ao seu Corpo e ao seu Sangue. Hoje, em nome da nossa fé, percorremos as ruas da cidade levando o Sacramento do amor, e o fizemos para lembrar e adorar um Deus que é Pai e é amor. E que manifestou este amor num gesto humano e divino, unindo o céu e a terra, no sofrimento da cruz, na glória da ressurreição, na ausência e na presença, na vida dos fortes e na fé silenciosa e perseverante dos pequenos e humildes, como a jovem Maria de Nazaré, que colocou a vida nas mãos da sua providência, porque confiou nele, que ama e que jamais abandona seus filhos e filhas, que vivem neste mundo, mas, não cansam de ir ao encontro dele e querem caminhar com ele até chegar à pátria definitiva.

Queridos irmãos e irmãs, no dia a dia caminhamos por tantos motivos, mas penso que o caminhar de hoje teve um objetivo mais nobre, acompanhar o Senhor Jesus, presença real na Palavra na Eucaristia. O caminhar exigiu esforço de todos nós. Podemos sair daqui e chegar em casa com os pés cansados, mas com o coração gratificado por ter podido caminhar com Jesus.

Estimado irmão, estimada irmã, leva a bênção e a paz do Senhor no teu coração, partilha-as com os teus irmãos e irmãs para que possam sentir sua presença de amor no meio de nós.